Para os mais chegados ao mundo dos quadrinhos, a revista Wizard é uma referência. A publicação norte-americana traz todos os meses dezenas de bons artigos e reportagens, fotos de filmes em produção, bastidores das grandes editoras, qual o artista e a revista do momento. Tudo o que um típico leitor de HQs gosta de saber. E, pela terceira vez, o guia tenta ganhar vida em territória nacional.
Em 1996, a editora Globo, numa época em que até se cogitou no Brasil um duelo com a Abril - semelhante como acontece entre a Marvel e a DC nos Estados Unidos -, publicou 15 edições mensalmente antes de anunciar o cancelamento da revista, alegando alta do dólar, do papel, entre outras coisas. Essa primeira Wizard nacional trouxe, basicamente, o mesmo formato que a versão gringa, inclusive com as mesmas matérias veiculadas por lá, apenas traduzidas.
A diferença com o material publicado nos Estados Unidos foi mínima e teve relativo sucesso no Brasil, com bastante informação, ainda mais numa época em que a internet não era assim tão popular como hoje. O que faltou mesmo foi o conteúdo nacional, que ainda era bastante escasso.
Já a segunda versão da revista foi um natimorto. Publicado pelo grupo Hangar 18, nem mesmo chegou na segunda edição. Porém, já nessa encarnação, a Wizard teve matérias nacionais e também manteve parte da estrutura já experimentada pela editora Globo. Infelizmente, já nessa época, o formato não teve tanto sucesso porque boa parte das informações veiculadas na revista já puderam ser vistas na internet, com custo comparativamente mais baixo e de forma mais veloz e atualizada. Ou seja: o roteirista que estava sendo cogitado para tal história em uma matéria da Wizard já tinha sido descartado em notícias de sites especializados.
Diante do improvável sucesso, a editora nacional Panini Comics mais uma vez foi corajosa por assumir tal projeto, assim como tem feito com toda sua linha de quadrinhos. Na contramão da economia, a empresa resolveu disponibilizar entre as dezenas de títulos nas bancas uma publicação que não traz histórias e sim notícias sobre elas.
Público a Panini tem a certeza de ter mas a maior dúvida agora é: qual é o formato e o conteúdo ideal? Como competir com a velocidade da internet? O que os brasileiros querem saber sobre quadrinhos?
Essas questões vão ecoar durante todo o período experimental dessa nova Wizard. Principalmente porque essa primeira edição tem cara de ''teste''. Ainda sem uma linha editorial nítida definida, a revista traz uma matéria sobre as filmagens do novo filme do Homem-Aranha, informações sobre o tão aguardado crossover entre Liga da Justiça e Vingadores e dados a respeito das novas aventuras do Super-Homem, pelas mãos do roteirista Brian Azzarello e Jim Lee. Ou seja, tudo o que também pode ser visto na internet.
Para diferenciar, a editora resolveu publicar histórias inéditas e que não teriam chance de figurar por aqui (principalmente porque são de artistas famosos mas de qualidade bem inferior aos títulos mensais). Nessa primeira edição algumas páginas são dedicadas aos X-Men, ao Homem-Aranha e ao Batman.
Mais uma vez os artigos e reportagens, que são materiais exclusivos, diferenciais entre o impresso e o online atualmente, ainda são minoria. Há alguma tentativa com textos pra lá de despretensiosos de especialistas sobre assunto no Brasil, como Sidney Gusman (responsável pelo site Universo HQ) e Marco Moretti, famoso por estar em projetos anteriores de quadrinhos. Para tentar ajudar também estão matérias da versão gringa - como os bastidores do filme Homem-Aranha 2 - e o famoso ''teste de elenco'', em que o roteirista Geoff Johns escolhe possíveis atores para um futuro filme sobre Os Vingadores.
Para uma revista de 84 páginas, em formato americano e ao preço de R$ 5,90 é uma leitura até bastante interessante e aprazível, não fosse o maior problema enfrentado por centros ''menos comerciais'' do que Rio e São Paulo. A publicação tem a tal ''distribuição setorizada'' em que, resumindo, as sobras das ''capitais nacionais dos quadrinhos'' são enviadas para consumo em outras localidades com quase dois meses de atraso, como o que aconteceu em Londrina, por exemplo. Isso também ocorreu com Wolverine: Arma X, Asilo Arkham, Thundercats, entre outros. E é, com certeza, uma das coisas que pode levar essa nova Wizard para o túmulo mais rápido do que devia novamente.
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