Na última semana, uma das representantes do grupo Hasbro proibiu a Devir Livraria - uma das maiores distribuidoras de histórias em quadrinhos importadas no Brasil - de comercializar suas revistas fora dos Estados Unidos. As séries afetadas foram, principalmente, as linhas recém-lançadas do revival de personagens consagrados nos anos 80, como Transformers, G.I. Joe (Comandos em Ação) e Masters of the Universe (He-Man). A decisão, já tomada pela Dark Horse (a editora restringiu a comercialização de Lobo Solitário e Akira fora dos EUA) acabou contagiando outras empresas, como a Viz Comics, que também limitou a distribuição de alguns quadrinhos japoneses, conhecidos como mangá. Grandes editoras, como Marvel e DC, não tem um contrato ou não há legislação específica que estabeleça distribuição em outros países sem o prévio licenciamento da detentora dos direitos, no caso a Hasbro.
A notícia não caiu exatamente como uma bomba no mercado brasileiro de quadrinhos, mas levantou algumas questões sobre a legislação e o atual quadro em que vive os editores e os leitores de quadrinhos. O dono da loja especializada em quadrinhos Itiban, em Curitiba, Luiz Francisco Utrabo, comentou a decisão como forma de reserva de mercado. "As pessoas que negociam esses contratos atualmente não são as mesmas pessoas que negociaram anos atrás e algumas cláusulas foram revistas de acordo com as mudanças na economia", explica. É importante lembrar que a restrição dos personagens não atinge somente as revistas, mas também todo o material de merchandising (bonés, camisetas e bonecos, por exemplo).
Utrabo disse que, por enquanto, a alta do dólar afeta mais a distribuição dos importados do que esse tipo de restrição. "O preço é que importa. Se uma pessoa não encontra a revista aqui ou na Devir, ela acaba encontrando em outro lugar", completa. Mas e se houvesse restrição total do material importado? O proprietário da Batbanca, em Londrina, Eduardo Baggio, afirma que aproximadamente 50% dos lucros da loja poderiam estar comprometidos. E, perguntados sobre uma possível valorização do mercado nacional e das histórias produzidas por autores tupiniquins, os dois proprietários tiveram a mesma opinião: não haveria crescimento do mercado editorial brasileiro até que todas as publicações lançadas aqui alcançassem a qualidade do importado, como já acontece com diversas edições das editoras Panini, Brainstore e Devir, por exemplo.
O editor Kipper, responsável pela revista de quadrinhos nacionais Front, afirmou que a decisão da Hasbro não tem uma relação direta com o material feito aqui mas concordou que os autores nacionais precisam buscar um nível editoral de qualidade. "Uma revista americana ruim, como He-Man, também pode ser feita do mesmo jeito aqui. O importante é fazer coisa de qualidade, o que dificilmente é encontrado no Brasil. Mas acho que qualquer barreira criada para chegar a todo tipo de publicação é ruim", completa.
Já para o leitor Cristiano Lira, que chegava a gastar R$ 60,00 com revistas importadas, a restrição não é apenas prejudicial por limitar a opção de revistas mas por evidenciar problemas até então ignorados pelas editoras. "Com a distribuição limitada, teremos menos diversidade, mas o problema é: se uma empresa como a Marvel não tem licença sobre seu material, como funciona essa legislação?"
A pergunta vai ecoar ainda por algum tempo até que outras medidas do tipo aconteçam e as empresas recorram das decisões. Mas o que fica evidente para os leitores, editores e produtores de quadrinhos é que a indústria de quadrinhos ainda não está preparada para os efeitos da globalização na economia mundial.
Música+Quadrinhos: International (Noise) Conspiracy+G.I. Joe