Quadrinhos

Mutarelli busca união entre literatura e quadrinhos

19 jan 2006 às 11:00


Curitiba - Lourenço Mutarelli tem trabalho novo na praça. E, desta vez, o autor paulistano uniu a veia literária e suas já conhecidas reflexões existenciais dos quadrinhos para dar vida à ''Caixa de Areia (ou Eu Era Dois em Meu Quintal)'', produção mais leve e bem-humorada que seus trabalhos anteriores. A edição sai pela Devir Livraria.

''Caixa de Areia'' divide a narrativa entre uma conversa surreal entre dois amigos em um carro e o cotidiano de Mutarelli. Uma autobiografia que pensa sobre o tempo, a infância, o envelhecimento, entre outros temas. ''Quando fiz o roteiro, pensei em fazer uma história para meu filho, mais leve. Fui fazendo a história fora de ordem e fora de sequência. Achava que era quase um livro infantil, mas não adianta, tenho a mão pesada. Pelo menos não é uma história pessimista e sim conformista'', explicou o quadrinhista em entrevista ao Bonde/Folha de Londrina.


A acidez na palavras de personagens derrotados, o gosto amargo na boca deformada de gente sem esperança, o escárnio à vida medíocre e o pessimismo, elementos bastante comuns nas páginas de suas produções, desta vez não fazem parte da história. Pelo menos não de forma tão evidente. Em ''Caixa de Areia'', Mutarelli é até bem-humorado, usa bastante da metalinguagem e das conversas com seu próprio filho para mostrar esse outro lado, bem diferente das narrativas carregadas da Síndrome do Pânico que influenciava o autor em seus primeiros álbuns, no final dos anos 80. ''Estou numa fase boa. Com o Diomedes (o detetive dos álbuns da Trilogia do Enigmo) o humor entrou mais fácil e tenho trabalhado mais com o humor'', confirmou.


Além de quadrinhista, Mutarelli também tem tido sucesso no meio literário, a exemplo de livros como ''O Cheiro do Ralo'', que deve ganhar adaptação cinematográfica ainda este ano, e ''Jesus Kid''. E, desta vez, ele decidiu unir a literatura e os quadrinhos em ''Caixa de Areia'', até mesmo no formato. ''A literatura abriu muitas portas pra mim. Nunca demorei mais de 15 dias para escrever um livro ou uma peça de teatro mas quadrinhos eu demoro 10 meses ou um ano pra fazer. Dessa vez usei o formato de livro para quebrar um pouco do preconceito que existe com os quadrinhos. Meu público está se dividindo, o que não é muito bom, o público que conhece meus livros não lêem meus quadrinhos e os que lêem quadrinhos não lêem os livros. Assim (com uma história em quadrinhos em formato de livro) acho que posso misturar um pouco os dois'', disse.


As mudanças não só afetam a linguagem como também os traços do autor. Nos trabalhos anteriores, Mutarelli mostrava uma verdadeira ''briga'' para encontrar dezenas de texturas em desenhos detalhados em preto-e-branco. Desta vez, as ilustrações estão menos rebuscadas e até é possível ver o autor brincar com técnicas diferentes, como a aguada de nanquim. ''Sim, meu traço está mudando, quero simplificar um pouco. A história (de Caixa de Areia) tem muitos elementos banais do cotidiano e procurei desenhar sem virtuosismo'', comentou.


Mutarelli vai passar pelo Paraná para divulgar ''Caixa de Areia'' no dia 4 de fevereiro, na Gibiteca de Curitiba. Além de um bate-papo com o autor, os leitores também vão poder autografar as edições e participar de uma palestra sobre quadrinhos.


Serviço - ''Caixa de Areia (ou Eu Era Dois em Meu Quintal)'' sai pela editora Devir Livraria, com o formato de livro (14 x 21 cm) e 144 páginas em preto-e-branco. A edição pode ser encontrada em livrarias ou lojas especializadas por R$ 25.


"Caixa de Areia (ou Eu Era Dois em Meu Quintal)" pode ser encontrado em Curitiba na Itiban Comic Shop: Av. Silva Jardim, 845. Fone: (41) 3232-5367.

Música+Quadrinhos: Janes Addiction+Caixa de Areia


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