Curitiba - O que o Velho Oeste norte-americano tem a ver com os brasileiros? Em ''Bang Bang'', tem tudo a ver. Não, não se trata da insossa novela global das sete da noite e sim da antologia que reúne 11 quadrinistas tupiniquins, um deles paranaense. O material foi publicado nos Estados Unidos pela editora Terra Major e, agora, chega às prateleiras nacionais pela Devir Livraria.
''Bang Bang'' usa como cenário o western americano para tratar de temas universais, como violência, discriminação, respeito, entre outras coisas. Tudo com um foco diferenciado, fora do padrão dos clichês de faroeste, com uma pitada do ''jeitinho brasileiro''. Para isso, o editor e roteirista Shane Amaya convocou dez ilustradores brasileiros e três escritores para narrar pequenos contos de época. Assim, reuniram-se, além de Amaya, Bruno D'angelo, Kako, Ricardo Giassetti, Jeremy Nisen, Clayton Camargo Júnior, Gabriel Bá, Fábio Moon, Pam Noles, Fábio Cobiaco, Rafael Coutinho, Grampá, Jefferson Costa e Peov.
''O western americano é como mitologia grega. Você pode tratar de qualquer tema. Muita coisa escrita sobre o Velho Oeste pode é ficção pura, romantização sobre um período na história dos Estados Unidos. Assim, fica fácil tratar de temas mais modernos dentro deste contexto e ainda abusar de estereótipos e da iconografia'', explica Gabriel Bá, que repete a parceria com Amaya, com quem já produziu o álbum ''Rolando'', recentemente publicado no Brasil.
O curitibano Clayton Camargo Júnior, radicado em São Paulo, onde trabalha como ilustrador, concorda com Bá e afirma que a cultura transmitida por filmes de faroeste como os de Sérgio Leone ajudam a criar o cenário para contar todo o tipo de história. ''Muitos (dos artistas da antologia) usaram só o estilo (western), outros o clichê do cinema. Minha história é mais baseada na cultura pop dos Estados Unidos.''
Clayton, que já trabalhou com animação na MTV Brasil e não publicava uma história há dois anos, desde seu último material veiculado no almanaque curitibano ''Entropya'', destaca que a antologia não só traz à tona uma gama de bons autores nacionais como também incentiva os artistas a trazerem o material ao grande público.
''Empolga fazer isso. Ninguém parou de fazer, mas de publicar. O pessoal sempre continuou fazendo, mas de brincadeira, e agora foi legal que deu pra publicar. Facilitou fazer com todos os brasileiros porque sozinho você precisa de um material volumoso. Todo mundo tem projetos pessoais e precisa ter muita disciplina. E junto foi mais tranquilo. Foi bom também para conhecer pessoalmente gente que conhecia por nome, como o Cobiaco, que encontrei na reunião do projeto'', ressalta Clayton.
Aliás, a reunião do grupo brasileiro também evidência o que pode ser o começo de uma nova fase no quadrinho nacional, ainda muito dependente das referências dos ''Três Amigos'' - Laerte, Angeli e Glauco. Desde a saída de Lourenço Mutarelli do mundo underground da Nona Arte, a partir do início dos anos 90, vários autores têm conseguido ganhar espaço, vide os gêmeos paulistanos Bá e Moon, o carioca André Diniz, os curitibanos Antônio Éder e José Aguiar, entre outros.
''Acho que o livro (Bang Bang) é um exemplo de artistas diferentes fazendo um trabalho de qualidade. Tem muita gente querendo fazer quadrinhos, enquanto os 'Três Amigos' continuam fazendo somente tiras. Com o tempo, isso vai ficar mais claro, a diferença entre essas duas vertentes. No 'Bang Bang', as pessoas querem fazer quadrinhos, querem contar histórias. Mas todos os artistas ali dentro têm o Laerte e o Angeli, 'Chiclete com Banana', 'Circo' e 'Animal' (quadrinhos nacionais famosos nos anos 80) como parâmetro de quadrinho nacional'', comenta Bá.
Com o belo resultado, cheio de passagens cinematográficas e traços todos bem produzidos e estilizados, no preto-e-branco, os leitores brasileiros agora esperam por mais, quem sabe por editores nacionais que procurem reunir grupos como o de ''Bang Bang''. ''A vontade existe, foi uma experiência ótima para todos. Projeto real, ainda não'', diz Bá.
Enquanto isso, no embalo do lançamento, o pessoal continua produzindo, ''Todo mundo se empolgou ali. Estou fazendo uma história aos poucos, nada pretensioso. Eu e o Grampá (com quem o artista divide apartamento) trocamos idéias, a gente pira nas histórias antes mesmo do livro ser publicado'', finaliza Clayton, que logo deve estar com material novo no pedaço.
Serviço: ''Bang Bang'' é publicação da Terra Major, pela Devir Livraria, tem 184 páginas e custa R$ 28.
''Bang Bang'' pode ser encontrada em Curitiba na Itiban Comic Shop: Av. Silva Jardim, 845. Fone: (41) 3232-5367. Clique aqui para visitar o site da loja.
Música+Quadrinhos: Bad Folks+Bang Bang