Quadrinhos

A Liga Extraordinária está de volta

12 ago 2004 às 11:00


Como seria reunir os mais populares e geniais personagens criados no século XIX em uma éspecie de ''time dos sonhos'' para salvar o mundo? Essa foi a idéia explorada com sucesso por Alan Moore e Kevin O'Neill em ''A Liga Extraordinária'' e agora chega ao Brasil o segundo volume da obra, que mais uma vez reúne inúmeras referências aos grandes escritores de duzentos anos atrás.

A Liga Extraordinária é composta pelos principais ''heróis'' de Julio Verne, Henry Rider Haggard, Robert Louis Stevenson, Bram Stoker, Herbert George Wells, Arthur Conan Doyle, entre outros. O serviço secreto britânico obriga Mina Murray (Dracula) a convocar o aventureiro Allan Quatermain (As Minas do Rei Salomão), o Capitão Nemo (20.000 Léguas Submarinas), Henry Jekyll/Edward Hyde (O Médico e o Monstro) e Hawley Griffin (Homem Invisível) para deter o professor Moriarty, inimigo de Sherlock Holmes, que planeja destruir a Terra com um poderoso artefato.


Essa foi a trama do primeiro volume, em que Moore e O'Neill respeitaram as características de cada grande escritor para criar uma aventura sem precedentes. Literatura e quadrinhos, assim como já aconteceu em obras como Sandman (Neil Gaiman), andaram de mãos dadas mais uma vez e os autores ainda aproveitaram para colocar deliciosas referências a outras obras do século XIX na aventura. Os assassinatos da rua Morgue, por exemplo, imortalizados no conto de Edgar Allan Poe, têm uma explicação um tanto interessante na minissérie. Infelizmente, a história ganhou uma adaptação cinematográfica muito aquém da produção original.


Agora, no segundo volume, que chegou em julho no Brasil, a liga volta a se reunir para deter uma invasão alienígena. Mais uma vez Mina Murray é convocada para reunir um grupo problemático e resolver a situação. Assim como na trama anterior, as diferenças de personalidade e os defeitos de cada herói -Griffin é extremamente ganancioso e egoísta, Quatermain é viciado em ópio, e por aí vai- é que tornam a equipe tão singular.


A história continua sendo bem conduzida, já que Moore, com anos de experiência e genialidade (indiscutível em obras como ''Watchmen'', só para citar uma), sabe como trazer uma narrativa simples mas cheia de surpresas e reviravoltas. O ponto negativo fica por conta do desinteresse do próprio escritor em se aprofundar mais na trama. Esse é um de seus últimos textos para quadrinhos, já que Moore decidiu agora se dedicar apenas à literatura. Talvez por isso, ele não investiu em um roteiro mais denso e limitou-se a explorar mais a tensão na dinâmica que existe entre os personagens. A explicação sobre tudo o que está acontecendo, por exemplo, é menos relevante do que o conflito entre Hyde e Griffin.


O'Neill mais uma vez demonstra-se como a pessoa certa para o serviço, com traços que parecem simples num primeiro olhar mas cheio de detalhes. A caracterização de cada personagem clássico continua sendo o ponto forte e suas imagens realmente remetem ao universo fantástico de época descrito pela maioria dos escritores do século XIX. Porém, assim como Moore, O'Neill parece muitas vezes apenas cumprindo seu trabalho e deixa um pouco de lado sua veia irônica revelada no primeiro volume.


As referências continuam sendo o ''molho'' que enriquecem a revista. Há citações a ''Guerra dos Mundos'', de H. G. Wells, ''A Ilha do Dr. Moreau'', do mesmo autor; a John Carter de Marte, de Edgar Rice Burroughs; a James Bond; a Rupert, o urso criado por Mary Tourtel; e até mesmo ao filme Independence Day. A edição traz também um jogo de tabuleiro e material bônus, com capas originais e um interessante diário de viagem, de Mina Murray, narrando aspectos de uma formação anterior, com antigos agentes que já formaram a liga.


''A Liga Extraordinária - Volume II'', é editado pela Devir e tem o formato 17 cm x 26 cm, com 224 páginas, a R$ 49,00. Apesar do preço um pouco salgado, ter uma das últimas histórias em quadrinhos de Alan Moore, com uma aula de história sobre os principais escritores do final do século XIX, é algo que já faz o álbum valer a pena.

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