Quadrinhos

Tico-Tico e Little Nemo completam 100 anos

20 out 2005 às 11:00


Curitiba - O mês de outubro, do ano de 1905, especialmente na sua primeira quinzena, foi iluminado para o quadrinho. Muito dos elementos gráficos e textuais da Nona Arte tiveram seus primeiros passos dados em duas produções históricas, que completam 100 anos com edições especiais. A revista ''Tico-Tico'' e ''Little Nemo in Slumberland'', pioneiras no Brasil e Estados Unidos, respectivamente, ainda encantam o público e recebem justas homenagens com o livro ''O Tico-Tico: Cem anos de Revista'', de Ezequiel de Azevedo e ''Little Nemo in Slumberland: So Many Splendid Sundays!'', com várias das histórias criadas por Winsor McCay compiladas pelo norte-americano Peter Maresca.

''Tico-Tico'' marcou época e muita gente, os mais velhos, devem ainda se lembrar de suas histórias e fantástica influência no imaginário infanto-juvenil do começo do século 20 até a década de 60. Seguindo os passos do pioneiro ítalo-brasileiro Ângelo Agostini, que no final do século 19 já publicava ''As Aventuras de Nhô Quim'' em território nacional, a revista começou a ser publicada no dia 11 de outubro de 1905, com 21 mil exemplares.


Diferente do que ainda é hoje, os quadrinhos no Brasil começavam a ser tratados como arte, especialmente pela mesma forma como eram encarados na França, já que a ''Tico-Tico'' é descendente direta da ''La Semaine de Suzette''. Inicialmente, a revista trazia histórias didáticas e contos ilustrados. A conexão com a literatura era bastante presente, inclusive com participações de Olavo Bilac e Oswaldo Orico. Mais tarde, grandes nomes como Carlos Drummond de Andrade, Lygia Fagundes Telles, Érico Veríssimo, Ana Maria Machado, Monteiro Lobato, entre outros, admitiram ter como grande ''escola da imaginação'' a revista ''Tico-Tico''.


Alguns personagens estão gravados até hoje na memória do pessoal que curtiu essa época, como os impagáveis Réco-Réco, Bolão e Azeitona, assim como Chiquinho, versão de Buster Brown, de Richard F. Outcault, criador do ''Yellow Kid'', considerado ''pai'' dos quadrinhos como conhecemos. A partir dos anos 30, a ''Tico-Tico'' começou a trazer expoentes do crescente mercado norte-americano, como Mickey Mouse, Gato Félix, Popeye e Krazy Kat.



Porém, sua queda começou também nesta época, quando o interesse pelos super-heróis aumentou consideravelmente. Assim, após 57 anos e 2097 edições, a revista perdeu força e foi extinta em 1962. Mas sua história pode ser resgatada no livro ''Tico-Tico: Cem Anos de Revista'', de Ezequiel de Azevedo, que acaba de chegar às livrarias de todo o País.


''Little Nemo in Slumberland'' é, ainda hoje, inigualável em termos de técnica e narrativa. Winsor McCay, seu criador, sempre esteve à frente de seu tempo. Em 1905, publicava aos domingos, no New York Herald, a fantasia surreal de um garoto que se aventurava no mundo dos sonhos. Amante da Princesa, Filha do Rei Morpheus, Nemo se via sempre em diversas situações cômicas, sombrias e até mesmo violentas, no mundo onírico que acabava ao final da página, quando ele acordava.


A métrica, a disposição dos quadros para privilegiar certo aspecto da narrativa, os traços simples mas com detalhes expressivos no nanquim fazem do trabalho de McCay uma referência de como fazer quadrinhos até hoje. Mesmo com um período curto de vida, até 1914, as histórias de Nemo influenciaram milhares de artistas e inclusive até viraram letra de música da banda Genesis, na faixa ''Scenes From a Night's Dream''. O personagem teve uma aparição na série Sandman, de Neil Gaiman, e chegou a ganhar uma animação, de pouco sucesso, em 92.


Agora, um século depois, o aficcionado norte-americano Peter Maresca decidiu compilar o material, em seu formato original, no tamanho 53,3 cm x 40,6 cm. Nenhuma editora aceitou levar o projeto adiante e, então, Maresca dispôs de uma pequena fortuna para lançar cinco mil exemplares de ''Little Nemo in Slumberland: So Many Splendid Sundays!''. Por enquanto, o material ainda é inédito no Brasil, só disponível em importadores.


Serviço: ''O Tico-Tico: Cem anos de Revista'', de Ezequiel Azevedo, é lançamento da editora Via Lettera, com 64 páginas, no formato 16 cm x 23 cm e custa R$ 30. ''Little Nemo in Slumberland: So Many Splendid Sundays!'', de Peter Maresca, sai pela Sunday Press, com formato 53,3 cm x 40,6 cm. O álbum, importado, tem 120 páginas e custa 120 dólares.


''O Tico-Tico: Cem anos de Revista'' pode ser encontrada em Curitiba na Itiban Comic Shop: Av. Silva Jardim, 845. Fone: (41) 3232-5367. "Little Nemo in Slumberland: So Many Splendid Sundays!" pode ser encomendado na mesma loja.

Música+Quadrinhos: Mercury Rev+Little Nemo in Slumberland


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