Denunciado ao STF (Supremo Tribunal Federal) sob a acusação de liderar uma tentativa de golpe de Estado, Jair Bolsonaro (PL) disse nesta terça-feira (25) ver sua condenação como provável considerando as condições atuais e afirmou que a primeira turma da corte, responsável pelo caso, é conhecida como "câmara de gás".
"Se você analisar uma turma com a outra, essa turma que eu estou, tem um apelido, né? Câmara de gás. Entrou ali...", ele declarou em entrevista ao jornalista Leo Dias. Questionado sobre quem teria apelidado o grupo dessa forma, respondeu: "É o que a gente ouve falar por aí".
A denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) contra Bolsonaro deverá ser julgada na Primeira Turma do STF, onde atua o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso. Ela é formada ainda pelos ministros Cármen Lúcia, Cristiano Zanin, Flávio Dino e Luiz Fux.
"Pelo andar da carruagem, o senhor vai ser condenado por essa turma, né?", perguntou o jornalista. "Hoje em dia, sim, mas tem um tempo pela frente ainda", respondeu.
Os dois ministros indicados pelo ex-presidente em seu mandato, Kassio Nunes Marques e André Mendonça, integram a Segunda Turma do Supremo, composta ainda por Gilmar Mendes, Edson Fachin e Dias Toffoli.
Nesta terça, Gilmar elogiou a denúncia da PGR, disse que o relatório da PF é "muito sólido, com uma farta documentação", o que "tornou a denúncia também bastante concatenada".
Bolsonaro disse na entrevista que conversa atualmente com 4 dos 11 integrantes da corte e citou que já teve problemas com Dino quando ele era deputado estadual.
O ex-presidente também declarou que, se for condenado por todos os crimes de que é acusado, com penas que podem somar mais de 40 anos, pode morrer na prisão.
"O senhor pode passar 40 anos preso", afirmou Leo Dias. "Quarenta anos, não. Morrer na cadeia. Eu não vou viver mais [do que isso]", rebateu ele, completando que acha que "para algumas pessoas importantes, não interessa eu preso, interessa eu morto". "Eu preso vou ser um problema também, vai haver uma comoção nacional."
Bolsonaro foi acusado no último dia 19 pela PGR (Procuradoria-Geral da República) de praticar os crimes de tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito e de golpe de Estado, de dano qualificado pela violência e grave ameaça contra patrimônio da União, deterioração de patrimônio tombado e participação em uma organização criminosa.
Somadas, as penas máximas chegam a 43 anos de prisão, sem contar os agravantes, além da possibilidade de ele ficar inelegível por mais tempo do que os oito anos pelos quais foi condenado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 2023.
Durante a entrevista, o ex-presidente voltou a se defender das acusações de tentativa de golpe de Estado e a minimizar sua participação nos atos golpistas de 8 de janeiro, afirmando, sem citar provas, que o ataque à sede dos Três Poderes "foi programado pela esquerda".
Ele disse que seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid, cuja colaboração premiada foi divulgada na última semana, "foi torturado" psicologicamente por Moraes em depoimentos. O ministro ameaçou decretar sua prisão, revogar a delação e seguir com investigações que atingiriam seus familiares, caso não falasse a verdade.
"Um comportamento muito mais ameno do que esse serviu para anular a Lava Jato. [...] No meu caso tem dez vezes mais nulidades", argumentou. Questionado se estava defendendo Cid, o ex-presidente disse que não o atacaria e que se coloca no lugar dele.
"Ele [Cid] cresceu muito, todo mundo ligava para ele, eu apelidei o telefone dele de muro das lamentações. [...] Eu acho que ele se empolgou com essa missão, ele tinha o excesso de iniciativa. Às vezes queria resolver sem falar com a pessoa adequada. De boa fé, para deixar bem claro", declarou.
Bolsonaro também minimizou os áudios extraídos de celulares de alguns dos acusados de participar da trama golpista. Em um deles, o general da reserva Mario Fernandes, ex-chefe dos chamados "kids pretos" do Exército, afirma que "o decreto é real e foi despachado ontem com o presidente" e pede "movimento".
"Tem algum áudio comigo?", perguntou. Ele então afirmou que "foram estudadas hipóteses de estado de sítio", mas que, se fosse realmente publicar um decreto, teria que ter convocado os conselhos da defesa e da República, "umas 30 pessoas", e não chegou nem nessa fase.
Questionado se aceitaria ser o "primeiro cavalheiro" de sua esposa, Michelle, caso ela fosse eleita presidente em 2026, Bolsonaro afirmou, rindo, que "não vai cair bem esse papo de cavalheiro para mim". Disse que Michelle se comunica bem, é conhecida no país todo e fez um bom trabalho como primeira-dama, mas não quer ser candidata.
Ele voltou a dizer, porém, que ela já aceitou se candidatar para o Senado. O ex-presidente admitiu que ela não tem uma boa relação com seu filho e vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PL), mas desviou sobre os motivos. Citou ciúme, o gênio de Michelle e problemas do passado.
Questionado sobre outros nomes da direita, Bolsonaro afirmou que preferia não falar sobre Pablo Marçal (PRTB). Disse que gosta de Guttavo Lima como cantor sertanejo, que ele "tem um jeito meio caipirão de ser, meio grosso", e que se forem adversários em eleições "vai ser tratado com a maior cordialidade".
O ex-presidente disse ainda que o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) precisa "saber a hora certa dele", porque tem certas coisas que depende de idade, e que ele não pode deixar "a fama subir à cabeça".
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