Todo quadrinho bom não envelhece e merece ser relido várias vezes. Assim acontece com clássicos como O Cavaleiro das Trevas (Frank Miller), Sandman (Neil Gaiman) e Watchmen (Alan Moore), que vai ganhar sua terceira edição no Brasil a partir de março.
Com o recente aumento de interesse - e consequentemente de mercado - sobre as histórias em quadrinhos, principalmente devido ao sucesso das conversões para o cinema, a Via Lettera Editora resolveu lançar novamente a maxissérie, desta vez em quatro volumes. Será uma boa oportunidade para os colecionadores e fãs de quadrinhos adquirirem o que é considerada a maior história de super-heróis de todos os tempos e, para os novos leitores, uma chance de vislumbrar esse mundo fantástico através da perturbada e genial ótica de Alan Moore.
Watchmen projeta os heróis de fantasia para o mundo real e mostra como seria nossa realidade se realmente dependêssemos desses vigilantes para sobreviver às ameaças. No entanto, algumas coisas não acontecem exatamente como imaginamos ou lemos nas revistas de super-heróis e as máquinas governamentais durante a Guerra Fria são essenciais para entender toda a paranóia e a corrupção pela qual passam os personagens durante a obra.
A trama é a seguinte: o Comediante, um dos heróis fantasiados dos anos 60 já aposentado, é assassinado misteriosamente. A partir daí, outros vigilantes começam a ser caçados sem razão aparente e um deles, o psicótico Rorschach, decide investigar os crimes por conta própria. Para completar o cenário, um decreto proibiu novos heróis fantasiados e, acima do que realmente aconteceu, as primeiras experiências com os vigilantes são utilizados como propaganda ideológica.
A série revolucionou a forma de mostrar os heróis. Aqui eles são falíveis, inseguros e muitas vezes imprudentes. Um dos protagonistas, Rorschach, é obsecado, metódico e tem o sangue frio de um assassino. O Dr. Manhattan, por exemplo, é um ser poderosíssimo usado pelo governo norte-americano como possível arma biológica.
Além disso, a arte de Dave Gibbons, com cores de John Higgins, aproximou o modo de contar histórias com a sétima arte. Inúmeras sequências sequer têm balões e a muito da história é contada pelas sutilezas das imagens. Exemplo disso é a memorável passagem em que Rorschach precisa fugir da prisão e o faz sem dizer uma palavra mas com muita astúcia e precisão.
Moore e Gibbons também inovaram na narrativa, quando usaram eficientes tramas secundárias: um garoto lê um gibi sobre piratas com uma história metafórica durante toda a série, assim como textos apresentados em forma de prosa, uma espécie de anexo em todas as edições para complementar e enriquecer o universo criado pelos autores.
O impacto de Watchmen foi tão grande para a época que os quadrinhos deixaram de ser encarados apenas como uma fútil diversão infanto-juvenil para tornar-se uma poderosa linguagem cultural. A partir daí vieram em massa os chamados ''quadrinhos adultos''.
Como uma referência na arte sequencial, a versão cinematográfica não deve demorar a chegar. David Hayter (X-Men e X-Men 2) está trabalhando no roteiro e cogitou a dirigir a produção, que deve começar a ser rodado ainda este ano, em Praga. Pouco se sabe sobre o filme, mas os nomes Sigourney Weaver (Alien) e Daniel Craig (Tomb Raider) foram ventilados para interpretar Silk Spectre e Rorschach, respectivamente.
A série fez tanto sucesso nos Estados Unidos, quando foi lançada em 1985, quanto no Brasil, em sua primeira publicação, em 87 e 88. Depois de dez anos de espera, a Editora Abril resolveu reeditar o material e disponibilizou a série no formato original, com todas as 12 edições e capaz, em 98. E agora os leitores podem comemorar uma vez mais.
Música+Quadrinhos: Black Box Recorder+Watchmen