* Por Paulo R. Natsuo Del Mastro
Os lagos ornamentais de pequeno e médio porte hoje são comumente requisitados como elementos integrantes aos projetos paisagísticos em busca da natureza, harmonia, prazer, equilíbrio visual e climático ou muitas vezes na busca de realizar um sonho ou desejo do cliente, e tal condição tem se apresentado como um desafio aos profissionais de paisagismo. Os conhecimentos básicos sobre aqüicultura, mecânica dos fluidos, sistemas de filtragem, plantas hidrofílicas, dimensionamento de equipamentos e elementos hidráulicos, biologia, entre outros, são requisitos necessários para o sucesso destes projetos.
Ao contrário do que se pode imaginar um lago pequeno ou de médio porte trazem mais desafios do que os grandes lagos que, via de regra, são mais estáveis, menos sensíveis a mudanças ambientais e a condição de "água cristalina" nem sempre é uma exigência. Existe uma grande preocupação futura por parte do cliente e do profissional responsável pelo projeto que o sonho de um lago cristalino povoado pelo colorido exuberante dos peixes não se transforme em um pesadelo verde turvo, com espuma e mau cheiro.
Algumas vezes esta mesma preocupação ou insegurança passa a ser a grande responsável por excluir o laguinho do projeto, frustrando todos os envolvidos no processo de criação e concepção. Isso sem mencionar os lagos que serão excluídos ou aterrados após anos de esforços de manutenção e investimento financeiro, por não alcançarem o propósito para os quais foram construídos. Tais situações podem realmente ocorrer quando o lago ornamental é encarado como um espelho d'água ou mesmo tratado como uma piscina.
É comum escutarmos que uma bomba d'água e um filtro de piscina farão a filtragem e oxigenação da água e isto seria tudo que um lago precisaria, porém este é o erro mais comum e rotineiro que se pode cometer. Como evitar tais situações? Como obter um lago equilibrado e pleno? Buscar orientação e conhecimento técnico específico é o melhor caminho, assim como a pesquisa em livros e sites especializados, expor o assunto aos profissionais segmentados ou até mesmo "hobbystas" bem sucedidos irão ajudar muito. Logicamente, lembrando que soluções aplicadas em determinados lagos nem sempre serão as soluções mais viáveis ou a "melhor" solução para o lago que temos em mente.
Um bom começo é ter em mente que um lago que abriga "vida" (sejam plantas, peixes ou répteis) passa a ser um sistema que tem seu próprio metabolismo em busca de um ponto de equilíbrio e se não oferecermos as condições favoráveis este ponto de equilíbrio dificilmente coincidirá com a situação que desejamos. O ideal é buscar este equilíbrio compondo pequenos micro-ambientes integrados pela circulação da água e "sem produtos químicos", até porque, normalmente, os produtos químicos quando não letais as diversas "vidas" necessárias ao lago, não passam de medidas paliativas ou emergenciais.
A pergunta que surge é: o maior "inimigo" do lago acaba sendo os seus próprios habitantes? Sim, podem vir a ser os principais inimigos, como podem vir a ser alguns dos "amigos" que trarão o equilíbrio ao sistema, pois a água acaba por sofrer alterações em sua "composição" principalmente em razão da matéria orgânica nela lançada. Por exemplo: quando temos um lago bem povoado por peixes, invariavelmente a maioria irá morrer se um sistema de filtragem não for providenciado ou estiver dimensionado de forma inadequada. Neste caso, os "inimigos" seriam as toxinas provindas dos próprios dejetos dos peixes (principalmente sua urina) e sobras de alimentos. Por outro lado, estes mesmos compostos (nitrogenados) é que irão manter os sistema de filtragem vivo.
Ainda como exemplo, não podemos esquecer a "força da mãe natureza": é o caso dos espelhos d'água que, mesmo sem plantas ou peixes, com o passar do tempo acabam ficando com a água verde (explosão de algas) e com 5 cm ou mais de sujeira acumulada no fundo. O mercado hoje oferece inúmeros equipamentos e filtros especializados e segmentados, além da alternativa de se desenvolver sistemas de filtragens ou de beneficiamento de água sob medida para o lago em questão. Diante de tantas opções o verdadeiro desafio acaba sendo identificar qual seria a melhor solução e qual o dimensionamento correto, de tal forma que não se crie nenhuma incompatibilidade entre os equipamentos escolhidos.
Seguem abaixo, de forma bem resumida e básica, os principais elementos necessários em um lago ornamental artificial "fechado":
Bomba d'água: responsável pela circulação da água durante as operações de filtragens.
Bomba d'água secundária: responsável pela circulação de água para efeitos visuais no lago.
Sistema de filtragem principal: responsável em efetuar a filtragem mecânica (reter elementos em suspensão), biológica (processar os elementos provindos da matéria orgânica) e filtragem vegetal (formadas por plantas hidrofílicas concluindo o trabalho iniciado pelo filtro biológico).
Sistema de filtragem secundário: Filtro ultravioleta (normalmente utilizado para eliminação de algas, porém possui outras funções), filtragem química (composto normalmente de carvão ativado, sendo mais utilizado para eliminação de odores e elementos químicos indesejáveis). Estes filtros são utilizados apenas quando necessários. Os filtros acima (principal e secundários) podem ser individuais ou com várias fases de filtragem em um mesmo filtro.
Captadores: pontos de captações distribuídos estrategicamente de tal forma que todas as partículas em suspensão ou decantadas no leito do lago (sujeiras) sejam levadas ao sistema de filtragem com o cuidado de não causar nenhum mal aos habitantes (em razão da sucção).
Tubos, conexões e demais elementos hidráulicos: são responsáveis pela interligação hidráulica de todos os equipamentos e pelo controle operacional do sistema. Normalmente recomenda-se que sejam utilizados tubos com bitolas de no mínimo 50 mm (1 ½") evitando desta forma entupimentos e perda de carga hidráulica (o que eleva o consumo de energia elétrica).
Cascata: na maioria dos casos é apenas um opcional decorativo, é um erro pensar que ela é a maior responsável pela oxigenação da água e troca de gases.
No início, para quem desconhecia os tópicos do assunto, tudo isto parece ser meio complicado, porém as soluções na prática são simples, de fácil operação e manutenção, de pouco consumo de energia elétrica e proporcionam excelentes resultados, isto é, uma água cristalina e biologicamente equilibrada para os seres aquáticos. É bem verdade que optar por ter um lago no projeto é algo a mais para ser planejado e administrado, porém o seu propósito, sua perenidade, a satisfação do cliente e realização do próprio profissional envolvido certamente farão valer a pena este esforço extra.
Literatura recomendada:
Introdução ao Nishikigoi (Takeo Kuroki) - traduzido
A Japanese Touch For Your Garden (Seike-Kudô-Engel)
Water Power (Antony Archer - Wills)
Koi (George C,. Basiola II)
Criação de Peixe (Luiz Fernando Galli e Carlos Eduardo C. Torloni)
Laguinhos - Mini-Ecossistemas para Escolas e Jardim (Maria C. E. Amaral e Volker Bittrich)
Plantas Hidrofílicas e seu Cultivo em Aquários (Marcelo Notare)
Sites recomendados:
www.braziliankoi.com.br
www.oaquário.com.br/lagos
Fonte: Jardim de Flores