Curitiba - Tarzan, criado em 1912 pelo inventivo escritor Edgar Rice Burroughs, tornou-se um clássico instantâneo logo em suas primeiras tiras, publicadas nas páginas dominicais do tabloide ''New York Mirror'', nos anos 1930. Dali, o Homem-Macaco inspirou um sem-número de leitores de várias gerações, inclusive um garoto, um artista em potencial, chamado Joe Kubert. Esse rapaz cresceu, tornou-se um dos mestres dos quadrinhos e recontou a origem de seu personagem predileto por meio de seus traços. Disso resultou ''Tarzan - A Origem do Homem-Macaco e Outras Histórias'', lançado no Brasil pela Devir Livraria.
Para os mais novos, que não conhecem bem o personagem, está aí a chance de conhecer um clássico: em um universo fantástico ainda sem a presença maciça dos super-heróis - Superman, Batman e Capitão América ainda engatinhavam -, dominavam nas primeiras tiras dos jornais de 1930 histórias que carregavam grande influência literária, a exemplo de Tarzan, O Fantasma, Flash Gordon, Mandrake, entre outros.
Foi nesse contexto que muitos jovens passaram a adorar e desenvolver uma linguagem em ascensão, a dos quadrinhos, e dali renasceram os conceitos de herói, revisitados mais uma vez desde a mitologia grega, só que desta vez na arte sequencial. E Tarzan teve também importância ímpar por carregar influência histórica da época em uma aventura na selva africana, onde um homem podia sobrepujar as mais ferozes criaturas da natureza mas também aprender com elas uma maneira melhor de entender seu convívio com os próprios pares.
Essa coletânea lançada no Brasil reconta a origem de Tarzan com o talento de Joe Kubert, pai de Adam e Andy, reconhecíveis para os leitores mais jovens pelos trabalhos com Hulk, X-Men, Batman, entre outros. O Kubert pai mostra nesta edição porque é mestre, dando uma aula de arte-final com penas e pincéis em quadros de pesquisa sobre peças de época, vegetação e vida animal, além de anatomia. Joe também domina como poucos o equilíbrio entre a narrativa dramática e de ação, com foco nas expressões faciais e corporais.
A publicação da Devir é caprichada e respeita os tons de cores escolhidos na restauração da colorização original de Tatjana Wood. A edição conta também com um interessante prefácio, assinado pelo próprio Joe Kubert, e um apêndice, como informações sobre os criadores. Para comprar, ler e guardar na estante dos clássicos.
SERVIÇO
- ''Tarzan - A Origem do Homem-Macaco e Outras Histórias'' tem 208 páginas coloridas com capa dura, no formato 16 x 24 cm, e custa R$ 49.
PRÍNCIPE DA PÉRSIA AGRADA MAS NÃO SURPREENDE
Jake Gyllenhall, astro de ''Brokeback Mountain'' seria um ator improvável para um filme de ação. E ''Príncipe da Pérsia'', adaptação de videogame oitentista que ganhou roupagem moderninha a partir do final dos anos 90, sempre foi visto com desconfiança, já que nenhuma transposição dos consoles para as telonas foi bem-sucedida até hoje. No entanto, o longa, que entrou em cartaz, apesar de todos os momentos desconexos, deve fazer sucesso, pelos bons momentos do ator e das belas cenas de ação do blockbuster, que deve agradar o público afoito por uma boa aventura com doses de comédia e romance.
A missão de transpor um videogame é sempre difícil, pois os gamers são exigentes e a interatividade dos consoles nunca se transformou em uma experiência tão emocionante, vide desastres como ''Mario Bros.'', ''Mortal Kombat'', ''Street Fighter'', ''Tomb Raider'', entre outros. Assim como ''Príncipe da Pérsia'', são franquias adoradas e, sempre que filmadas, precisam não só agradar o público acostumado com o entretenimento eletrônico quanto o que está atrás de um blockbuster de verão americano.
Pois a Disney e Jerry Bruckheimer, resolveram transformar o game em uma franquia de sucesso. As duas marcas são bem visíveis desde o começo, desde a escolha do ator, alguém que pode atuar e fazer cenas de ação, até a produção, que mantém grande atenção com todos os detalhes de época e figurino, um vislumbre visual para os que procuram toda a beleza de um filme grandioso.
Pena que os detalhes, no entanto, limitam-se às cenas de ação e aos poucos momentos de humor. São incogruentes, por exemplo, sequências em que o protagonista consegue obter uma adaga mágica especial de forma relapsa ou quando alguém transforma um momento dramático em um pastelão.
Bem, a história segue a do jogo ''Areias do Tempo'', em que um príncipe bastardo se vê numa intriga política e precisa provar com sua astúcia e habilidade acrobática que o destino não o escolheu à toa. Ao seu lado, surge uma princesa incômoda e espirituosa, que vai tirá-lo de sua vida de guerreiro medíocre para ser um grande herói.
''Príncipe da Pérsia'' exibe várias das habilidades realizadas pelos jogadores no videogame - inclusive as corridas em paredes e lutas asfixiantes - e tenta repetir o mix de ação, humor, drama e romance combinados na franquia ''Piratas do Caribe'', outro sucesso da dobradinha Bruckheimer e Disney.
Não tem o mesmo apelo e nem mesmo consegue o mesmo êxito do filme de piratas, apesar de repetir a fórmula e conseguir momentos de luz com o alívio cômico de Alfred Molina (o Doutor Octopus de ''Homem-Aranha 2''). Mas deve agradar porque, apesar dos momentos equivocados, mantém uma linha correta e infalível de levar quem só quer mais um filme-pipoca para o período que antecede as férias para o cinema.
O material citado acima pode ser encontrado em Curitiba na Itiban Comic Shop (Av. Silva Jardim, 845). O telefone de lá é (41) 3232-5367.
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A maior parte dos textos publicados nesta coluna foi publicada na Folha de Londrina, tanto na versão impressa quanto na virtual.