Política

'Minha função era administrar o dinheiro do Janene', diz Youssef

11 nov 2014 às 08:06

Em seu quarto interrogatório prestado à Justiça Federal do Paraná, na tarde de segunda-feira (10), em Curitiba, o doleiro Alberto Youssef, pivô da operação Lava Jato, confirmou a existência de um "caixa 2" do Partido Progressista (PP) que beneficiava, além do ex-deputado federal paranaense José Janene, morto em 2010, outros integrantes da sigla. O londrinense afirmou que tinha livre acesso à conta, mas ressaltou que só cuidava dos recursos do deputado, que exerceu três mandatos na Câmara Federal entre 1995 e 2007.

"A minha função era administrar os recursos do José Janene. Na verdade, se ele precisava de determinado valor, me pedia e eu disponibilizava. Ou quando ele recebia dinheiro me entregava. Às vezes as contas ficavam positivas, outras vezes negativas. E esta conta também era usada por outras pessoas para receber valores. Era como um caixa, um caixa do Partido Progressista. Mas eu não administrava os recursos destes outros envolvidos, somente do Janene", disse Youssef, em trecho de seu depoimento.


Estes valores, segundo o doleiro, tinham como origem o "comissionamento de empreiteiras e outras empresas, decorrentes de contratos com a administração pública". Questionado por Moro se este comissionamento seria, na realidade, pagamento de propina, Youssef confirmou: "Sim, propina". As declarações foram feitas durante os depoimentos do processo que trata de lavagem de dinheiro para, segundo a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), investir na Dunel Indústria, em Londrina.


Segundo o MPF, estes valores seriam oriundos do mensalão, escândalo do primeiro mandato do governo Lula. Conforme o órgão, Youssef teria lavado pelo menos R$ 1,16 milhão de um total de R$ 4,1 milhões repassados pelo empresário Marcos Valério, operador do mensalão, a Janene, líder do PP na época do escândalo.


Segundo o MPF, do R$ 1,16 milhão "R$ 537,2 mil são originados de operações via sistema financeiro da cidade de Brasília, sendo realizadas a partir de agências bancárias pelo doleiro Carlos Habib Chater, Ediel Viana da Silva e Dinorah Abrão e, as demais, no valor de R$ 618,3 mil, a partir de agências bancárias em São Paulo, de contas controladas pela CSA Project Finance Consultoria, de propriedade de Rubens de Andrade Filho e de Carlos Mente". Carlos Alberto Pereira da Costa era o advogado desta empresa.


Como esta ação envolve réus presos, o processo foi desmembrado ainda em julho, quando a denúncia foi acatada. Youssef, Chater, Ediel e Carlos Alberto foram interrogados ontem; e os demais vão responder pela mesma denúncia, entretanto, em outra ação penal. São eles: Dinorah Abrão Chater, Carlos Alberto Murari, Rubens de Andrade Filho, Assad Janani, Danielle Kemmer Janene e Meheidin Hussein Jenani.


Durante seu interrogatório, Youssef também fez questão de ressaltar que não fez nenhum investimento próprio na Dunel e que nunca foi sócio de Janene, como sugere a denúncia do MPF. "Nunca fui sócio do senhor Janene, não tinha nenhum vínculo societário com ele. O que acontecia é que ele precisava de dinheiro, me pedia e eu dava um jeito de arranjar. Ele fez um investimento na Dunel acreditando no crescimento da empresa, o que não aconteceu", reforçou o doleiro.


Além de Youssef, o doleiro Carlos Habib Chater, Carlos Alberto Pereira da Costa e Ediel Viana da Silva também foram interrogados. Na saída da audiência, um dos advogados do londrinense conversou com a imprensa e se mostrou otimista com o interrogatório. "A audiência foi produtiva, o Alberto colaborou mais uma vez com a Justiça, como vem fazendo nos últimos tempos, para que o juiz possa dar uma sentença serena e justa. O Youssef operava conjuntamente com o Janene, mas o investimento não era dele propriamente dito. Acredito que a acusação partiu de algumas premissas equivocadas. Na verdade, o trabalho do Alberto nestes fatos foi de operacionalizar este dinheiro, nunca foi sócio do ex-deputado nesse empreendimento e nunca teve a participação que o MPF quis atribuir a ele nesta denúncia. Então, neste sentido a acusação é fraca", ressaltou o advogado Tracy Reinaldet.

Já os depoimentos de Youssef que fazem parte do acordo de colaboração premiada em andamento devem se estender por no máximo mais duas semanas.


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