Quadrinhos

Uma liga extraordinária

11 set 2003 às 10:59


Chega esta semana aos cinemas brasileiros mais uma produção vinda de histórias em quadrinhos neste ano, A Liga Extraordinária. E, diferente da sua versão original, o filme não agradou o público norte-americano e muito menos a crítica, que detonou a película. Escorregões à parte, a história original deve ser poupada, já que é, com certeza, uma das melhores série já lançadas na última década.

The League of Extraordinary Gentleman foi produzida pelo roteirista Alan Moore e o ilustrador Kevin O'Neill em 1999 através do selo independente America's Best Comics e chegou em 2001 ao Brasil, pela editora Pandora Books, batizada como As Aventuras da Liga Extraordinária.


A história reúne personagens clássicos do século XIX e tem como principal pano de fundo a era vitoriana inglesa. A trama gira em torno de uma grande ameaça, que obriga o governo britânico a reunir pessoas incomuns para impedir a destruição da Terra. Para isso, a majestade convoca Mina Murray (de Drácula, de Bram Stoker), Dr. Henry Jekyll (de O Médico e o Monstro, de Robert Stevenson), Capitão Nemo (de 20.000 Léguas Submarinas, de Julio Verne), Alan Quatermain (de As Minas do Rei Salomão, de H. Rider Haggard) e Hawley Griffin (de O Homem Invisível, de H.G. Wells).


Até aí não seria novidade alguma reunir heróis em um grupo para lutar contra o mal. Mas Alan Moore, que ficou conhecido no mundo todo pelo belo trabalho em Watchmen e V de Vingança, transforma a equipe em um punhado de anti-heróis que, em primeiro lugar, precisam evitar sua autodestruição. Quatermain, por exemplo, é viciado em ópio e Dr. Jekyll é mentalmente instável. Griffin seria a última pessoa a quem alguém poderia confiar, Mina é misteriosa e Nemo é, no mínimo, sombrio e maluco.


A partir daí o grupo precisa aprender a conviver como equipe e também não deixar que suas esquisitices atrapalhem na missão. Algumas sequências são memoráveis, como a descoberta do Homem Invisível, que se disfarçava de uma espécie de ''espírito santo'' para 'iniciar' garotas na vida adulta. Outra cena marcante é quando Quatermain cede ao vício pelo ópio e deixa Jekyll sozinho e, quando o aventureiro retorna de sua ''viagem'', o médico deu lugar ao monstro e matou centenas de pessoas.


Mas o que Moore deixa explícito é que eles realmente são pessoas incomuns e nenhum outro ser vivo conseguiria realizar o que eles fazem. Além disso, ele mostra que os heróis não precisam ser infalíveis. Assim como nós, eles têm seus problemas, suas falhas, e são corruptíveis.


O principal charme da revista está nas referências à literatura do século XIX. Além dos autores já citados, é possível encontrar ligações com Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle e outros dois personagens que aparecem discretamente são o detetive August Dupin, de Assassinato na Rua Morgue, de Edgar Alan Poe, e Pollyana, de de Eleanor H. Porter. Na sequência da série, que saiu no ano passado nos Estados Unidos, os leitores também puderam ver a participação de Dr. Moreau, de A Ilha do Dr. Moreau, de H.G. Wells.


Seria injustiça esquecer a bela arte de Kevin O'Neill. Ele utiliza traços simples, com apenas uma espessura, reproduzindo fielmente os becos e vielas londrinas no século XIX. O'Neill garante a dualidade dos personagens principais: todos aparentam esconder um lado obscuro, que não gostam muito de revelar. Sua narrativa simples também auxilia muito o texto de Moore, já que, diante de tantas referências literárias e uma trama complexa, o ilustrador não poderia atrapalhar a fluência da história com informações gráficas desnecessárias.


No Brasil, a série saiu em três edições e pode ser encontrada em sebos ou lojas especializadas. E, independente da 'bomba' que pode ser no cinema, os fãs certamente vão aguardar ansiosamente a sequência, que já saiu nos Estados Unidos mas ainda não tem data para publicação por aqui.

Música+Quadrinhos: Morphine+As Aventuras da Liga Extraordinária


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