Depois de Demolidor, Blade e X-Men, o incrível Hulk entra para a fila de personagens da Marvel que agora têm seus equivalentes na telona só neste ano. Mas muitos que não conhecem insistem em perguntar: o que um troglodita verde que fica grasnando vestido com uma calça roxa rasgada tem de tão especial?
O Incrível Hulk é cria dos aclamados Stan Lee e Jack Kirby e foi concebido em 1962. Por um erro de impressão, o então monstro cinzento saiu verde e deu lugar a criatura conhecida carinhosamente pelos fãs como o Golias Esmeralda. As revistas narram a trajetória do descontrolado Robert Bruce Banner, um cientista que, obcecado pela criação de uma bomba, acaba se envolvendo em um acidente e, na explosão, é irradiado pelos espantosos (e fictícios) raios Gama. A partir daí, quando suas emoções são levadas ao limite, a figura humana dá lugar a um monstro invencível, que quanto mais nervoso, mais forte fica.
Logo os fãs se identificaram pela brutalidade do alter-ego de Banner, associada ao lado irracional que todo mundo admite ter. Mas, para que as histórias do Golias Esmeralda deixassem de ser encaradas como um punhado de páginas sobre um monstro que bate em todo mundo, foi preciso que os roteiristas entendessem melhor o personagem. A complexidade da psiquê do cientista, que sofreu abusos do pai durante a infância, acrescentou possibilidades de história baseadas em sua maldição.
Dois momentos na fase do herói revelam bastante essa análise sobre a personalidade de Hulk. Na edição número 90 da extinta revista O Incrível Hulk (editora Abril), o personagem é banido para uma encruzilhada dimensional e é obrigado a lidar com seu descontrole para sobreviver em um mundo completamente diferente do nosso.
Porém, nenhuma outra época pode ilustrar melhor o que Hulk representa e como ele foi tratado no cinema quanto o arco de histórias iniciado no número 134. O escritor Peter David e o ilustrador Dale Keown finalmente revelam a razão de Hulk ser o que é. Na verdade, Bruce Banner sofre de algo próximo a esquizofrenia (possivelmente por traumas de infância) e já demonstrava traços de violência e insanidade antes mesmo de se tornar o monstro. Suas múltiplas personalidades só fugiram do controle quando o homem deu lugar à besta. E é exatamente aí que o personagem deixa de ser comum, principalmente na reflexão sobre como a sociedade enxerga o Hulk.
Banner/Hulk deixou de ser uma versão moderna de Jekill/Hyde - do clássico O Médico e Monstro, de Robert Louis Stevenson- e passou a representar o quadrinho comercial que explora a loucura através de um assunto de época. Em 1970 o mundo vivia a era radioativa, em plena corrida nuclear pós-guerra mundial. Hoje, o medo passou para a possibilidade genética de se criar aberrações. A partir daí, a sétima arte se encarrega, então, de dar novas nuances para a já consagrada história de personagens de quadrinhos e Hulk não é exceção.
X-Men virou ficção científica, Homem-Aranha parece aqueles blockbusters de ação e romance dos anos 80, Demolidor representa as aventuras insossas de Van Damme. E Hulk passa a ser, nas mãos do diretor Ang Lee, um filme de drama, algo inédito para uma adaptação de quadrinhos até hoje.
Música+Quadrinhos: Jimmy Eat World+Hulk