Quadrinhos

Excêntrico, humano e incorruptível

31 dez 1969 às 21:33

Curitiba - Encerra no Brasil um dos melhores arcos de Superman nos últimos anos. ''Grandes Astros: Superman'', a edição número 12, traz o desfecho do mito do Homem de Aço reinventado pelo escritor Grant Morrison e o desenhista Frank Quitely. A série, escrita para aventuras fora da cronologia do universo DC Comics, serviu para que artistas talentosos emprestassem uma visão mais radical e autoral sobre personagens icônicos. A publicação nacional é da Panini Comics.

Para quem não acompanhou coisa alguma de ''Grandes Astros: Superman'' até aqui, os números anteriores são baseados no díficil cotidiano de Clark Kent/Superman/Kal-El e o quase infalível plano de Lex Luthor de destruir seu nêmesis com uma dose letal de superexposição da energia solar.


Nesta derradeira edição, Lex consegue os poderes de Superman, que, esgotado após um confronto com a criatura Solaris, precisa deter seu nêmesis exercitando o cérebro ao invés dos músculos, em uma interessante inversão de papéis. O que se vê é pancadaria e deliciosos diálogos entre os arquiinimigos nas ruas de Metrópolis.


Assim como havia feito em ''Sete Soldados da Vitória'', Morrison demonstra sua já conhecida habilidade em costurar referências de toda a mitologia do herói, pitadas de cultura pop, complexidade e motivações mais verossímeis em histórias autocontidas. Dessa forma, o roteirista escocês consegue, como poucos, agradar os leitores mais novos e os veteranos.


Desde a primeira edição, os leitores foram apresentados a um universo mais ''sci-fi'' do que as tradicionais aventuras de Superman, um cenário à beira do cyberpunk. Kal-El, em ''Grandes Astros'', também recebeu o status de um super-herói excêntrico, com poder de alcance muito além da órbita terrestre.


A série, vencedora do prêmio Eisner, explorou o romance com Lois Lane, o passado em Smallville, a divertida participação de Jimmy Olsen e Bizarro, aparições inusitadas de Flash e Lanterna Verde, além de um curioso relacionamento com seus pares de Krypton. Aliás, a ''Nova Krypton'' citada em ''Grandes Astros'' foi levada a sério pela editoria de Superman, que atualmente explora esse assunto no título mensal do universo DC nos Estados Unidos.


Grande responsável pelo sucesso, o ilustrador Quitely também caprichou. O estilo ''Moebius'', de traços finos e detalhados, acrescentou mais personalidade ao Homem de Aço, principalmente quando a postura de Superman é comparada com a de Clark Kent. O talento do desenhista também é essencial para que os leitores tenham uma melhor dimensão dos poderes do super-herói, assim como a ambientação sci-fi. Sua noção tridimensional do desenho e a narrativa com ''ação silenciosa'' -sem o uso de onomatopéias- sugere grandes sequências ao leitor, um divertido exercício criativo.


Ao final, a grande mensagem que fica no arco de Morrison e Quitely vem do óbvio, mas de maneira nada convencional. De forma simples e original, a dupla mostra a razão pela qual podem existir centenas de Supermen, mas nenhum deles como Clark Kent: um ser com poderes alienígenas e coração terrestre, capaz de ultrapassar seu próprio mito a partir de grande senso de justiça e sacrifícios dignos de um herói incorruptível.



NÍQUEL NÁUSEA


Difícil lembrar de alguém que lance com tanta regularidade uma coletânea de tiras no Brasil como Fernando Gonsales. E o autor conta com mais uma edição nas prateleiras neste início de 2009, a oitava pela Devir Livraria, ''Níquel Náusea: Em boca fechada não entra mosca''.


O material conta com 200 tiras de personagens já consagrados junto ao público, seja pelos álbuns ou por meio das tiras do jornal Folha de S. Paulo, que publica o material de Gonsales desde 1985. Rato Ruter, Gatinha, Fliti, entre outros, oferecem deliciosas metáforas e engraçadas situações de duplo sentido.


É notável o aumento da participação dos seres humanos nas tiras, até porque fica difícil falar dos mesmos só por meio dos bichinhos em tanto tempo, mesmo o autor tendo sua formação em Veterinária. Depois de ''Com mil demônios'', ''Botando os bodes de fora'', ''Nem tudo que balança cai'', ''Vá pentear macacos'', ''A perereca da vizinha'', ''Tédio no chiqueiro'' e ''Minha mulher é uma galinha'', ''Em boca fechada não entra mosca'' aposta em mais do mesmo e acerta na mosca, com o perdão do trocadilho, em mais uma boa leva de humor atemporal.



SERVIÇO


- ''Grandes Astros: Superman 12'', da Panini Comics, tem formato americano (17 x 26 cm), com 28 páginas coloridas, a R$ 3,90.


- ''Níquel Náusea - Em boca fechada não entra mosca'', da Devir Livraria, sai no formato 21 x 28 cm e 48 páginas coloridas, a R$ 24.

O material citado acima pode ser encontrado em Curitiba na Itiban Comic Shop: Av. Silva Jardim, 845. Fone: (41) 3232-5367.


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