Curitiba - Bem, já que no final de ano o mais divertido é fazer listinhas, então aqui vão as minhas. Vale lembrar que nunca ninguém vai conseguir assistir, ler ou jogar tudo o que saiu nos 12 meses e que as escolhas tem tudo a ver com as preferências de quem as faz. Mas, no final das contas, o que vale é relaxar, dividir opiniões e também fazer uma retrospectiva do que de melhor aconteceu.
QUADRINHOS
O cenário brasileiro cresce a cada ano e o maior destaque foi a entrada em peso da Quadrinhos em Cia., da Cia. das Letras. A editora fez uma aposta ousada ao trazer para as livrarias nacionais quadrinhos de 400 páginas ou mais, algo impensável há dez anos. Entre os destaques, a leitura-aula de arte sequencial de Chris Ware, que mostra como a narrativa de um gibi pode ser algo único entre tantas outras linguagens.
1º - ''Jimmy Corrigan, o Menino Mais Esperto do Mundo'', de Chris Ware (Quadrinhos na Cia.)
2º - ''Gênesis'', de Robert Crumb (Conrad Editora/Ibep Nacional)
3º - ''Retalhos'', de Craig Thompson (Quadrinhos na Cia.)
4º - ''Peanuts Completo: 1950 a 1952'', de Charles M. Schulz (LP&M)
5º - ''Nova York - A Grande Cidade'', de Will Eisner (Quadrinhos na Cia.)
Menção honrosa - ''Umbrella Academy: A Suíte do Apocalipse'', de Gerard Way e Gabriel Bá.
Entre os nacionais, vale lembrar aqui a ótima temporada para os independentes, como o pessoal da Café Espacial, José Aguiar e André Diniz, a galera do Tarja Preta e Danilo Beyruth, que finalmente tem tido mais atenção para seu excelente trabalho em "Necronauta". A primeira posição vai para Marcello Quintanilha, que ofereceu deliciosas crônicas gráficas cheias de Nelson Rodrigues e carioquices, em um belo álbum, que remete àquela preocupação artística e nacional de europeus como os espanhóis.
1º - "Sábado dos Meus Amores", de Marcello Quintanilha (Conrad Editora)
2º - "É Tudo Mais ou Menos Verdade", de Allan Sieber (Desiderata)
3º - "MSP50 - Mauricio de Sousa por 50 Artistas", vários (Panini Comics)
4º - "Necronauta – Volume 1: O Soldado Assombrado e Outras Histórias", de Danilo Beyruth (HQM Editora)
5º - "Vida Boa", de Fábio Zimbres (Zarabatana Books)
Menção honrosa - "Flores manchadas de sangue", de Cláudio Seto (Devir Livraria)
GAMES
Este foi o ano em que o PS3 (Sony) se consolidou, o Wii (Nintendo) passou pelas suas primeiras crises e o X-Box 360 (Microsoft) anunciou tecnologia promissora para um futuro próximo. Entre os lançamentos de 2009, o que mais gostei foi o Role Playing Game ''Dragon Age: Origins'', que consegue deixar os fãs desse tipo de jogo imersos em um mundo de fantasia medieval por dias a fio.
1º - Dragon Age: Origins (PS3, XBox 360 e PC)
2º - Call of Duty: Modern Warfare 2 (PS3, Xbox 360 e PC)
3º - Drake's Fortune 2: Among Thieves (PS3)
4º - UFC 2009 Undisputed (PS3 e Xbox 360)
5º - Left For Dead 2 (XBox 360 e PC)
Menção honrosa - Scribblenauts (Nintendo DS)
SERIADOS
Além de estreias bacanas, como a da transgressora ''Misfits'' e da engraçadinha ''Community'', tivemos em 2009 a histórica reunião do elenco de Seinfeld na série do genial Larry David. Espero que ele não pare por aí e continue constragendo todo mundo com seu humor ácido e banal.
1º - Curb Your Enthusiasm: 7ª Temporada (HBO)
2º - The Big Bang Theory: 3ª Temporada (CBS)
3º - House: 6ª Temporada (Fox)
4º - Dexter: 4ª Temporada (Showtime)
5º - Misfits: 1ª Temporada (Clerkenwell Films)
Menção honrosa - Community: 1ª Temporada
E aí? Concordou? Discordou? Bem, listas só servem para isso mesmo, para gerar discussão e relembrar os destaques do ano. A coluna se despede dos leitores desejando um feliz Ano Novo e tudo de bom para 2010, com muitas coisas bacanas e divertidas no cenário pop. Enquanto isso, fique com um artigo que escrevi sobre o vindouro filme "Homem de Ferro 2" e mais resenhas sobre lançamentos do finalzinho de 2009. Até mais!
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''Homem de Ferro'' define Universo Marvel nas telonas
Em uma manobra nunca vista antes no entretenimento, editora e divisão de filmes se unem para atualizar personagens e ganhar público
Homem de Ferro, Thor o Capitão América. O núcleo central dos Vingadores, a equipe clássica e símbolo do heroísmo da Marvel Comics, foi separado há seis anos. Em 2010, eles vão se unir uma vez mais, dando o início a um período que vem sendo chamado de ''Era Heróica'' da história dos quadrinhos. E esse momento terá um grande impacto também nas telonas.
Em uma proposta ousada, a Marvel Films quer ser a primeira editora a ter um universo de personagens interagindo no cinema. A largada foi dada com ''Homem de Ferro'' e a sequência, já alardeada após o primeiro trailer, vai definitivamente abrir caminho para uma trama que vai atravessar o calendário do entrenimento durante os próximos dois ou três anos.
Tudo começou há mais ou menos seis anos, quando o esperto roteirista Brian Michael Bendis propôs uma saga de proporções gigantescas, que atravessaria por anos todos os títulos, envolvendo pelo menos 60% ou 70% daqueles que a Marvel Comics mais valoriza. Ao que parece, a Marvel Films, muito atenta depois de ver a invejável rentabilidade conseguida pela Fox e pela Columbia com X-Men e Homem Aranha -até hoje com direitos retidos nessas empresas-, decidiu pesquisar o que seria uma boa adaptação direto das bocas de quem sabem mais sobre os personagens: os quadrinhistas e os leitores, que amam esses super-heróis.
O que Bendis propôs faz sentido, principalmente para os mais jovens. ''Que grande razão uniria Homem de Ferro, Thor e Capitão América, seres tão poderosos? E por que um industrialista alcoólatra bilionário aceitaria conviver com um deus nórdico arrogante e um soldado romântico vindo da década de 40?'' Então ele chegou a uma resposta. ''Eles simplesmente não conviveriam tão fácil.''
Foi aí que o Universo Marvel foi caindo, saga após saga, com mortes, destruição, invasão alienígena e a tomada do poder pelos vilões. Esse momento acontece atualmente na cronologia brasileira. Nos Estados Unidos, o período está terminando, com a chegada de essa ''Era Heróica''. O Homem de Ferro é um fugitivo do governo que precisou se ''desconstruir'' para encontrar sua essência. Thor acabou de retornar depois de passar um tempo sumido, voltou mais calado e furioso, mais arrogante e poderoso, está disposto a lutar por Asgard, agora na Terra.
A união do trio para a (re)criação dos Vingadores no papel deve acontecer simultaneamente com os filmes, em algo nunca antes feito na história do entretenimento. E o sucesso de ''Homem de Ferro 2'' pode ter um grande impacto no futuro dos negócios entre os conglomerados Time/Warner e Disney/Marvel, que controlam a DC Comics e a Marvel Comics.
''Homem de Ferro 2'', previsto para 7 de maio de, estreia um arco de histórias que teve um prelúdio em ''Homem de Ferro'' e ''O Incrível Hulk'', vai passar por ''Thor'', em 20 de maio de 2011, e ''First Avenger: Captain America'', em 22 de julho de 2011; e encerra em ''The Avengers'', em 4 de maio de 2012.
Na sequência, Tony Stark (Robert Downey Jr.), agora conhecido como Homem de Ferro, é pressionado pelo governo, que quer a tecnologia da armadura para fins bélicos. Stark recusa a Iniciativa Vingadores e passa então a ser espionado enquanto enfrenta o vilão Chicote Negro (Mickey Rourke) e o industrialista rival Justin Hammer (Sam Rockwell). Além da tão aguardada presença da Máquina de Combate (Don Cheadle), o filme vai trazer dicas de como as vidas de Stark, Thor e Capitão América vão se entrelaçar em breve.
Além de um elenco de primeira e de um roteiro que agrada fãs e o público em geral, as informações de ''Thor'' também animam. O filme, já em pré-produção, será dirigido por Kenneth Branagh e terá a presença de Natalie Portman, Anthony Hopkins, Rene Russo, entre outros, em uma história de origem, em que o Deus do Trovão precisa aprender com os mortais o que é ter humildade, ao ganhar o alter-ego de um médico manco. ''The First Avenger: Captain America'', com direção de John Johnston (''O Lobisomem'') tem início das filmagens agendado para junho de 2010.
O horizonte é promissor e até agora a participação da Disney nos negócios aquecidos da Marvel não tem interferido no processo. Se a divisão de filmes da empresa mantiver a mentalidade de contratar as pessoas certas e o ouvido atento ao público de quadrinhos, terá enfim seu grande universo de mais de 60 anos de história nas telonas. E imagine se ela conseguir de volta os direitos autorais que hoje cobiça. Veríamos Homem-Aranha e Demolidor, Wolverine versus Hulk, Quarteto Fantástico e Vingadores e por aí vai...
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JOHNNY CASH WESTERN
Biografia em quadrinhos do ''Homem de Preto'' revê a carreira do músico com pitadas de faroeste
''Atirei em um homem em Reno só para vê-lo morrer.'' A frase, do célebre sucesso ''Folsom Prison Blues'', canção do falecido Johnny Cash, já seria o suficiente para ganhar a simpatia de todos os presos da penitenciária. Mas foi seu comportamento explosivo, o talento indiscutível e as canções de um coração temperamental é que transformou do ''Homem de Preto'' um ícone tão carismático na música. A carreira do artista volta a ser assunto com o lançamento de ''Johnny Cash - Uma Biografia'', quadrinho do alemão Reinhard Kleist, lançado no Brasil pela editora 8Inverso Graphics.
A biografia em quadrinhos de Kleist toma como destaque em sua narrativa a prisão de Johnny Cash. É a partir da penitenciária que o leitor se encontra com o contador da história, um dos colegas de cela do músico. E é com ele que a vida de Cash vai desfilando pelas páginas, desde a infância nos Estados Unidos afundado na recessão dos anos 30, passando pela gravação ao lado de Elvis Presley, seguindo com o encontro com Bob Dylon e o romance com June Carter, até o final, já em nossos anos 2000, com a consagração definitiva.
Kleist, que esteve recentemente no Brasil, admitiu não ser tão fã assim de Cash - só definiu que contaria essa história na fase final do projeto - e é um hábil contador de histórias. Seus traços são simples e seu controle da pena em preto e branco e tons de cinza fluem em total harmonia com seus textos, cortes e sequências. A grande sacada desta edição foi a de recriar visualmente as canções do ''Homem de Preto'': é nesse momento que o autor pode ''viajar'' e transformar em imagens as letras das canções, com pitadas da estética vinda do western, pois o alemão é fã de faroeste.
A exemplo de como Kleist se sentiu ao ver ''Johnny e June'', o leitor pode ir no mesmo caminho: ambas exploram bem a prisão de Cash, mas ambas vão em diferentes direções. Em comum, a exatalção de uma história curiosa de uma vida cheia de altos e baixos, de um dos maiores nomes da música country e mundial. Vale até ler um e assistir o outro. E, claro, ouvir também.
ESTAÇÃO LUZ
Quando Guilherme Fonseca deixou Curitiba rumo a São Paulo, em 1990, ficou fascinado pela paisagem urbana paulistana. Aquilo seria um terreno fértil para sua imaginação. Passaram os anos e somente após a leitura de ''Fausto'', de Goethe, é que ele encontrou os elementos que precisavam para contar uma história. Nasceu ali então a graphic novel nacional ''Estação Luz'', lançamento da Devir Livraria.
O álbum conta a história de Wagner, um professor entendiado com o cotidiano repetitivo e sem grandes emoções. Depois de um encontro um tanto quanto verbal com um simples andarilho, sua vida começa a mudar. Wagner, aos poucos, vai aceitando condições em troca de excitação, o que pode levá-lo para um caminho obscuro.
Guilherme, que já trabalhou em storyboards para os filmes ''O Cheiro do Ralo'' e ''À Deriva'', ambos de Heitor Dalia, busca também esse olhar cinematográfico para ''Estação Luz''. O visual chama a atenção, não pelas belas cores na arte de Renoir Santos, mas também pelo apelo popular: é fácil identificar cenários do dia-a-dia paulistano, como a própria estação de metrô do bairro da Luz e a Galeria do Rock, entre outras locações reconhecíveis do Centro Velho de São Paulo.
Além da história, ''Estação Luz'' vem também com interessantes prefácio e posfácio, inclusive com o detalhamento do curioso processo de produção. A edição se autointitula uma graphic novel com ares de produção hollywoodiana mas é apenas uma bom conto visual com elementos fantásticos. Nada mais e nada menos.
SERVIÇO
- ''Johnny Cash - Uma Biografia'' tem 224 páginas no formato 17 x 24 cm, com capa colorida e interior em preto e branco e custa R$ 44.
- Já ''Estação Luz'' tem 80 páginas no formato 16,5 x 24 cm, com capa e interior coloridos, a R$ 25.
O material citado acima pode ser encontrado em Curitiba na Itiban Comic Shop (Av. Silva Jardim, 845). O telefone de lá é (41) 3232-5367.
A maior parte dos textos publicados nesta coluna foi publicada na Folha de Londrina, tanto na versão impressa quanto na virtual.