Medo, tensão, horror, o improvável. O interessante universo de terror nas histórias em quadrinhos não só foi importantíssimo para o desenvolvimento da arte sequencial no Brasil como também promove o retorno do gênero com força total nos Estados Unidos.
É verdade que as histórias de terror e horror nos quadrinhos andam em falta ultimamente no Brasil. A única editora que aposta nesse nicho é a Brainstore, com publicações gringas da Vertigo/DC Comics, como as séries Sandman, Monstro do Pântano, Hellblazer, Preacher e minisséries como Hellraiser. A Devir chegou a publicar o ótimo 30 Dias de Noite, do escritor do momento nos Estados Unidos, Steve Niles e do ilustrador Ben Templesmith. Outra boa iniciativa foi da Abril, que reuniu a nata dos artistas nacionais com Contos Bizarros. Já a Opera Graphica, trouxe de volta a antiga revista Calafrio, revisitando o gênero com Calafrio: 20 anos depois.
Assim como nos Estados Unidos, os quadrinhos ganharam visibilidade em solo tupiniquim através dos jornais. Mas, particularmente no Brasil, os gibis ficaram populares devido às histórias de terror publicadas na década de 60. Introduzido por aqui em 1947, com o português Jayme Cortez - criador do consagrado Espíritos Assassinos - o gênero cresceu com revistas como Calafrio e Mestres do Terror, nas mãos de gente competente como o argentino Rodolfo Zalla, o italiano Eugênio Colonnese, e os brasileiros Flávio Colin, Julio Shimamoto, Ivan Saidenberg.
Influenciados pelo boom de monstros na década de 30 no cinema - como Lobisomem, Frankenstein, Drácula e outros -, os quadrinhistas faziam versões brasileiras dessas criaturas (como Mirza, a vampira) e chegaram também a utilizar até mesmo o folclore nacional para aterrorizar os leitores, que cresciam dia-a-dia. Porém, a ditadura, principalmente entre 72 e 76, acabou podando a produção e muitas das criações acabaram indo para o limbo. Somente em 1980 é que os artistas começaram a apostar novamente nesse tipo de revista no Brasil, mas, em um intenso período de revolução sexual, o público já não queria mais saber tanto de contos de horror e sim de gibis com conteúdo erótico.
Agora, nos Estados Unidos, a onda de pavor começa novamente a tomar conta dos chamados 'quadrinhos adultos'. E um dos maiores responsáveis pelo hype é o escritor Steve Niles. Autor de 30 Dias de Noite, publicado no Brasil e que pode virar filme ainda este ano, ele emplacou com a sequência Dark Days, e também com Criminal Macabre e Remains.
Considerado como o George Romero (diretor da clássica Trilogia dos Mortos no cinema) dos quadrinhos, Niles chegou a adaptar o próprio Despertar dos Mortos, de Romero, para as revistas. Também fascinado por zumbis, Niles não só atraiu os fãs para o gênero de terror em editoras de médio porte, como IDW e Dark Horse Comics, como também iniciou uma onda de publicações semelhantes.
Além de 30 Dias de Noite e Dark Days, que explora o vampirismo, a obra mais bem recebida de Niles, juntamente com o ilustrador Ben Templesmith, é Criminal Macabre. A série narra o investigador Cal MacDonald, sob custódia da polícia de Los Angeles, tendo que se desdobrar para exterminar uma horda de vampiros, lobisomens e outras criaturas ainda mais malucas em um ritmo alucinante.
Resta agora torcer (rezar seria contraditório) para que essas produções aterrorizantes cheguem logo às bancas brasileiras ou, pelo menos, que os artistas nacionais voltem a produzir esses tipos de histórias.
Música+Quadrinhos: Bauhaus+Criminal Macabre