A editora norte-americana Marvel Comics, que mantém seu universo de mais de 4.700 personagens da mesma forma como foi concebido, em 1939, começa a estudar a possibilidade de fazer alterações significativas em todas suas revistas. O ponto de partida para a mudança radical estaria no sucesso de uma nova linha de quadrinhos da editora, conhecida como Ultimate (aqui no Brasil denominada Millenium), que têm tido ótima aceitação de fãs e da crítica e vem obtendo bons resultados comerciais.
Acabar com o universo Marvel significa mexer com uma linha de produção que domina 36% do mercado de quadrinhos nos Estados Unidos atualmente. Antes de mais nada, é importante ressaltar que o universo da editora - ou quadriverso - é a realidade que mantém coesa e interligada a vida de personagens como Hulk, Homem-Aranha, X-Men, Capitão América, entre outros. Salvo em raras excessões, o quadriverso das editoras não se misturam: a cronologia da vida do Homem-Aranha, por exemplo, não interfere as ações de Batman, que pertence ao quadriverso da editora concorrente, a DC Comics.
A idéia de reformular o quadriverso Marvel já é antiga, já que a rival DC Comics atualizou a vida de seus personagens por duas vezes significativas - nas sagas Crise nas Infinitas Terras e Zero Hora - e estabeleceu parâmetros mais atuais para renovar a gama de leitores e satisfazer os antigos fãs. E o estopim veio justamente através de uma idéia parecida com o da DC: como o quadriverso Marvel sofria com a falta de criatividade e continuidade, além de aos poucos estar perdendo a essência de seus personagens no cenário atual (Capitão América, por exemplo, foi criado em plena Segunda Guerra Mundial), a editora começou a repensar seus personagens.
Para reforçar a criação de um universo paralelo, vieram os sucessos de adaptações para as telonas, como X-Men, Blade e Homem-Aranha.
Foi aí que criaram o quadriverso Ultimate Marvel, recontando as histórias dos personagens clássicos para a geração de leitores do século XXI. O Peter Parker (mais conhecido como Homem-Aranha) de Ultimate, por exemplo, deixa de ser o fotógrafo concebido nos anos 70 para também ser responsável pela atualização do Daily Bugle, onde trabalha, na internet. Mas as mudanças não páram por aí: tanto Parker, como os X-Men e os Vingadores ganham versões mais ousadas, menos fantasiadas, mais humanas e reais, principalmente depois dos eventos do dia 11 de setembro (em que os heróis do dia foram os bombeiros, policiais, enfim, pessoas ''comuns''). O sucesso em vendas foi imediato e a identificação com os leitores, peça-chave da editora durante anos, voltou a ser uma realidade.
Com isso, a Marvel começa a dar dicas de uma possível transição do quadriverso Marvel para o Ultimate. Duas mini-séries vão mostrar como seria o fim dos tempos em X-Men: The End e Hulk: The End. Para aumentar ainda mais as suspeitas do fim do universo regular da editora, foi anunciado também o lançamento de Marvel Universe: The End, em que um dos maiores vilões, Thanos, estaria envolvido na destruição do universo Marvel.
Por enquanto ainda há muita especulação sobre o assunto, mas é certo que o sucesso de filmes ainda mais realistas dos heróis Marvel que estão por vir - como Demolidor, Hulk, X-Men 2, Homem-Aranha 2, Namor, entre outros - podem realmente decretar o fim do quadriverso Marvel como todos o conhecem atualmente. Os fãs irão, com certeza, protestar mas até aí não há nada que uma empresa do porte como a Marvel não consiga fazer com uma boa jogada de marketing. Além disso, para uma das maiores produtoras de quadrinhos do mundo, o fim de seu quadriverso significa também um novo início de uma era ainda mais lucrativa. É esperar para ver.
Música+Quadrinhos: R.E.M+Ultimate X-Men