Com a série "Fantasmagorias" o "Fantástico" da TV Globo demonstra o visível propósito de ridicularizar uma questão que deveria merecer estudo mais aprofundado e não superficial, como se viu nos últimos três domingos. Não se discute sua posição contrária aos fenômenos considerados sobrenaturais, mas uma instituição da envergadura da Globo precisava - se é que decidiu entrar nesse campo - tratar essas questões transcendentes com mais seriedade. Porém desejou dar a tintura do ridículo, como ficou implícito.
Os casos de aparições existem e se somam aos milhares. É insuficente apenas ouvir oculistas para definir tais casos como ilusões de ótica; ouvir psicalistas, sabidamente contrários a todos os fenômenos extrafísicos, até porque os desconhecem; ouvir pessoas aleatórias, fora do contexto. Quem tem visões reais, não vai contar à Globo. Mas pessoas simples, que vêem ou apenas imaginam ter visto coisas estranhas em lugares abandonados, estas fornecem os ingredientes para o espetáculo, e é isso que muitos apreciam. Para a emissora, dá audiência. Mas não se pode confundir lampejos e distorções de visão, eventualmente motivados por alucinações, com fatos reais nesse campo da vidência.
A poderosa TV tem duas posições sobre as questões do extrafísico: permite aos novelistas incursionarem por essa seara, mas seus jornalistas formam outra corrente. Quando mostram uma reportagem do gênero, no mesmo contexto concluem com bizarros depoimentos e "comprovações" em contrário, detonando os episódios narrados. Nesse campo, não é o caso de ouvir opiniões, mas de discutir fatos, à luz de investigações mais aprofundadas. Se há os casos em que uma sombra é uma visão equivocada e não um fantasma, existem as aparições reais, e estas acontecem em maior número que a ocorrência das casas e lugares mal-assombrados. É que a Globo - nessa área - só busca os episódios que podem ser contestados, já os verdadeiros não. Destes ela foge.
Muitos, quando não sabem explicar certos fenômenos, são sinceros e os atribuem a um mistério que desconhecem. Já outros, que também não sabem mas se arvoram em conhecedores, julgam que podem explicar tudo. Melhor seria se ficassem calados. O "Fantástico" não precisa afirmar que fantasmas existem, mas deve atentar para o alcance de certas formulações empíricas que difunde. As câmaras que instala nesses recintos sombrios não irão captar imagens de fantasmas, e nem ridículos chamamentos ("tem alguém aqui"?) resultarão em respostas.
É bom saber que o ambiente que nos rodeia é povoado de coirmãos nossos que transcenderam a vida física mas não se elevaram. Eles geralmente se alojam em lugares que habitaram e com os quais ainda estão apegados. Muitas pessoas os vêem, e não é ilusão de ótica. Trata-se de almas erráticas, que acabam qualificadas como fantasmas. E também existem os obreiros de luz que, nols momentos de necessidade, nos visitam e se apresentam aos que têm vidência. Nem aqueles menos evoluídos e nem estes são novidade e não servem como matéria-prima para espetáculos.