Estreante em eleições, filiada a um partido nanico e sem alianças, a apresentadora e comentarista política Cristina Graeml (PMB) chegou ao segundo turno da disputa pela Prefeitura de Curitiba colada em Eduardo Pimentel (PSD), atual vice-prefeito, respaldado por uma coligação de oito partidos e apadrinhado por cabos eleitorais como o prefeito Rafael Greca (PSD) e o governador Ratinho Junior (PSD).
Cristina obteve 31,2% dos votos, ante 33,5% de Pimentel, e mexeu no tabuleiro político da capital paranaense, que até o final de setembro não contava com o crescimento dela.
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Seu desempenho tirou do jogo o principal representante do campo da esquerda, o deputado federal Luciano Ducci (PSB), apoiado pelo PDT e PT, e também o deputado estadual Ney Leprevost (União Brasil), que tinha Rosângela Moro (União Brasil) como candidata a vice-prefeita na chapa.
Assim como Pimentel e Leprevost, Cristina se apresenta como um nome do campo da direita. Mas ela enfatiza que se trata da "verdadeira direita, a direita raiz, a voz dos conservadores".
Também tem dito ao longo da campanha que é ela quem de fato tem o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, embora o PL esteja formalmente coligado com Pimentel. Às vésperas das eleições, no sábado (5), chegou a publicar um vídeo com o ex-mandatário, em que ele diz torcer pela candidata.
O vídeo circulou nas redes sociais, onde Cristina tem atuação ativa. Entre os dez candidatos que disputaram a prefeitura de Curitiba, ninguém tem mais seguidores do que ela, o que explicaria parte do seu desempenho nas urnas, mesmo sem ter tido direito a tempo de televisão para propaganda eleitoral no primeiro turno.
No Instagram, ela tem 641 mil seguidores, contra 69,4 mil de Pimentel.
Cristina Reis Graeml tem 54 anos e é formada em jornalismo pela UFPR (Universidade Federal do Paraná). Construiu uma carreira de mais de 25 anos como repórter de televisão e se tornou um rosto conhecido na RPC-TV, emissora afiliada da TV Globo no Paraná.
Em 2018, já fora da televisão, começou a atuar na Gazeta do Povo, quase na mesma época em que o jornal curitibano ensaiava uma guinada conservadora.
No jornal, Cristina ajudou a criar a editoria de vídeos e a apresentar programas ligados à cobertura política. Hoje, entre os colunistas do veículo, estão nomes como Rodrigo Constantino e Alexandre Garcia e políticos como Deltan Dallagnol (Novo) e Nikolas Ferreira (PL).
Ela se afastou do veículo no primeiro semestre por força da legislação eleitoral.
Ainda na Gazeta, também atuou durante um período como comentarista na Jovem Pan, quando ficou ainda mais conhecida entre bolsonaristas, e ganhou seguidores de outros estados.
Cristina segue toda a cartilha bolsonarista -do antipetismo à defesa do voto impresso, da desconfiança da vacina contra Covid à bandeira do impeachment do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. Para ela, Bolsonaro foi alvo de "massacre midiático".
Nos atos da campanha, ela também exibe a bandeira do Brasil, e os discursos geralmente são acompanhados de frases como "defesa dos valores cristãos" e "direito à vida desde a concepção".
Sobre os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, Cristina fala de "presos políticos". No vocabulário, também costuma repetir que é contra o que chama de "ideologia de gênero".
"A temática LGBT, essa construção mental que fazem na cabeça das nossas crianças, dizendo que menino não é menino e que menina não é menina, em vez de ensinar o conteúdo programático previsto na base nacional comum curricular, vai acabar. A gente vai tirar isso da sala de aula", disse durante debate na RPC-TV na quinta-feira (3).
Segundo ela, seu plano de governo foi feito por mais de 200 voluntários. "Nosso compromisso é com uma gestão pública austera, honesta e eficiente, que coloca o cidadão no centro de todas as decisões e ações", diz trecho.
Entre as propostas práticas na área educacional, estão "educação financeira desde os primeiros anos do ensino infantil" e "ensino de empreendedorismo". Também há "incentivo à prática cívica e valores", o que inclui "canto ordeiro dos hinos do Brasil, Paraná e Curitiba semanalmente e em todas as unidades escolares".
Com cerca de 60 páginas, o plano de governo prega uma "gestão disruptiva". Diz que não fará conchavos políticos e que sua equipe será formada por profissionais capacitados, "selecionados por mérito e competência, e não por alianças políticas".
No segundo turno, Cristina acredita que terá mais chance de mostrar suas propostas contra "o candidato do sistema".
"Só duas semanas atrás o eleitorado curitibano soube que eu era candidata de fato", criticou ela.
Sem dinheiro do fundo eleitoral, que ela chama de "escárnio com a população", Cristina contava para a campanha com uma receita de R$ 393.123,49 em doações até a manhã desta segunda-feira (7), conforme registro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).