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Despreocupado

Bolsonaro de folga e ajuda falha à Bahia constrangem aliados e ampliam críticas

Washington Luiz e Mateus Vargas - Folhapress
29 dez 2021 às 14:43

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- Divulgação/Patrícia Torquato
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As cenas dos momentos de folga do presidente Jair Bolsonaro (PL) no litoral catarinense, enquanto a Bahia enfrenta crise gerada pelas fortes chuvas, têm constrangido auxiliares e membros do governo.


Parlamentares da oposição ainda intensificam as críticas e cobram que o mandatário suspenda os dias de praia para liderar a ajuda diante da tragédia na Bahia.

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Nesta terça-feira (28), por exemplo, a hashtag #BolsonaroVagabundo entrou na lista de 'assunto do momento' do Twitter.

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Para amenizar as críticas, o governo montou uma força-tarefa para divulgar as respostas de Bolsonaro à tragédia, mas o principal anúncio de liberação de verba à Bahia, por exemplo, gerou confusão.

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Os canais oficiais, além de auxiliares do presidente, divulgaram fala de Bolsonaro que indicava abertura de crédito de R$ 200 milhões somente para o estado, mas uma MP (medida provisória) publicada na terça-feira (28) distribuiu esta verba para reconstruir rodovias em cinco estados do país.


O governo ainda não explicou se editará nova medida para liberar esta cifra apenas à Bahia. O anúncio frustrou gestores e parlamentares baianos.

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O governador Rui Costa (PT) reclamou de o estado ter recebido R$ 80 milhões com a MP. "Com R$ 80 milhões não dá para recuperar da Bahia, pelo estrago que tem. Tem vários rompimentos", disse ele na terça (28) ao lado de ministros de Bolsonaro.


Reservadamente, auxiliares do presidente reconhecem que o ideal seria suspender a folga e viajar às áreas atingidas. Consideram, porém, difícil Bolsonaro dividir espaço com o governador petista da Bahia nas ações.

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Bolsonaro teria sinalizado a aliados que pode ceder e ir ao estado, mas não foi assertivo nem confirmou uma data para antecipar o fim do descanso.


Na segunda-feira (27), disse que "espera não ter de retornar antes" do feriado de Réveillon no litoral catarinense.

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O deputado João Carlos Bacelar (PL-BA) disse que Bolsonaro deve visitar o estado quando for mensurada a tragédia. "Agora é hora de resgatar as vítimas, para depois vir a reconstrução", disse.


Ele afirmou que o governo prometeu entregar toda a ajuda que for necessária ao estado. "Se [Bolsonaro] chega lá hoje e amanhã chover mais, aí volta amanhã de novo? É preciso saber qual o tamanho do problema. Ele vai", declarou Bacelar.

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Para a oposição, Bolsonaro age com desdém à crise causada pelas chuvas e terceiriza responsabilidades.
"Bolsonaro já mostrou que é indiferente ao sofrimento dos brasileiros: ironizando pacientes com falta de ar devido à Covid, omitindo-se diante da miséria que levou brasileiros a disputar ossos para comer e, agora, divertindo-se nas férias enquanto baianos morrem e ficam desabrigados graças às fortes chuvas", disse o líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ).


Como parte da mobilização para abafar as críticas ao presidente, ministros têm destacado que as ações de ajuda à Bahia foram orquestradas por Bolsonaro.

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João Roma (Cidadania), potencial candidato ao governo baiano, escreveu no Twitter que "estamos juntos trabalhando para minimizar o sofrimento". "Essa é a orientação do presidente Bolsonaro", escreveu ainda.


O vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB), também está de folga. Ele descansa com a família em Aratu, no litoral da Bahia. A assessoria do general disse nesta quarta-feira (29) que não há previsão de Mourão ir às áreas atingidas.


Deputados que compõem a base aliada do governo minimizam as críticas. Apoiadora do presidente, a deputada Bia Kicis (PSL-DF) afirma que Bolsonaro já esteve na Bahia no início de dezembro para sobrevoar cidades que afetadas pelas chuvas.


"A equipe dele está lá, tem quatro ministros lá e o presidente já esteve lá no começo do mês, até mesmo antes do governador. O presidente precisa descansar para aguentar o rojão. Essas críticas são absolutamente descabidas", afirmou.


Nessa mesma viagem, o presidente causou aglomeração ao percorrer a cidade e atacou medidas de combate à Covid-19. Jornalistas ainda foram agredidos por seguranças e um apoiador do presidente.


O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou na terça-feira (28) que considera os recursos liberados pelo governo federal insuficientes.


"Deve ser, no nosso ponto de vista, um paliativo para o tamanho do que aconteceu na Bahia e que já está acontecendo em outros estados do Brasil, como Piauí e Minas Gerais. Nós devemos ter outras ações do governo federal, que já se coloca à disposição", disse ele após se reunir com com parlamentares baianos.


O deputado Bibo Nunes (PSL-RJ) defendeu as férias do chefe do Executivo e disse que o governo tem feito "tudo que é possível" para resolver a situação na Bahia.


"Hoje nós estamos na idade mídia, não mais na idade média. Não é preciso estar presente para fazer as coisas. Ele tem ministros para isso, tem muitos assessores para isso. Não vejo problema algum."


"Se o presidente não estivesse em férias, não iria impedir que acontecesse o que aconteceu. Não se pode querer culpar as férias do presidente pelo que aconteceu na Bahia", declarou.


Bolsonaro viajou a São Francisco do Sul (SC) na segunda-feira (27) para passar o Réveillon com a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e a filha mais nova, Laura. No fim da manhã de terça (28), acompanhado da caçula, o presidente passeou de jet ski.


Também na terça, os ministros Marcelo Queiroga (Saúde), Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), João Roma (Cidadania), e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) se encontraram em Itabuna, um dos municípios afetados, e sobrevoaram a região.


A ida dos ministros não foi suficiente para diminuir a pressão sobre Bolsonaro. O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) disse que a falta de Bolsonaro é "um desrespeito".


"Ele não deveria só sobrevoar, deveria tomar medidas, fazer um gabinete de crise para ajudar, mas como talvez o governador não seja aliado dele, então, não interessa para ele", declarou.


Já o deputado Afonso Florence (PT-BA) afirmou que ex-presidentes de diferentes posições políticas lideravam as ações de combate às tragédias.


"Qualquer presidente anterior, Dilma, Lula, o próprio FHC, todos em situações como essa se deslocaram. O presidente, quando tem estatura para o cargo, não importa se direita ou de esquerda, se desloca até a área, coordena ações", disse o deputado.

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