Finalmente. Depois de uma longa espera nos Estados Unidos (e uma ainda maior no Brasil), os brasileiros vão conhecer a bem-sucedida nova fase dos X-Men. A revista, escrita por Grant Morrison e ilustrada por Frank Quitely, finalmente trata os mutantes como adultos e mais reais.
Os X-Men parecem ser o termômetro de inúmeras revistas de super-heróis quando se fala em mudanças sociais e produções culturais. A revista sempre passa por altos e baixos justamente porque seu público está intimamente ligado aos conceitos da HQ. Quem lê quadrinhos sabe que os mutantes nasceram sob forte influência da era hippie pós-guerra atômica, nos anos 70. Além de falar sobre preconceito, a idéia inicial vingou porque falava de algo sempre temido pela humanidade: o próximo passo da evolução.
Nos anos 80 a era nuclear já dava lugar à Guerra Fria e - depois de uma fase áurea com John Byrne na década anterior - os mutantes voltaram a ser destaque nas mãos de Chris Claremont. Já nos anos 90, em plena ansiedade sobre clones e a genética, Claremont, juntamente com o desenhista Jim Lee e o roteirista Scott Lobdell, voltou a dar novo fôlego para a equipe. Mas até então, muitos dos elementos que fizeram tanto sucesso começavam a se desgastar de tal forma que até mesmo os editores tinham dificuldades em projetar as próximas histórias. Escritores chegavam a se negar a trabalhar com os X-Men, devido à complexidade das tramas e inúmeros personagens, além da responsabilidade de produzir a revista mais vendida da Marvel.
Foi aí que o editor-chefe Joe Quesada começou a reformulação. Em primeiro lugar, ajudou a finalizar a já encaminhada produção cinematográfica dos mutantes e lançou um novo universo (Ultimate Marvel - no Brasil batizado de Millenium) para abrigar e agradar os leitores mais jovens e os novos fãs da equipe. Isso abriu caminho para que a revista contínua tomasse novos rumos e os X-Men finalmente "crescessem".
E isso aconteceu. Sem ter o peso de um universo tão complexo nas costas, Grant Morrison (Os Invisíveis, Asilo Arkham) imprimiu novo estilo à revista. O primeiro arco de Grant traz uma vilã muito poderosa (com poderes que rivalizam os de Xavier - e ela realmente tem uma ligação muito forte com o professor) com uma nova raça de sentinelas para sobrepujar os homo sapiens superior.
Com maturidade no roteiro, os diálogos, personagens e como eles interagem entre si nos mostra como uma equipe de desajustados pode tentar resolver seus problemas sem chegar à autodestruição. Grant segue um pouco a linha de Byrne e Claremont (que já haviam revelado qual seria a fórmula do sucesso com os X-Men) e concentra suas histórias na "dinâmica de grupo" - os dramas pessoais e o conflito na equipe são desafios maiores até que seus poderosíssimos inimigos.
Os desenhos de Frank Quitely caem como uma luva: além de serem mais realistas, suas seqüências conseguem "esconder" as mais assombrosas imagens sugeridas por Grant, para que o leitor sinta terror psicológico em algumas passagens. Além disso, Quitely fez questão de caracterizar bem cada personagem, diferente de vários artistas que ainda desenhavam os integrantes da equipe com estereótipos estabelecidos para os mutantes em 1970. O único problema é que Quitely não é muito chegado a prazos e deixa de ser o desenhista regular em várias edições (isso irritou profundamente os leitores norte-americanos).
Bem, não foi à toa que o primeiro arco, E de Extinção, foi indicada ao prêmio Eisner (o "Oscar" dos Quadrinhos) de melhor série de 2001.
X-Men #9:Vários artistas. E de Extinção - Grant Morrison, Frank Quitely. Edição original pela Marvel Comics e, no Brasil, lançado pela editora Panini Comics. 100 pgs. Série mensal. R$ 6,90.
Música+Quadrinhos: X-men: E is for Extinction+Prodigy