Dizer que Will Eisner é o grande mestre do quadrinhos é chover no molhado. Mas a novidade por aqui é o lançamento no Brasil de sua mais nova graphic novel, intitulada O Nome do Jogo, publicada neste mês pela editora nacional Devir.
Eisner nasceu em Nova York, em 1917, e estreou no mercado editorial de quadrinhos norte-americanos em 1936, quando se formou no New York Art Students League. O autor criou várias revistas e personagens, como Sheena, a Rainha das Selvas, O Gavião dos Mares, Tio Sam, Sr. Místico, K-5, mas nenhum deles tornou-se tão popular quanto Spirit. As aventuras sobre combatente mascarado do crime, criado em 1940, não só trouxe um herói mais humano, cheio de imperfeições, como também revolucionou a narrativa da arte sequencial: Eisner introduziu elementos do expressionismo alemão em seus desenhos e inventou uma nova forma de fazer e de ler quadrinhos.
Não é a toa que seu mais famoso livro Quadrinhos e Arte Sequencial é até hoje uma das bíblias para todos os interessados no gênero. Além disso, seus álbuns é que viraram referência para a graphic novels no mercado dos quadrinhos: a partir do final da década de 70, com Um Contrato com Deus, obras semelhantes passaram a ser designadas como 'graphic novels' e podiam ser encontradas em livrarias. Reconhecidas como best sellers da mistura entre quadrinhos e literatura, sua obras também foram parar no teatro e até hoje são utilizadas como base para storyboards em todos os tipos de filmes.
A razão por tanto sucesso está na sua forma incomum de narrar uma história em quadrinhos. A começar pelos personagens, que é quem costumam dirigir o roteiro. Na sua maioria, são pessoas normais, do cotidiano, mas todas com sua complexidade tridimensional bem expostas através de seus sentimentos. Eisner costuma basear todas as figuras em referências reais mas cria um plano próprio e irreal de desenvolvimento dinâmico para as emoções. Por isso ele as chama de ''pessoas invisíveis'': elas estão nas ruas mas não podem ser realmente vistas como são de verdade.
Essa visão também é projetada para as imagens, em que o autor brinca com os balões, com o texto, com os planos - muitas vezes várias ações estão sendo executadas em diferentes tempos e lugares em apenas um quadro -, e, principalmente, na forma como expressa as emoções dos personagens. Toda a estrutura dos quadros muda de acordo com o sentimento a ser transmitido para o leitor.
E tudo isso pode ser encontrado em O Nome do Jogo. O álbum narra a trajetória de uma rica família judia em Nova York do início de 1900 até o período pós-Segunda Guerra Mundial. Conrad e Alex Arnheim herdam um rico empreendimento e acabam, aos poucos, destruindo a tradição familiar através dos vícios e da corrupção que assolam a sociedade moderna.
Um dos pontos bastante debatidos por Eisner na história está na forma com que muitos alcançavam o poder nessa época (e, porque não, até hoje). Para ganhar status entre poucos da alta casta, casamentos eram arranjados e alianças eram forjadas em torno do interesse em comum, o dinheiro. Assim como seus últimos trabalhos, o autobiográfico No Coração da Tempestade e O Último Dia no Vietnã, O Nome do Jogo também faz parte da atual fase do autor, que está muito mais concentrada no drama real do que na ficção.
A graphic novel O Nome do Jogo tem 176 páginas, em preto e branco no formato 19,4 cm x 25,5 cm e pode ser encontrada em lojas especializadas ao preço de R$ 32,00.
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