O que aconteceria se os conhecidos heróis multicoloridos da Marvel Comics, como Homem-Aranha e Demolidor, fôssem levados ao século 17? A resposta chega ao Brasil na minissérie ''1602'', publicada pela Panini Comics. E o escritor é ninguém menos que Neil Gaiman, aclamado auto de Sandman e conhecido por suas tramas cheias de referência à literatura e à momentos históricos da humanidade.
Em ''1602'', a Inquisição persegue os 'sanguebruxos', seres que nasceram com anomalias, protegidos em um santuário pelo professor Carlos Javier. Enquanto isso, em meio a estranhos fenômenos climáticos, o Rei James, da Escócia, planeja sobrepujar o domínio da Rainha Elizabeth I, governante da Inglaterra. Para evitar que isso aconteça, a majestade convoca Sir Nicholas Fury, espião-chefe do Serviço de Inteligência, que une-se ao médico e mago real, Stephen Strange, para desvendar os mistérios sobre as mudanças no clima. Em outro canto, o Conde Otto Von Doom, o Formoso, observa com atenção a esses acontecimentos.
Assim como em seus outros trabalhos, Neil Gaiman mistura vários elementos da literatura para dar uma nova visão às aventuras de super-heróis. Em ''1602'', não há uniformes colantes e a narrativa é mais lenta e densa do que as imagens videoclípicas das tradicionais histórias do gênero. O mais interessante é como o autor encaixou personagens clássicos em uma trama ambientada há 400 anos. Veremos o Matthew Murdoch, o trovador cego irlandês que canta a ''Balada do Fantástico''; o jovem Parker, que tem um estranho fascínio por aranhas; e o Grande Inquisidor, um certo homem que odeia Javier e tem uma inesquecível atração pelo magnetismo, entre outros.
Gaiman adiantou que não se trata de um universo paralelo ou coisa parecida. A trama se passa toda no universo regular da Marvel e há 400 anos do que todos conhecem hoje. As semelhanças não são por acaso e, de acordo com o escritor, conforme a história vai sendo contada, os leitores vão passar a compreender o que isso significa para a cronologia deste mundo.
Para narrar graficamente essa história, foram chamados o ilustrador Andy Kubert e o colorista Richard Isanove, que fizeram sucesso na minissérie ''Origem'', sobre o passado de Wolverine. Os traços de Kubert, apenas finalizados no lápis, dão o clima certo para a história, principalmente pelas sombrias imagens britânicas, sempre sob um céu nublado. As capas de todas as edições foram produzidas por Scott Mckowen, bastante conhecido pelos trabalhos em pôsteres de peças teatrais.
Nos Estados Unidos, lançada em agosto do ano passado, a minissérie, em oito partes, chegou como uma bomba, principalmente pelo estrondoso sucesso de Gaiman com ''Sandman: Noites Sem Fim''. Mas, após alguns números, público e crítica norte-americanos chegaram a afirmar que o autor inglês não sabe escrever sobre personagens como Homem-Aranha e os X-Men. Com a chegada da última edição, este ano, Gaiman surpreendeu com um final empolgante e mais uma vez foi aplaudido por seu trabalho.
A única reclamação dos leitores foi com a ausência de Wolverine na trama, que, de acordo com Gaiman, não teria um papel muito importante e ainda poderia atrapalhar a narrativa, já que o mutante canadense desviaria demais a atenção dos leitores. Em contrapartida, o autor tentou colocar o máximo de personagens possível e garantiu que não é necessário conhecer todo o Universo Marvel ou sequer ter lido qualquer revista de super-heróis.
A minissérie é mensal tem formato americano e foi dividida em quatro partes no Brasil, com a primeira edição em 64 páginas, a R$ 5. As revistas seguintes têm 48 páginas, a R$ 4,50. Como a distribuição é setorizada -primeiro em São Paulo e no Rio de Janeiro- a previsão é de que a publicação chegue no Paraná em junho, mas é possível encontrá-la em lojas especializadas.
Música+Quadrinhos: Mercury Rev+1602