BRASÍLIA - O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou nesta quarta-feira (25) que os advogados Fábio Wajngarten e Paulo Bueno sejam ouvidos pela Polícia Federal. Segundo o ministro, relatos enviados pelo tenente-coronel Mauro Cid e familiares indicam a "suposta prática dos crimes de obstrução de investigação de infração penal que envolva organização criminosa".
A defesa de Cid enviou à PF declarações e documentos que, segundo a decisão de Moraes, criam suspeitas de que os advogados procuraram familiares do tenente-coronel para conseguir informações sobre sua colaboração premiada.
Paulo Bueno é um dos advogados que compõem a equipe de defesa de Jair Bolsonaro (PL) no STF. Wajngarten também auxiliava o ex-presidente até ser demitido no último mês.
De acordo com Cid, Wajngarten fez "intensa tentativa de falar com a família e com Mauro Cid", tanto por meio da filha menor de idade como de sua esposa, Gabriela Ribeiro Cid.
"Não bastasse as várias investidas sobre a filha e esposa de Mauro Cid, a defesa dos corréus investiu também sobre sua mãe, Agnes Barbosa Cid, quando em eventos realizados na Hípica de São Paulo, o dr. Luiz Eduardo Kuntz, uma vez acompanhado pelo dr. Paulo Costa Bueno, cercaram-na no sentido de demover a defesa então constituída por Mauro Cid, conforme declaração particular", disse a defesa do militar.
Moraes também decidiu que a corporação entregue, em dez dias, um laudo pericial sobre o celular da filha menor de idade de Cid. Ela entregou o telefone voluntariamente para a investigação.
A decisão do ministro foi expedida em um inquérito aberto para investigar se o advogado Luiz Eduardo Kuntz, defensor do réu Marcelo Câmara, fez contatos com o tenente-coronel ao longo de 2024 para buscar informações privilegiadas sobre a delação no caso da trama golpista.
Marcelo Câmara está preso desde a última quarta-feira (18) pela suspeita de tentativa de obstrução de investigação.
A Polícia Federal entregou ao Supremo nesta quarta quatro documentos com mais informações sobre o caso. Dois deles são declarações assinadas pela mãe de Cid e pela sua esposa, Gabriela.
Os outros dois documentos fazem referência à entrega voluntária do celular da filha menor de idade do tenente-coronel e a autorização para acesso aos dados do telefone, e uma petição em que a defesa do militar pede a investigação sobre Wajngarten e Kuntz.
Segundo os relatos dos familiares de Cid, Kuntz procurou insistentemente a filha de Cid para falar sobre a situação do delator.
"As mensagens do advogado Luiz Eduardo Kuntz para com a família de Mauro Cid são incontroversas e desmentem sua fala de que não procurou. Assim como é incontroversa também a tentativa do advogado Luiz Eduardo Kuntz em encontrar Mauro Cid que já estava com cautelares diversas da prisão e acordo de colaboração premiada homologado pelo Supremo, e mesmo assim, ardilosamente, procurou insistentemente sua filha menor de idade", diz a defesa de Cid.
Mauro Cid prestou depoimento à Polícia Federal na terça-feira (24) sobre as supostas conversas com Kuntz. No diálogo, a voz atribuída ao tenente-coronel conta detalhes de seus depoimentos à Polícia Federal e faz desabafos sobre a falta de apoio de seus antigos aliados.
O militar negou à polícia que tenha utilizado a conta do Instagram vinculada ao seu email, segundo a advogado Vânia Bitencourt, defensora de Cid.
"[O perfil] Não é dele, não foi ele quem falou. O email do Cid é antigo, todo mundo já sabia", disse Vânia à reportagem.
A defesa do militar diz que abriu linhas de investigação para entender se as conversas com Kuntz que incluem fotos, áudios e mensagens de texto podem ter sido feitas de forma clandestina.
Foi no depoimento de terça que Mauro Cid e seus advogados apresentaram à Polícia Federal as declarações escritas dos familiares do militar e entregaram o celular de sua filha.
Segundo relatos de pessoas próximas de Cid, a filha de 14 anos do militar só se deu conta de que Kuntz teria tentado acessar detalhes dos depoimentos de seu pai quando o próprio advogado enviou ao Supremo as supostas conversas com o tenente-coronel.
A adolescente disse aos pais que o advogado fez contato com ela ainda em 2023, quando Cid estava preso. Ela não estranhou a abordagem de Kuntz à época, de acordo com os relatos, mas se lembrou das conversas pelo WhatsApp e pelo Instagram na semana passada.
O advogado Luiz Eduardo Kuntz afirmou que só se manifestará sobre o caso quando tiver acesso aos autos. Procurados, Fabio Wajngarten e Paulo Cunha Bueno não responderam.
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