Quadrinhos

O melhor da Família Pato

01 abr 2004 às 11:00


Para ele, seus patos não eram apenas animais falantes e bastante carismáticos. ''Eu os imaginava como seres humanos que, por acaso, tinham aparência de patos.'' Assim define Carl Barks, criador do Tio Patinhas, de Patópolis e da Família Pato. E agora ele recebe uma justa homenagem da Editora Abril, que lança em quatro volumes As Obras Completas de Carl Barks, em comemoração aos 70 anos do Pato Donald.

Após a famosa Crise de 29 nos Estados Unidos, as tiras de jornais e as histórias em quadrinhos começaram a fazer muito sucesso, já que a população realmente precisava de entretenimento para esquecer um pouco a dura realidade do desemprego e a falta de dinheiro. Nesse cenário, Walt Disney trouxe uma série de personagens bastante simples, de leitura rápida, humor leve e fácil entendimento.


Foi nessa época que Disney teve seu maior colaborador. Carl Barks começou trabalhando nos Estúdios Disney em 1930 e, a partir de 1943, passou a se dedicar aos quadrinhos. Foi ele quem deu alma, forma e conteúdo para os patos mais famosos do mundo e ajudou -juntamente com Will Eisner, entre outros- a elevar os quadrinhos ao status de arte sequencial e linguagem cultural.


A maior qualidade de Barks estava em sua forma cinematográfica de contar as histórias, através de grande poder de síntese. Os roteiros traziam reviravoltas mas sempre com começo, meio e fim, bem amarrados até a conclusão da história. O ritmo e a fluência são qualidades de Barks imitadas por diversos outros autores nos anos seguintes. Até mesmo os cineastas George Lucas e Steven Spielberg admitiram ter usado uma sequência de uma história do Tio Patinhas para a cena em que o aventureiro Indiana Jones rouba uma pedra preciosa em uma caverna em Os Caçadores da Arca Perdida.


Visualmente, ele inovou com seus famosos ''três planos'' de execução, além das ''splash pages'', quadros de abertura de página nitidamente maiores, mais detalhados. Na maioria das cenas, além das informações nos balões de diálogos ou pensamentos, Barks conseguia trazer três tipos de informações gráficas em planos diferentes, de forma muito simples: é fácil identificar o personagem em evidência, os coadjuvantes e o local onde acontece a ação. Assim, com a redundância proposital desses elementos, toda a história que contava ficava bem fixada na memória dos leitores, principalmente das crianças.


O álbum lançado pela Abril tem tratamento de luxo, com capa dura e uma proteção para o volume, formato americano (16,8cm x 25,9cm), com 180 páginas cada edição, ao preço de R$ 14,90 e é uma ótima oportunidade para os fãs, colecionadores e novos leitores. Para cada história, traz informações e curiosidades sobre a produção, como a forma em que Barks diferenciava suas revistas com as do gênero de super-heróis, que também faziam muito sucesso na época. Nas revistas de Batman, por exemplo, o herói precisava de um ajudante -conhecidos como sidekicks-para não falar com as paredes ao explicar para o leitor o que ia fazer, daí a razão para de Robin existir. No entanto, foram inúmeras as histórias em que Donald passa por longos monólogos, fica irritado com formigas, fala sozinho e até briga com a própria gravata.


Um dos grandes sonhos de Carl Barks, que acabou não sendo realizado antes de sua morte, em 2000, foi ver uma criança comprando uma revista sua. Apesar de elevar surpreendentemente as vendas de quadrinhos ao longo dos anos e transformar seus personagens em lendas, ele jamais viu um garoto gastando seus centavos em uma sequer de suas centenas de publicações nas bancas. Óbvio que esse sonho só não foi realizado porque o artista raramente saía de casa.

Música+Quadrinhos: Obras Completas de Carl Barks+Stereolab


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