A vereadora Anne Moraes (PL), que recentemente foi alvo de denúncias por crime ambiental e por irregularidades nos repasses do Nota Paraná, também é investigada por utilização de verbas da ADA (Associação Defensora dos Animais) para despesas particulares. De acordo com ação do Ministério Público que o Portal Bonde teve acesso, Moraes teria utilizado recursos da associação para custear planos de saúde para ela e para a mãe (também dirigente da ONG de defesa animal), tratamentos estéticos, refeições em restaurantes e fast-foods, além de gastos excessivos com serviços de táxi.
A Ação Civil Pública aponta indícios de confusão patrimonial entre os bens pessoais da vereadora e de seus familiares com os recursos da ADA. Segundo o Ministério Público, houve transferências de valores das contas da entidade para contas pessoais e para uma irmã da vereadora, sem justificativa clara, lançadas como “outras despesas” ou “pagamento de empréstimos”. Entre 2020 e 2022, de acordo com a investigação, foi transferido das contas da ADA para essa irmã o equivalente a R$ 468.418,46. Muitas dessas transferências não constam da contabilidade formal da instituição.
Comprovantes de pagamento e extratos de uso de plano de saúde de Anne e da mãe dela foram encontrados entre os documentos de controle contábil da instituição. Entre os recibos, há o pagamento pelos serviços de um médico dermatologista especialista em medicina estética e cosmiatria, que oferece tratamentos como botox e lasers para rejuvenescimento.
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Segundo a petição inicial da ação, a ADA é alvo de investigações por supostas práticas em desacordo com seu estatuto, violações de normas ambientais e sanitárias, e indícios de que a associação existe apenas formalmente. A promotoria destaca que, apesar de reiteradas notificações e orientações, não houve sucesso na adequação da organização e dos cuidados com os animais acolhidos.
Vereadora nega
A reportagem entrou em contato com Moraes para ouvir a versão dela sobre a investigação do Ministério Público. A vereadora afirma que até o momento não foi notificada, mas que todos os valores citados podem ser comprovados, pois não existem irregularidades nas transferências.
"Eu já justifiquei várias vezes que as contas da ADA estavam bloqueadas judicialmente e eu transferia o valor para a conta da minha irmã para fazer os pagamentos por meio da conta dela. Eu tenho como justificar todos os valores", diz.
O motivo dos bloqueios, segundo ela, são as ações trabalhistas movidas por ex-funcionários, que acarretou na manobra contábil para que o dinheiro não ficasse retido. Moraes se compromete a abrir o sigilo bancário, caso seja solicitado, para que o MP veja que os valores que saíram da conta de sua irmã foram exclusivamente destinados ao pagamento de funcionários e a compra de ração.
Sobre os procedimentos estéticos supostamente feitos com o dinheiro da Associação, ela destaca que também tem "direito de se cuidar" e que não há comprovação de que os procedimentos foram pagos com recursos da ADA.
"Eu sou um ser humano e mereço ser cuidada, tenho esse direito. Não vou deixar de me cuidar porque sou protetora e presidente de ONG. Não tem como comprovar que foi usado dinheiro da instituição, porque muitas vezes enviei o meu dinheiro para a ADA e depois ela me ressarciu esses valores. Se fizerem o levantamento do aporte na ADA, ela me deve."
O documento também cita que a mãe da vereadora teria recebido benefícios provenientes da instituição. Moraes, mais uma vez, nega que a prática esteja em desconformidade legal. "A única coisa que a minha mãe tinha de benefícios da ADA é que havia um plano de saúde para membros, fundadores e funcionários. Todos registrados tinham direito, inclusive a minha mãe, porque ela trabalhava no bazar". A vereadora admitiu que também usufruía do plano. "Isso não era dado. Eu trabalhava 12 horas por dia e colocava a minha vida em risco. Onde que isso é benefício? Se os funcionários tinham direito, porque eu não poderia ter?", questiona.
Com relação ao excesso de viagens de táxi apontado pelo MP, Moraes explica que a ADA não funciona sem funcionários e que o transporte deles até a sede da Associação, localizada no distrito da Warta (Norte), era uma dificuldade causada pela distância da Zona Urbana.
"Lá é Zona Rural. Fica distante do perímetro urbano e as pessoas não queriam trabalhar devido à distância. No começo, contratei uma empresa que disponibilizou uma van, mas quebrava muito, aí achei melhor ficar só com o táxi. Depois, aluguei um carro para verificar se ficava mais barato, contratei um motorista."
Moraes ainda critica o Ministério Público por não ouvir as demandas antigas pedidas por ela e somente dar voz a outras pautas que só querem "manchar" a sua imagem.
"O problema é que eu não tenho comunicação com o Ministério Público, existe esse problema de comunicação com a promotora. [...] Eu acho engraçado que o MP não me ouviu. Ouviu denúncias das pessoas, mas o meu pedido eles não ouvem", diz.
A demanda enviada ao MP e que não obteve resposta, segundo a vereadora, trata-se da doação da ADA e das centenas de animais para a Prefeitura de Londrina, que arcaria com todos os custos e responsabilidades.
"Existe a necessidade, porque por mais que eu tenha salário de vereadora, que ganho R$ 10 mil [líquidos], não consigo manter aquele abrigo do jeito que precisa ser mantido. Por isso, o MP precisa fazer a parte dele e pegar aqueles animais e retirá-los de lá com o cuidado que eles precisam", pede Moraes.
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