Injustiça. Foi o que muitos leitores pensaram quando eu deixei de fora os quadrinhos japoneses - poderosos mangás - de fora da lista de publicações encontradas no mercado nacional de HQs. Mas foi proposital, juro.
O mangá teve projeção no Brasil apenas depois da introdução de animes (como são chamados os desenhos animados japoneses) em solo tupiniquim. Speed Racer, que foi transmitido aqui entre o fim dos anos 70 e início dos anos 80, foi, com certeza, a força propulsora para uma geração de fãs de desenhos animados e mangás. Nesta mesma época, seriados japoneses de monstros e heróis com aparência tosca, como Godzilla, Ultraman e Spectreman, também começaram a ser apresentados para os brasileiros.
Aos poucos, o público daqui foi se familiarizando com a cultura e a diferente maneira de contar histórias proporcionadas pelos orientais. Piratas do Espaço, animação que foi transmitida no Brasil em meados dos anos 80, é ainda hoje uma das referências dos nostálgicos fãs de desenhos e HQs que viveram aquela época.
Depois da chegada, e já mais confortáveis, os japoneses foram desbravando os espaço nas tevês com inúmeras versões de Changeman, até chegar aos famigerados Power Rangers. Mas foi com a explosão mundial de Akira (no início dos anos 90), Cavaleiros do Zodíaco (na metade dos anos 90) e Dragon Ball Z (já perto do século XXI) que a febre oriental dominou os HQmaníacos do mundo todo.
Nos Estados Unidos, por exemplo, existem subselos especializados para mangás, como na Dark Horse e na Marvel. Heróis como X-Men e Homem-Aranha chegaram a figurar em publicações próprias na Terra do Sol Nascente, como prova da aceitação do mangá entre as grandes editoras.
Mas o que chama tanta a atenção nessas publicações?
De acordo com Eliane Sakaizawa, que acompanha o mangá há pelo menos 12 anos, as histórias produzidas pelos japoneses trazem um cotidiano mais próximo dos leitores. No desenrolar das tramas, que dura anos, os personagens crescem e passam por dificuldades de cada idade, têm filhos, netos, envelhecem. "Além disso, a arte é mais detalhada nos cenários, os japoneses são mais pacientes na hora de desenhar e trabalhar a arte-final", complementa.
A desenhista e professora de produção de mangás da Gibiteca de Londrina, Karina Horita, acha que os norte-americanos detalham mais, no entanto, ela entende que o excesso de balões complica a visualização e o ritmo da história. "Os quinze alunos que tenho preferem o mangá porque são mais simples de entender", diz. Horita afirma que os japoneses dão prioridade à ação da história e são minuciosos nas expressões dos sentimentos. A atenção dada ao lado afetivo dos personagens talvez leve também as garotas a serem as maiores consumidoras do setor. "De todas as pessoas que conheço, os fãs de mangás e animes são, a maioria, meninas". Uma das características marcantes fica também evidente na censura: os japoneses são mais suscetíveis à violência e ao erotismo.
Ambas as leitoras concordam que a vedete do quadrinho nacional é a revista Dragon Ball, baseada na série homônima. E, com o aumento do número de fãs, as editoras nacionais decidiram dar espaço para outras histórias até mais direcionadas, como Vagabond, que conta a história de Musashi, herói lendário da cultura japonesa. Entre as revistas encontradas nas bancas, o destaque também fica para Combo Rangers, de Fábio Yabu, e Holy Avenger, de Marcelo Cassaro e Erika Awano, ambas feitas aqui mesmo.
Para ilustrar melhor como a importância do quadrinho oriental afetou as produções em todo setor cultural, basta dar uma espiada em Mangá, o poder dos quadrinhos japoneses, livro da pesquisadora de HQs e doutora em Ciências da Comunicação pela ECA/USP, Sonia Bibe Luyten.
Bom espero que justiça tenha sido feita.
Publicações no Brasil
Conrad Editora:
- Dragon Ball
- Dragon Ball Z
- Cavaleiros do Zodíaco
- Evangelion
- Vagabond
JBC
- Sakura Card Captors
- Samurai X
- Video Girl A.I.
- Guerreiras Mágicas de Rayheart
- Combo Rangers
Mythos
- Superalmanaque Mangá (AT Lady, Geobreeders, Sorcery Hunters)
- Dirty Pair
- Guerreiros Errantes
- Echo
- Warlands
Trama
Holy Avenger
Música+Quadrinhos: Ministry+Vagabond