Caminhos de ascensão

A NOSTÁLGICA VOZ DOS SINOS

20 mai 2010 às 21:48

Já escrevi que os sinos são tão necessários quanto os jornalistas. Porque ambos têm a função de informar que algo aconteceu ou vai acontecer.

Falo dos sinos com muito carinho e nostalgia porque nos anos de minha adolescência fui batedor de sino em minha pequena cidade natal.


A incumbência era tocar às 6 da manhã (e eu precisava me levantar bem antes, mesmo naquelas duras madrugadas de inverno sul-catarinense), tocar ao meio-dia e na hora da Ave-Maria.

Eu também batia o sino quando morria gente. Sino tocado fora de hora não era notícia boa. Em dez minutos a vila inteira estava ao pé do morro (porque no alto estava a igreja) para aguardar minha descida e saber quem havia morrido.


Eu não só anunciava as mortes como repicava o sino enquanto o cortejo levava aquelas boas criaturas para a outra morada.


O falecimento de crianças era o mais doloroso, e o soar do sino era diferente. Eu tinha que subir até o topo da torre, pela escada espiral interna, e brandir diretamente aquele cone de bronze com duas varetas metálicas. Eram repiques bem sequenciados e que soavam muito tristes.


Mas eu também anunciava coisas alegres, como as batidas anunciando a missa grande, que era às 10hs do domingo, quando os homens usavam os ternos e seus chapéus de grife Prada e Ramenzoni e as mulheres ostentavam seus mais belos vestidos e sapatos. E água de cheiro.


Badalar exige aprendizado. É preciso puxar a corda com um embalo cadenciado e solta-la no ritmo daquele pesado sino voltando. Uma brecada imprudente pode arrebentar a corda ou arrancar a pele das mãos do sineiro. Na hora de parar é preciso medir a intensidade do vai-e-vem e ir brecando gradativamente.


Sino é como gente: gosta de ser acarinhado. Ele soa conforme o carinho que o sineiro lhe dedica.


Só acho um pecado que certas igrejas católicas não usem sinos mas gravações deles, como no templo de minha circunscrição paroquial, no alto-sul da Avenida Higienópolis, em Londrina. Descobri que era gravação pela parada repentina.


Tudo bem que não seja o som original, mas no final tem de ser aquele soar longo, como de algo que vai indo embora mansamente e não como se uma mão repressora cortasse o som de maneira brusca.


Melhor seria sino de verdade, mas se não for possível, peço ao padre que faça outra gravação deixando estender-se aquele toque lânguido das últimas badaladas.

Há uma magia indescritível nessa melodia derradeira que vai desaparecendo ao longe suavemente. walmormacarini@hotmail.com


Continue lendo