Pesquisa do Datafolha mostra que dois terços dos brasileiros têm orgulho do país, mas ao mesmo tempo se mostram pessimistas e desanimados quando instados a expressar os sentimentos que ele provoca.
O levantamento ouviu 2.069 pessoas por telefone, para evitar contato pessoal durante a pandemia, nos dias 25 e 26. A margem de erro é de dois pontos para mais ou menos.
É a primeira queda abrupta desde que o índice de orgulhosos subiu, a partir do menor índice na série histórica, iniciada em 2000. Ele havia sido registrado em junho de 2017, quando houve empate entre vergonha e orgulho, no auge da crise do governo Michel Temer (MDB).
Leia mais:
Jair Bolsonaro pode pegar até 28 anos de prisão por tentativa de golpe
Golpismo pode levar Bolsonaro a 28 anos de prisão e a mais de 30 inelegível
Coordenador de equipe de Tiago Amaral fala em ‘portas abertas’ durante transição de governo
PF liga tentativa de golpe e caso da 'Abin paralela' ao indiciar Bolsonaro
Da mesma forma, aumentou o número daqueles que se sentem mais envergonhados do que orgulhosos, de 22% para 29%.
Foram feitas várias perguntas acerca do sentimento que o Brasil provoca nas pessoas, e aí o quadro é menos róseo. O retrato é de um país triste, desanimado e com medo do futuro, embora ao mesmo tempo se diga mais tranquilo.
Estão tristes com o Brasil 63% dos ouvidos, enquanto 34% se dizem felizes. Por outro lado, dizem ter raiva ao pensar no país 42%, enquanto 52% afirmam estar tranquilos –uma inversão em relação à pesquisa de julho de 2019.
Declaram-se desanimados 59%, ante 39% que dizem o contrário. Têm medo sobre o futuro da nação 57%, e 41% dizem confiar nele. Para 69%, o sentimento de insegurança se sobrepõe ao de segurança (30%) ao pensar no Brasil.
Os entrevistados se dividem quando questionados se têm mais medo ou esperança: 53% adotam o tom positivo e 46%, o negativo.
Chama a atenção a preponderância de sentimentos negativos associadas à nação entre mulheres e jovens de 16 a 24 anos. Esses grupos lideram os índices daqueles que se dizem mais desanimados, com medo do futuro, infelizes, inseguros e sem esperança. Apenas no quesito da raiva que o Brasil faz a pessoa passar os mais bravos são os mais ricos (acima de 10 salários mínimos, 48%) e instruídos (com curso superior, 50%).
Há relativa homogeneidade regional nos quesitos levantados, com a exceção mais evidente acerca do humor no Sudeste, a região mais populosa do país, que concentra os principais centros urbanos. Ali, aqueles que têm raiva ao pensar no Brasil empatam em 47% com os que se sentem mais tranquilos.
Empresários são, de longe, os mais otimistas quando o corte é a ocupação. Nada menos que 80% dizem sentir orgulho do país, além de estarem esperançosos (72%) e tranquilos (66%).
Como seria algo previsível, a empolgação opõe aqueles que consideram o governo Jair Bolsonaro bom ou ótimo e os que o julgam ruim ou péssimo. Dos primeiros, 80% se dizem orgulhosos do Brasil, enquanto no segundo grupo 44% se dizem com vergonha.
O mesmo se repete, de forma espelhada, em todos os quesitos de sentimentos: enquanto 75% dos que aprovam Bolsonaro se dizem tranquilos, 64% dos que o rejeitam estão com raiva do Brasil, e assim por diante.
A pandemia do novo coronavírus impacta de forma diferente as percepções do brasileiro. Quando se cruzam as respostas com o fato do entrevistado ter tido Covid-19 ou conhecido algum doente, não há mudanças ante os índices gerais aferidos.
Já quando o cruzamento é com o grau de adesão ao isolamento social, principal medida para o combate à disseminação do vírus, fica claro que ignorar riscos traz uma medida de conforto psíquico. Quão mais normalmente vive o entrevistado, menos sentimentos negativos ele exprime.
No sentido contrário, quão mais isolado, mais angustiados são os sentimentos expressos de medo, tristeza e insegurança com o país.