Quadrinhos

Uma homenagem ao grande personagem de Eisner

23 mar 2011 às 12:16

Curitiba - Tudo bem que a popularidade e o próprio núcleo do maior personagem do mestre dos quadrinhos Will Eisner foram manchados pela péssima adaptação de Spirit para as telonas, nas mãos de Frank Miller. Felizmente, Miller nesta fase terrível está fora da lista de autores que contribuíram para a releitura de Denny Colt para novos leitores. Essa homenagem, produzida em 1998, chega ao Brasil em uma única edição, pela Devir Livraria.

Spirit, muito lido a partir de sua criação, em 1940, logo em suas primeiras aventuras já exibiu o potencial de um jovem artista em ascensão. Eisner, inspirado pelo clima noir e as histórias policiais imortalizadas por Dick Tracy e antecessores, das tiras de jornais dos anos 30, revolucionou as páginas dominicais ao promover uma certa dose heróica ao personagem (misteriosamente imortal) e grande experimentalismo visual.


Com o tempo, Eisner foi deixando de lado seu interesse por Spirit para se dedicar às graphic novels e às possibilidades de narrativa que poderia desenvolver. No entanto, foi com Spirit que funcionou seu laboratório criativo, suas brincadeiras com diagramação, composição e design; sua habilidade de lidar com tempo e espaço na limitação dos jornais.


Já nos anos 90, o publisher Denis Kitchen, da americana Kitchen Sink Press, fã confesso do personagem, achava injusto os novos leitores admirarem Eisner mas não conhecerem exatamente porque é que Spirit foi e é tão importante para os quadrinhos. Assim, convenceu o artista a ceder sua criação para autores mais populares à atual geração.


Foram então convocados Alan Moore e Dave Gibbons (a dupla de ''Watchmen''), Neil Gaiman (''Sandman''), Mike Allred (''Madman''), Kurt Busiek (''Marvels''), Eddie Campbell (''Do Inferno''), David Lloyd (''V de Vingança''), Moebius (''Garagem Hermética''), entre outros. Todos liberados pelo próprio Eisner a dar sua contribuição ao personagem, sem ter que seguir exatamente o estilo original.


O resultado é uma miscelânea que, mesmo com o pedido de Eisner de não seguir seu estilo, acaba sendo um pouco retrô. A dinâmica e os temas foram atualizados, assim como o uso das cores. A histórias ampliam um pouco mais o universo de Spirit, porém, passam longe da sofisticação visual proposta pelo mestre dos quadrinhos.


Até há uma ou outra brincadeira que remete ao estilo original, como a brincadeira com os próprios créditos da aventura. Mas as aventuras clássicas ainda são bem superiores. A homenagem vale para introduzir o personagem a uma nova audiência, que, depois de seduzidas pelo material, deve mesmo é procurar as edições de Eisner.


A exemplo da estratégia utilizada no lançamento recente de ''O Agente Secreto X-9'', a Devir Livraria também optou por lançar ''The Spirit - As Novas Aventuras'' em duas versões, uma para colecionar e a outra para ler e manusear com mais frequência. Ambas têm 128 páginas coloridas, só que a primeira tem capa dura, no formato 21 x 28 cm, e a segunda é com capa mais fina, em brochura, no formato 20,5 x 27,5 cm.



AGENTE SECRETO X-9


Pra muita gente, usar o termo ''X-9'' pode ser ''cagueta'' ou ''dedo-duro'' e delator, como também remete a uma escola de samba paulistana. Para os seguidores da nona arte, é o conhecido detetive criado por Dashiell Hammett e Alex Raymond. E a Devir Livraria traz ao Brasil um nostálgico volume, com as histórias clássicas do personagem na edição ''Agente Secreto X-9''.


Antes de mais nada, é preciso entender o período em que as histórias foram publicadas originalmente. Elas, por si só, são tecnicamente bem produzidas, no entanto, ganham ainda mais valor quando contextualmente compreendidas: as aventuras de X-9 foram muito lidas nos anos 30, uma década de efervescência para os quadrinhos, de altos e baixos, enfim, de experiências que viriam a transformar a nona arte no que é hoje.


Nessa época, as tiras de jornal com histórias de mistério e tramas policiais ganharam muito destaque, especialmente devido ao sucesso de Dick Tracy. E como cada um queria ter seu próprio Dick Tracy, William Hearst, da King Features Syndicate (que já se transformava na maior distribuidora de tiras dos Estados Unidos, com personagens como Popeye, Betty Boop, Príncipe Valente, entre outros), logo providenciou algo para bater o concorrente.


Assim nasceu X-9, pelas mãos do talentoso escritor Dashiel Hammett, autor de ''Falcão Maltês'', e do ilustrador Alex Raymond, famoso por ter imortalizado naquela época a avançada ficção científica de Buck Rogers. Felizmente, todos os bastidores que explicam essa criação são bem lembrados pelo editor Leandro Luigi Del Manto, no prefácio da edição.


Bem, obviamente, X-9 não conseguiu superar o concorrente Dick Tracy, caso contrário as pessoas lembrariam muito mais do primeiro do que do segundo. No entanto, a produção foi de grande importância para os quadrinhos. A nova geração talvez não seja atraída pelo clima noir e pelo visual vintage das histórias, porém, a sofisticação narrativa para a época foi fundamental para que a nona arte chegasse ao status de linguagem anos depois.


É notável, por exemplo, a síntese criativa de Hammett e Raymond. A dupla lidava com diagramação limitada por poucos quadros horizontais, pois precisava respeitar o espaço das tiras de jornais. O ritmo em cada um dos três ou quatro quadros que podiam ser utilizados em cada ''fila'', o volume de detalhes em cada um deles, o enquadramento e a sucessão de ações e diálogos são uma verdadeira aula para quem quer entender o processo de leitura e criação dos quadrinhos.


A Devir Livraria caprichou na edição e, além do formato horizontal original, também colocou à disposição do público duas versões da publicação. Uma, com capa dura, ideal para colecionadores, e outra, em brochura, melhor para ler e manusear com frequência.


SERVIÇO
- ''The Spirit - As Novas Aventuras'' tem 128 páginas coloridas, com a versão brochura a R$ 41 e a capa dura a R$ 53.


- ''Agente Secreto X-9'' tem capa colorida e 216 páginas em sépia, com versão em capa dura no formato 28 x 21 cm, a R$ 62; e em brochura, em 27,5 x 20,5, por R$ 48.


O material citado acima pode ser encontrado em Curitiba na Itiban Comic Shop (Av. Silva Jardim, 845). O telefone de lá é (41) 3232-5367.


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A maior parte dos textos publicados nesta coluna foi publicada na Folha de Londrina, tanto na versão impressa quanto na virtual.


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