A maioria dos deputados federais de Londrina apoia a ocupação das mesas da Câmara e do Senado por parlamentares da oposição. O ato foi realizado na última terça-feira (5) como forma de protesto contra a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), decretada na segunda (4), e também como tentativa de pressionar pela votação da anistia ampla e irrestrita aos condenados pelos atos de 8 de janeiro, além da tramitação dos pedidos de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Com a ocupação das mesas, os trabalhos no Congresso foram inviabilizados, o que irritou os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que tentam encontrar uma solução para o impasse.
À FOLHA, o deputado federal Filipe Barros (PL), que participa da ocupação, disse que essa é a “única e última saída que nos resta para negociar”. “Aliás, diante do contexto que vivemos, é uma excelente forma de negociação”, afirma. Os parlamentares pernoitaram no Senado e na Câmara na madrugada desta quarta (6).
Barros lembra que ocupações semelhantes ocorreram em anos anteriores, inclusive organizadas por partidos de esquerda. “E o próprio presidente do Senado, Davi Alcolumbre, manobrou para tomar a mesa da Casa durante sua eleição na legislatura passada”, acrescenta.
A avaliação do deputado federal Diego Garcia (Republicanos) é semelhante. Ele cita um episódio ocorrido em 2017, quando oposicionistas ocuparam a mesa do Senado em protesto contra a Reforma Trabalhista, que acabou sendo aprovada. “Esse é o caminho que a oposição encontra hoje para protestar diante de tudo que está acontecendo. Essa arbitrariedade por parte do Judiciário, que não tem limites e avança contra as leis do nosso país, contra os poderes, contra o Congresso Nacional. É a forma que a oposição encontra para protestar, assim como o PT e companhia fizeram também”, sustenta.
Para Garcia, os presidentes da Câmara e do Senado terão de ceder “para poder pautar o que de fato é interesse da ampla maioria dos brasileiros, que é que a gente consiga encontrar equilíbrio entre os poderes”.
Já o deputado federal Luiz Carlos Hauly (Podemos), questionado pela reportagem, destacou que “a obstrução de votações no Congresso Nacional é uma prática comum na política brasileira”, tendo sido usada pelo PT em diversas ocasiões.
“Aliás, algumas matérias de suma importância para o desenvolvimento do país e a estabilidade da nossa economia, como foi o caso do Plano Real, foram objeto desse tipo de boicote pela oposição da época, no caso o PT que era liderado por Lula”, lembra.
Na mesma linha, a deputada federal Luísa Canziani (PSD) afirmou que a obstrução dos trabalhos é uma forma de chamar a atenção para temas que exigem negociação. “Estamos passando por um período de muitas incertezas e injustiças, com as decisões arbitrárias do STF e com a falta de disposição do governo federal em buscar o diálogo e uma solução para o tarifaço imposto pelos Estados Unidos. Sou adepta do diálogo, da busca conjunta por soluções, trabalho e torço para que essa crise seja resolvida o mais rápido possível. O Brasil precisa avançar unido e em paz”, destaca.
Já a deputada federal Lenir de Assis (PT) classificou o movimento da oposição como “sequestro do Parlamento”. “Eles exigem que seja votada a anistia para os que planejaram um golpe de Estado, tramaram o assassinato do presidente Lula, do vice-presidente, Geraldo Alckmin, do ministro Alexandre de Moraes e colocaram uma bomba no Aeroporto Juscelino Kubitschek”, diz a petista.
“Nós queremos votar as pautas que vão impactar diretamente na melhoria da vida da população e que têm prazo para serem votadas, como a isenção de imposto para trabalhadoras e trabalhadores que ganham até R$ 5 mil, além da redução da jornada de trabalho, com o fim da escala 6x1, o pacote da segurança pública, a taxação dos super-ricos. Querem inviabilizar a votação destes projetos. A única pauta que interessa para eles é a anistia para Jair Bolsonaro."
‘Condenação está cada vez mais provável’, diz analista
O professor de Ética e Filosofia Política da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Elve Cenci, avalia que os acontecimentos dos últimos meses — principalmente a prisão do ex-ministro Braga Netto — indicam uma condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a possível substituição do nome da direita para a eleição de 2026.
“O Eduardo [Bolsonaro], que quer ser o candidato da família, apostou todas as fichas nas tarifas do Donald Trump. Acreditou que conseguiria levar governo e STF para um acordo de anistia. Porém, o tiro saiu pela culatra. O governo saiu como vítima e ele como vilão da economia. Ou seja, o plano não deu certo”, afirma Cenci, que diz que a ala que ficou no Brasil decidiu dobrar a aposta. “Bolsonaro forçou a prisão imaginando uma convulsão nas ruas, e a ala mais radical do Congresso tenta inviabilizar a atividade legislativa.”
Para o analista político, o apoio popular não tem sido expressivo e a condenação está se tornando cada vez mais provável.
"A tendência é que, com exceção dos grupos mais leais, a fatura pelas tarifas elevadas do Trump vá para a conta da família Bolsonaro. A direita provavelmente buscará um candidato a presidente fora do grupo mais próximo ao Bolsonaro”, acrescenta Cenci, que prevê uma radicalização cada vez maior do “núcleo duro do bolsonarismo”.
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