A taxa de letalidade da Covid-19 entre gestantes e puérperas é a pior desde o início da pandemia, mas ainda assim a vacinação neste grupo está bem abaixo do esperado, o que preocupa ginecologistas e obstetras. No país, apenas 6% delas receberam ao menos uma dose da vacina.
Até o último dia 17, o país computava 1.412 mortes maternas por Covid. Só neste ano, foram 959 óbitos, um número 111,7% maior do que o de 2020 inteiro (453).
No mesmo período, mais do que dobrou a taxa de letalidade nesse grupo –de 7,4% para 17%, segundo o Observatório Obstétrico Brasileiro Cofvid-19, com base em dados do Ministério da Saúde.
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De acordo com dados do Ministério da Saúde, até esta segunda (21) cerca de 170 mil gestantes haviam sido vacinadas. Os números não incluem o estado de São Paulo.
Uma das hipóteses para explicar a baixa adesão à vacinação é que a morte por trombose de uma gestante no Rio de Janeiro após a vacinação e a disseminação de notícias falsas nas redes sobre a imunização têm assustado as gestantes e as mães que tiveram bebês recentemente.
A relação da morte com vacina está sendo investigada pelo Ministério da Saúde, mas, por recomendação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a aplicação da vacina da AstraZeneca/Oxford foi suspensa nesse grupo no dia 11 de maio. Não há nenhuma restrição em relação às vacinas Coronavac e Pfizer.
A situação levou a Sogesp (Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo) a realizar um mutirão de emergência a partir desta terça (22) para esclarecer dúvidas das gestantes e mães.
"Têm circulado muitas fake news. Eles invertem dados de estudos, inventam que a vacina causa aumento de aborto, de malformações fetais. Isso assusta", afirma a obstetra Rossana Pulcineli Francisco, presidente da Sogesp.
A médica diz que ela e os colegas têm recebido diariamente centenas de mensagens de grávidas e puérperas com muito medo e angústia.
"Fica claro que elas são alvo de campanha de contrainformação, via fake news, de grupos contrários à imunização. Diante disso, temos de reagir já. Mobilizamos nossos especialistas e faremos plantão online, uma 'live de emergência'."
A médica Fátima Marinho, pesquisadora da Vital Strategies que tem estudado mortes maternas e infantis pelo novo coronavírus, lembra que o Brasil tem tradição em imunizar gestantes com vacinas que usam vírus atenuado, como a da gripe, e que elas se mostram muito seguras.
"Por isso não se espera problemas com a Coronavac. Além disso, as gestantes estão na lista de prioridade da vacinação nos Estados Unidos desde o início do ano, e eles não tiveram problema nenhum com a vacina da Pfizer. O Brasil deveria priorizar essa vacina para as gestantes."
Para Marinho, é muito importante que as autoridades públicas olhem com atenção para esse grupo, já que as mortes maternas por Covid-19 estão em alta no país.
De acordo com a pesquisadora, também há indícios de óbitos maternos tardios, que ocorrem após o período de puerpério (até 45 dias após o parto) e não estão entrando nas estatísticas desse grupo.
A morte de bebês por Covid após o nascimento é outra situação que tem gerado preocupação em sua observação. "Eles estão sendo infectados dentro de casa. Se a lactante [a mãe] é vacinada, ela protege também o bebê."
Em São Paulo, as lactantes maiores de 18 anos com até dois anos de amamentação passaram a ter prioridade na fila de espera para doses remanescentes da vacina desde a última sexta (18).
Segundo Rossana Pulcineli, outro fator que pode estar atravancando a vacinação de gestantes e puérperas é a exigência, em muitos municípios, de encaminhamento ou relatório médico para a aplicação das doses. São Paulo, que começou a imunizar esse grupo no último dia 7, é um deles
"Na rede privada, o acesso aos médicos é mais fácil. Nas unidades básicas, teria que agendar, passar por consulta. Isso leva tempo, expõe a gestante [a lugares com aglomeração]. E não existe razão técnica para isso. Essas gestantes estão correndo muito mais riscos sem a vacinação", diz.
Desde o início da pandemia, 1 em cada 5 gestantes e puérperas que morreram por Covid-19 não teve acesso a unidades de terapia intensiva (UTI) e 33% não foram intubadas, o último recurso que poderia salvá-las.
Entre março de 2020 e 16 de junho de 2021, foram 14.042 casos de Srag (Síndrome Respiratória Aguda Grave) por Covid e 1.412 óbitos (10,1%).
Houve ainda mais 11.785 de registros com 296 mortes entre gestantes e puérperas com Srag não especificada –que, de acordo com a avaliação dos pesquisadores, pode ser também casos de Covid-19.
Os encontros virtuais promovidos pela Sogesp acontecem entre os dias 22 e 25 de junho e no dia 28, sempre às 19h. Três ginecologistas e obstetras vão esclarecer as dúvidas das gestantes e puérperas.
As transmissões ocorrerão nas redes sociais da Sogesp: Facebook; no Instagram e Youtube.