O termo "Indie" veio da palavra inglesa "independent" e caiu como uma luva para bandas de garagem da década de 80 nos Estados Unidos, como Sonic Youth e Pixies. Ambas, depois de anos no underground, conquistaram o chamado "mercado popular" do rock e se tornaram referências para jovens que acreditam numa alternativa musical fora dos padrões concebidos pelos críticos e a grande massa. Mais tarde, o termo viria a ser também um movimento musical atrelado à guitar bands e grupos de pop rock alternativo.
O mercado independente das histórias em quadrinhos teve grande ascensão uma década após a explosão do rock alternativo, nos anos 90. Depois da grande reviravolta no mainstream dos quadrinhos norte-americanos - referência para fãs do gênero - liderada por Alan Moore (Watchmen, V de Vingança), Frank Miller (O Cavaleiro das Trevas) e Neil Gaiman (Sandman), as produções começaram a perder fôlego.
Em meio a esse panorama, os editores, principalmente das menores empresas, buscaram alternativas para suprir um público ávido por material novo e bom. Foi aí que autores como Jeff Smith (Bone), Peter Bagge (Ódio), Dave Sim (Cerebus), e o irmãos Hernandez (Love and Rockets) - depois de bom tempo afastados dos quadrinhos - vieram à tona. Prova disso é a publicação, com edição nacional, de Comic Book - O novo quadrinho norte-americano.
Daniel Clowes, Dame Darcy, Richard Sala, Peter Bagge, Jaime e Gilbert Hernandez, Debbie Drescher, Joe Sacco, Lloyd Dangle e Adrian Tomine. Todos estão na edição de Comic Book e produzem as chamadas "histórias de autor": publicações sem as metas de produção e lucro e com visões iconoclastas e autobiográficas da sociedade - a versão indie, na concepção inicial do termo, das histórias em quadrinhos.
O conteúdo dessas histórias não tem super-heróis ou uma visão maniqueísta do mundo. Os autores são responsáveis por quase todo o processo: desde o roteiro até os cuidados com impressão e distribuição. O resultado da liberdade de criação vem em forma de histórias inovadoras e consistentes, com linguagem bastante diferente das HQs comuns.
Um dos destaques de Comic Book fica por conta de Richard Sala. Conhecido por suas histórias em Invisible Hands da série de animação Liquid Television, da MTV, o cartunista traz uma história ácida com personagens dualistas e referência gráfica expressionista.
Já Daniel Clowes, em uma história bastante david lynchiana traz a história de um pintor em um cenário monótono. A vida simples e cínica dos personagens e a profusão nas idéia de "ver" e "ser visto" pela sociedade é explorado com desenhos que caricaturizam a realidade. A linguagem, objetiva, prioriza a mensagem do texto.
Adrian Tomine fecha a edição destilando melancolia e reflexões existencialistas de jovens pós-adolescentes dos anos 90. Cheio de referências ao mundo pop, o autor, com traços econômicos e limpos, mostra a vida de duas irmãs e seus conflitos de identidade e a difícil convivência em família com o pai solteiro.
Comic Book - O novo quadrinho independente norte-americano - 138 pgs. Daniel Clowes, Dame Darcy, Richard Sala, Peter Bagge, Jaime e Gilbert Hernandez, Debbie Drescher, Joe Sacco, Lloyd Dangle e Adrian Tomine. Editora Conrad, 1999. Preço estimado: R$ 19,80.
Música+Quadrinhos: Weezer+Comic Book - o novo quadrinho independente norte-americano