Curitiba - Será mesmo que uma mentira contada à exaustão acaba se transformando em verdade? É o que Will Eisner, em um de seus últimos trabalhos em vida, tenta provar que não, uma farsa não pode se sustentar assim por tanto tempo. A falcatrua em questão são os Protocolos dos Sábios de Sião, documentos que provariam um plano judaico de dominação do mundo. Esse é o tema de O Complô, lançado por aqui pela Companhia das Letras.
Segundo o próprio autor do prefácio -e que presença nobre, diga-se de passagem-, o escritor e semiólogo Umberto Eco, os Protocolos foram colados por serviços secretos e polícias de três países. Os textos do francês Maurício Joly, mescla de realidade com ficção, seriam os antecessores dos Protocolos, que acabaram sendo ''aprofundados'' através do romance Biarritz, do alemão Hermann Godsche, responsável por reproduzir em seus relatos uma cena de Joseph Balsamo, do francês Alexandre Dumas.
A partir de então, desde os panfletos russos, passando pela imprensa dos séculos anteriores, os Protocolos volta e meia retornam à mídia. E é justamente essa mensagem anti-semita que o mestre dos quadrinhos tenta combater com O Complô.
Eisner parte de Maurício Joly para construir a história de como os Protocolos foram montados, a partir de pesquisas sobre o assunto. O próprio criador define sua obra como ''um afastamento das simples histórias em quadrinhos, um esforço em usar esse poderoso meio para tratar de um assunto de enorme preocupação pessoal''.
A edição traz a tradicional narrativa de Eisner, bem fluída e dinâmica. É uma das raras oportunidades de ver em algumas passagens o traço mais cru do finado artista, praticamente com o nanquim sobre esboços toscos, o que não se costuma ver em seus álbuns anteriores. Um fato curioso: Eisner usa das pesquisas para ''romancear'' a história e, consciente ou não disso, acaba causando uma metalinguagem, mais ou menos acidental. Afinal de contas, se os Protocolos foram montados a partir de fatos quase verossímeis, pode-se dizer que algo semelhante acontece com O Complô.
Como todos que já leram Eisner um dia na vida sabem, o autor sofreu bastante o preconceito por ser judeu durante sua infância e adolescência. Se em alguns álbuns essa insistência anti-semita chegava a ser um pouco exagerada, aqui ela acontece o tempo todo. Se você gosta mesmo dos projetos menos pretensiosos e mais divertidos do autor, então é melhor voltar a ler 'Avenida Dropsie' ou 'Spirit'. Apenas um ponto negativo para a Companhia das Letras: apesar do nome da editora, as fontes, principalmente os negritos, apresentam-se conflitantes com as ilustrações.
INVENCÍVEL - VOLUME DOIS: OITO É DEMAIS
O aprendiz de super-herói Mark, o Invencível, volta às bancas, mais uma vez pela editora HQ Maniacs. Este volume dois narra mais um capítulo da saga da jovem promessa, que desta vez inicia a revista em um confronto um tanto divertido com um alienígena na atmosfera da Terra.
O roteirista-sensação Robert Kirkman mais uma vez mostra que assistiu bastante aqueles filmes colegiais dos anos 80 e sabe contar essas histórias despretensiosas que agrada todo mundo de todas as idades. Sabe a vontade de ver de novo uma película ''Sessão da Tarde'' mesmo depois de já ter entendido a projeção? Isso acontece com Invecível.
Kirkman deixou o roteiro um pouco mais cadenciado, apesar de sempre priorizar a ação e os diálogos simples e rápidos. É bem verdade que os desenhos de Cory Walker, extremamente eficazes e adequados, ajudam bastante. Até mesmo sua substituição por Ryan Ottley não é lá muito notada, já que ambos carregam o estilo ideal para esse tipo de publicação.
Em Oito é Demais já dá pra perceber que a revista foi bem-sucedida nos Estados Unidos, simplesmente pelo fato de que há auto-referências -como aparições de outros personagens da Image, como Savage Dragon- e um interessante comentário de Erik Larsen (ex-desenhista do Homem-Aranha e criador do Savage Dragon), no prefácio.
Ah, claro, não poderia esquecer dos extras. É sempre bem legal acompanhar o processo de criação dos autores, especialmente aquelas piadinhas infames que recheiam as notas dos artistas.
ESMAGA-PREÇOS NA ITIBAN
Não, não é uma visita inesperada do Hulk, mas todos que estiverem na Itiban, em Curitiba, no dia 15 de novembro vão poder conferir muito quadrinho com preços bem acessíveis. É mais uma edição da promoção da loja, que coloca à disposição material não-lançamento com até 50% de desconto. Uma boa oportunidade para completar aquela coleção.
As descoladas camisetas da Candyland também estarão com preços mais baratos e, como acontece normalmente, os álbuns da Conrad Editora têm 20% de desconto. A única restrição é com relação ao pagamento, que deve ser feito à vista, em grana ou cheque.
Pra completar, o pessoal da revista Quadrinhópolis, que recentemente realizou exposição e lançamento especial, vai estar no local para bater um papo e divulgar a produção. Taí um bom programa para o tradicional dia da ressaca do feriado de 15 de novembro.
Serviço - O Complô tem capa dura com miolo em preto-e-branco, em 160 páginas, e custa R$ 36. Invencível - Volume Dois: Oito é Demais, vem com capa com orelhas, miolo colorido, tem 124 páginas e custa R$ 28,90.
O material citado acima pode ser encontrado em Curitiba na Itiban Comic Shop: Av. Silva Jardim, 845. Fone: (41) 3232-5367.
Música+Quadrinhos: Flogging Molly+Invencível