Política

Entidades voltam a protestar contra cortes na assistência social de Londrina

20 out 2025 às 18:37

Trabalhadores da área da assistência social realizaram um protesto na tarde desta segunda-feira (20), em frente à Prefeitura de Londrina, contra o corte de quase R$ 17 milhões no orçamento da Secretaria Municipal de Assistência Social previsto para 2026 — a verba deve cair de R$ 134 milhões, em 2025, para cerca de R$ 117,7 milhões. As entidades conveniadas alertam para o risco de encerramento de programas consolidados e redução nos atendimentos à população.


Com cartazes e palavras de ordem, os manifestantes cobraram a presença do prefeito Tiago Amaral (PSD) e da secretária municipal de Assistência Social, Marisol Chiesa, mas ambos não compareceram. Viaturas da GM (Guarda Municipal) permaneceram posicionadas na entrada da sede do Executivo durante o ato.

À FOLHA, a presidente do CMAS (Conselho Municipal de Assistência Social), Josiani Severino dos Santos Nogueira, afirmou que os cortes podem resultar na demissão de cerca de 70 trabalhadores e impactar diretamente diversos usuários do sistema de assistência — os programas Movimenta Cras e Nova Trilha, por exemplo, não continuarão em 2026. O conselho cobra diálogo com a administração para tentar reverter o cenário.


“Nós enviamos a solicitação de agenda, mas ainda não tivemos resposta”, disse Nogueira. Ela contesta o argumento de que é possível renegociar contratos com as entidades. “Se o prefeito quer fazer mais com menos, isso tem que ser feito de forma técnica, com os profissionais da Assistência Social. Isso não foi feito. Cortar não é resposta de política pública”, acrescentou.


Falta de prioridade


Para Nogueira, a redução orçamentária representa uma “escolha de governo” que evidencia a falta de prioridade dada à assistência social. Na prática, os R$ 17 milhões correspondem a cerca de 22% dos recursos disponíveis para a pasta, desconsiderando a folha de pagamento. “Nós ouvimos um murmurinho de que esse orçamento teria sido recomposto nas pastas do Idoso e da Saúde, mas desconhecemos isso”, frisou. “Sabemos que, desses 22%, cerca de 12% sairão dos serviços e trabalhadores que estão aqui, e os outros 10% dos benefícios."


Ela também criticou a forma como os cortes vêm sendo divulgados pela administração. “Existem reduções que ainda não chegaram oficialmente ao CMAS e o que percebo, enquanto técnica da secretaria e hoje presidente do conselho, é algo proposital — ir liberando as informações aos poucos para não causar uma revolta muito grande. Mas isso também revela o estilo de governo que teremos nos próximos três anos”, afirmou.



Uma das entidades afetadas é a Cáritas Arquidiocesana de Londrina. A Prefeitura anunciou que pretende manter os repasses aos programas de atendimento a migrantes e de economia solidária, mas ainda há incertezas sobre como isso será feito. “Sabemos que houve a proposta de manter o programa de migrantes, mas não a economia solidária com o mesmo valor. Foi dito que talvez, no ano que vem, haja um aporte no contrato da Cáritas, mas de onde virá esse dinheiro? Em política pública, é preciso saber exatamente qual é a dotação orçamentária”, observou Nogueira.


Programa em risco


Outro programa em risco é a Residência Inclusiva da AFC (Associação Flávia Cristina), que abriga cerca de 30 pessoas com deficiência e emprega mais de 40 profissionais, entre motoristas, cuidadores, assistentes sociais e psicólogos.


“Nós temos três casas e atendemos a população adulta com deficiência em condição de dependência e cuidado. É um serviço muito importante que, há cinco anos, Londrina não tinha. Hoje oferecemos proteção e atendimento integral a essas pessoas”, afirmou a coordenadora do programa, Ana Beatriz Santos Pimentel.


Embora não esteja formalmente incluído no rol de cortes para 2026, o serviço deve ser afetado pela ausência de reajuste inflacionário nos repasses. “Com isso, ocorrem demissões em massa, precarização no trabalho e nos serviços ofertados. Caso se confirme, infelizmente teremos de encerrar o serviço por falta de recursos”, lamentou.


O presidente do Senalba (Sindicato dos Empregados em Entidades Culturais, Recreativas, de Assistência Social, de Orientação e Formação Profissional), Vilson Vieira de Melo, afirmou que os cortes podem ampliar a vulnerabilidade social na cidade. “É um grande retrocesso. Todas as entidades que prestam esses serviços serão afetadas, assim como os usuários e suas famílias”, disse. “A cidade corre o risco de ter mais pessoas em situação de rua e de enfrentar aumento do desemprego.”


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