O ''mês do cachorro louco'' ainda nem acabou mas o que é bom tem que ser aguardado com grande expectativa. Por isso mesmo, os fãs de boas histórias em quadrinhos devem esperar ansiosamente pelo lançamento do especial ''Concreto: Uma rocha entre rochas'', que sai em setembro, pela editora Devir.
Concreto é um daqueles personagens que, num primeiro olhar, pode ser subestimado por qualquer leitor, até porque não traz assim muitas novidades. Um grandalhão feito de pedra, forte o suficiente para amassar aço, com o poder de enxergar bem longe, além de ser extremamente resistente (bem parecido com o Coisa, do Quarteto Fantástico). Ele não tem vilões megalomaníacos multicoloridos querendo destruir a Terra e não faz parte de nenhum supergrupo de heróis.
Porém, o que conta mesmo é o rapaz preso dentro do pedregulho. Concreto conseguiu conquistar milhares de fãs por trazer reflexões densas. O questionamento existencialista do personagem o torna humano e aproxima os leitores, que se identificam com a história de um homem em plena transformação e assustado com as mudanças. Ron Lithgow, um redator de campanha de um senador norte-americano acaba sendo sequestrado por alienígenas e recebe uma espécie de casulo extraterrestre, feito de pedra. Ele consegue fugir do cativeiro, juntamente com outro abduzido (um amigo, que se perde durante uma explosão) e, de volta à sociedade, precisa lidar com sua nova condição.
Um situação que traz uma série de perguntas: o que fazer com o novo corpo? Combater o crime? Conquistar o mundo? Tentar voltar à rotina, mesmo com a aparência bizarra? A última questão parece ser a mais sensata, mas Lithgow percebe que isso está longe de acontecer, já que muita gente está interessada em manipular e estudar o grandalhão. Além disso, como alguém feito de pedra conseguirá se relacionar com as pessoas que ama?
A origem do personagem e boa parte das respostas estão nesta edição que sai em setembro. O personagem chegou a ter material publicado no Brasil, as primeiras quatro edições dos dez números iniciais produzidos por Paul Chadwick. Como costumava acontecer, no início da década de 90, a revista, editada então pela Toviassu, teve uma passagem discreta em solo tupiniquim e apenas uns poucos afortunados ainda têm seus exemplares guardados.
A obra não seria assim tão boa não fosse o talento de Paul Chadwick. Quando criou Concreto, em 86, ele reforçou a então onda de artistas que começaram a produzir o chamado ''material de autor''. Ou seja, aquelas histórias roteirizadas, desenhadas, finalizadas, distribuídas e até mesmo vendidas pelo próprio criador, longe do ritmo frenético das grandes editoras, que também se preocupam muito mais com os lucros do que com os leitores.
O resultado é um roteiro bem trabalhado, com uma narrativa bem construída e cheia de detalhes, ao lado de desenhos igualmente impressionantes. A arte, baseada em referências fotográficas, deslumbra pela beleza de paisagens com um estilo parecido com o de ilustradores europeus, rico em minúcias e feitos com traços finos em pena. Aliás, as sequências que revelam a raiva e a tristeza de Concreto, isolado por causa de sua nova condição, são memoráveis.
Chadwick faz parte do seleto grupo de autores da Dark Horse Comics, ao lado de Frank Miller (Sin City), John Byrne (Next Men), Arthur Adams (Monkeyman and O'Brien), Mike Mignola (Hellboy), Geoff Darrow (Hard Boiled) e Dave Gibbons (Watchmen). Como o material autoral demora para sair, Chadwick fez dez edições da revista de Concreto e depois deu uma longa pausa, dedicando-se a outros projetos, inclusive no cinema, com design e storyboard para filmes.
''Concreto: Uma rocha entre rochas'', deve estar nas lojas especializadas na primeira quinzena de setembro. A revista terá 128 páginas, no formato americano (17cm x 26cm) e ainda não tem preço sugerido pela editora.
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