"Leia o livro, veja o filme". Atualmente, a multilinearidade de linguagens que busca adaptações, versões e inspirações em clássicos literários faz com que surjam frases como "Leia o livro, compre o jogo" e até mesmo "Leia o livro, espie o reality show". Tá certo que muitas vezes o que acontece é a degradação da obra original, mas quando bem executadas, essas versões atualizadas dos chamados clássicos não só fazem uma releitura para uma nova geração como também ampliam o universo de autores imortalizados pela literatura.
É o que acontece aqui, especialmente numa série chamada Classics Illustrated. Publicada no Brasil pela Editora Abril no começo dos anos 90, a série trazia adaptações de grandes escritores. O grande destaque das revistas era justamente aquilo que um livro não trazia: conceitos visuais para a construção desses mundos imaginários.
Se por um lado há uma certa restrição ao mundo "desenhado" na mente das pessoas na leitura original, a adaptação em quadrinhos trouxe contornos visuais que permite ao autor propor alterntivas de narrativas: desconcertantes, viscerais, cadenciadas. Em Moby Dick, de Herman Melville, por exemplo, o artista Bill Sienkiewicz sugere uma versão quase onírica da histórias, com arte pintada que busca o expressionismo e em alguns momentos flerta com o surrealismo. Em A Queda da Casa de Usher, de P. Craig Russel e Jay Geldhof, o leitor não só acompanha os detalhes em desenhos (algumas passagens do livro são sutilmente transformadas em imagens) como também pode ser um cúmplice mais íntimo do narrador - ele realmente está observando e conversando com o protagonista.
Existem também HQs obviamente inspiradas em clássicos. O maior exemplo para isso seria a saga de Sandman, escrita pelo shakespeariano Neil Gaiman. Todas as 75 edições da revista são cheias de citações às obras do autor britânico e a própria história de Morpheus (o rei dos sonhos), o personagem principal, é digna de umas tragédias de Shakespeare. Não é a toa que na última edição Morpheus se encontra com William, que lhe entrega a peça A Tempestade, numa conversa entre dois seres imortalizados.
Para surpresa de muitos, essas adaptações e revistas inspiradas em clássicos são muito recomendadas para iniciar novos leitores e, principalmente, impulsionar o contato com obras tão importantes. Ao contrário do que muitos pensam, os quadrinhos são utilizados por muitos professores para incentivar esse tipo de leitura.
É lógico que existem algumas "coisas" bastante dispensáveis, como quadrinizações de livros de Paulo Coelho e as histórias de Spawn baseadas na Divina Comédia, de Dante Alighieri. Mas isso não vale a pena comentar...
Procure, vale a pena:
Classics Illustrated
Moby Dick - de Herman Melville, por Bill Sienkiewicz
Hamlet - de William Shaspeare, por Steven Grant e Tom Mandrake
Conde de Monte Cristo - de Alexandre Dumas, por Steven Grant e Dan Spiegle
Grandes Esperanças - de Charles Dickens, por Rick Geary
A Ilha do Dr. Moreau - de H. G. Wells, por Steven Grant e Eric Vincent
As Aventuras de Tom Sawyer - de Mark Twain, por Michael Ploog
O Morro dos Ventos Uivantes - de Emily Brontë, por Rick Geary
O Homem Invisível - de H.G. Wells, por Rick Geary
Revistas inspiradas em autores clássicos:
Sandman, de Neil Gaiman (William Shakespeare)
As Aventuras da Liga Extraordinária, de Alan Moore e Kevin O'Neill (Bram Stoker, H. R. Haggard, Julio Verne, H. G. Wells, Robert Louis Stevenson)
V de Vingança, de Alan Moore e David Lloyd (George Orwell)
Música+Quadrinhos: Grenade+Sandman