Ficar de olho na rua e alertar o vizinho sobre movimentos suspeitos é uma prática simples de boa vizinhança. Mas este tipo de ajuda mútua pode ficar cada vez mais rara em grandes condomínios e prédios onde não há grande convivência ou empatia com quem mora a poucos lances de escada de nós.
Para recuperar a solidariedade entre vizinhos e tornar toda a rua mais segura, moradores e síndicos têm apostado em iniciativas em grupo para discutir formas de vigilância que contemplem não apenas um apartamento ou prédio, mas os comércios, escolas e casas ao redor.
Tony Mellão, advogado e síndico de um edifício residencial na Rua da Consolação, acompanhou a implantação de um destes grupos -chamados de "bolsões de segurança"- junto a outro dos seis prédios que hoje participam. Além da instalação de câmeras, cerca elétrica, guarita blindada e outras formas de controle de acesso, "temos um treinamento especial para ação nesses casos", conta.
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"O acionamento de socorro externo pode ser feito pelo porteiro ou vizinhos do bolsão. A comunicação entre os prédios é feita via rádio amador em frequência única", explica o síndico. "Cada prédio monitora seu vizinho e reporta à autoridade policial em caso de invasão ou abordagem".
Além de treinar porteiros para reconhecerem táticas utilizadas por criminosos (como fingir-se de técnico de internet, enfermeiros a domicílio, entre outros prestadores de serviço), os moradores e funcionários de moradores também são ensinados. Mellão, síndico do prédio há oito anos, notou o aumento da sensação de segurança e o impedimento de tentativas de invasão.
Montando o grupo Para montar o esquema de proteção da rua, Tony Mellão buscou os serviços da consultoria de segurança SUAT. O fundador da empresa, tenente-coronel da Polícia Militar paulista José Elias de Godoy, tem conselhos para quem deseja seguir o exemplo.
"O primeiro passo é haver vontade dos moradores", explica, "e, através dos síndicos, comunicar os condomínios próximos". Antes mesmo de pensar em câmeras, ele recomenda instalar um sistema de rádio que possibilite a comunicação entre todos os membros do bolsão.
"O mais barato é o envolvimento [de pessoas]", afirma o oficial. "Hoje, os moradores usam muito grupos de WhatsApp e adicionam as pessoas responsáveis pela vigilância."
Godoy aconselha criar um protocolo único para o bolsão, que seja seguido por todos os condomínios, independentemente de quem esteja nele no momento. Caso um ou mais prédios contratem empresas terceirizadas de segurança, cabe ao condomínio contatar a empresa, explicar e exigir o cumprimento do novo protocolo.
"A cada dia, um condomínio pode ficar responsável por ficar atento aos demais, percebendo qualquer movimentação suspeita", sugere. "Para os moradores, é necessária a conscientização dos cuidados básicos a tomar quando estiver chegando no prédio, o que observar e o que pode ser feito para se proteger".
Vizinhança Solidária "O porteiro ou vigia de rua não tem poder de polícia, não pode abordar um indivíduo suspeito. Mas o policial tem", lembra o tenente-coronel. "Havendo a integração da polícia, há uma resposta mais rápida quando se precisa de apoio".
A Polícia Militar pode ser um integrante a mais nos bolsões de segurança através do Programa Vizinhança Solidária, criado em 2009. A adesão é voluntária, e o processo de integração de uma rua ao programa pode levar alguns meses. No entanto, a PM oferece treinamentos especiais para moradores e funcionários –via palestras, conversas virtuais e discussões por mensagem.
Os assuntos abordados nos treinamentos vão desde características comuns de cada delito, até horários e locais mais comuns de atividade criminal e as peculiaridades de cada área. Em caso de suspeita, a orientação é sempre acionar a polícia através do telefone 190.
Tarcisio Mota é gerente de um condomínio de alto padrão no Morumbi, e aderiu ao Vizinhança Solidária, além de ter condôminos participando do Conselho Comunitário de Segurança do bairro. Em seu caso, a polícia, moradores e outros prédios tem fácil acesso às câmeras que integram o sistema, posicionadas em diversos locais da rua. A atitude não apenas facilita investigações de possíveis crimes, mas também protege a todos que caminham por lá.
O tenente Godoy ressalta, porém, que "não podemos contar só com a polícia". "A polícia depende de informações verídicas da comunidade, porque são as pessoas que conhecem a área e podem nos manter informados."