Partidos de centro-direita como PSD, MDB, PP são os que mais receberam doações de pessoas físicas nestas eleições, aponta levantamento da Folha de S.Paulo junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Leia mais:
Bolsonaro fala em 'fato isolado' e diz que explosões em Brasília devem levar a reflexão
Novo Código de Obras é debatido em audiência pública na Câmara
Deputados federais de Londrina não assinam PEC e questionam fim da escala 6x1 para trabalhadores
PEC 6x1 ainda não foi debatida no núcleo do governo, afirma ministro
No somatório das doações feitas diretamente aos candidatos e aquelas feitas aos diretórios nacional, estaduais e municipais dos partidos, o PSD lidera com R$ 84 milhões em doações de pessoas físicas. Na sequência, aparece o MDB, com R$ 78,8 milhões e o PP com R$ 56,5 milhões.
Ao todo, as doações de pessoas físicas somam R$ 643,5 milhões, sendo 89% deste valor (R$ 577,8 milhões) destinados diretamente para os candidatos e o restante para as legendas. A análise considera dados do TSE atualizados até sexta-feira (27).
Os valores ainda serão atualizados, já que os candidatos podem receber doações até o segundo turno. Na eleição municipal de 2020, o valor final de doações de pessoas físicas foi de R$ 1,2 bilhão.
A maior parte dos recursos vem de grandes doadores. Nesta eleição, o principal deles foi Rubens Ometto Silveira Mello. O bilionário do grupo Cosan, que atua nos setores de energia, óleo e gás, agronegócio e mineração, doou R$ 15,7 milhões, sendo R$ 1 milhão diretamente ao MDB.
O valor é mais que o triplo dos R$ 4,1 milhões desembolsados pelo segundo colocado no ranking, José Ricardo Rezek. Ele é fundador do Grupo RZK, que atua nos setores de energia, telecomunicação e tecnologia.
Empresas foram proibidas de doar para campanhas em 2015, mas empresários continuam fazendo doações eleitorais milionárias como pessoas físicas.
Em 2016, Alexandre Grendene- co-fundador da empresa calçadista Grendene- foi o maior doador individual, com R$ 4,3 milhões. O bilionário não fez doações nesta eleição, mas o seu irmão e sócio, Pedro Grendene, doou R$ 560 mil.
Ometto assumiu a liderança do ranking de maiores doadores em 2018, quando somou R$ 7,5 milhões em recursos direcionados a diversos partidos e candidatos, incluindo João Doria (então no PSDB) e Onix Lorenzoni (PL).
Dentre as doações de pessoas físicas, o PSD de Gilberto Kassab foi o que partido que mais recebeu recursos doados diretamente ao partido. Foram R$ 16,1 milhões repassados aos diretórios, que escolhem qual campanha receberá o recurso na ponta.
Foi nesta modalidade que o partido recebeu R$ 1 milhão do empresário Antonio Setin, que atua no setor de construção e incorporação, via diretório nacional. Por meio do diretório estadual, o PSD recebeu R$ 1 milhão de Francine Prado Kallas, ligada ao Grupo Cedro, que atua no setor de mineração.
Partidos que protagonizaram as eleições presidenciais e que possuem as maiores fatias do fundo eleitoral, o PL e o PT aparecem mais atrás nas doações de pessoas físicas. O partido de Jair Bolsonaro recebeu R$ 45,8 milhões e o partido do presidente Lula conseguiu R$ 39,2 milhões.
O PL, que é detentor da maior fatia do fundo eleitoral neste ano (R$ 888,7 milhões), recebeu apenas R$ 3,3 milhões em doações diretas ao partido. O maior valor, R$ 250 mil, foi doado para a direção municipal de Sinop (MT) por Roberto Dorner, que concorre à reeleição na prefeitura da cidade pelo próprio partido.
Manoel Conde Neto, presidente da Farma Conde, e Rubens Ometto Silveira Mello também se destacam entre as maiores doações diretas à legenda, com R$ 200 mil cada.
O PT recebeu R$ 1,9 milhão em doações diretas ao partido, na qual se destacam R$ 250 mil repassados por Carlos Laranjeira, ex-sócio da construtora OAS. O mesmo valor foi repassado pelo advogado Paulo Erico Moraes Gueiro.
A maior doação de uma pessoa física para campanhas do PT veio de Maria Paula Lanat Suarez. Ela é esposa de Carlos Suarez, empresário que foi um dos fundadores da empreiteira OAS e atua nos setores de gás e imobiliário.
A empresária fez doações que somam R$ 910 mil, sendo R$ 810 mil para a campanha de Luiz Caetano (PT), candidato a prefeito de Camaçari, e R$ 100 mil para Carlos Tito (PT), que concorre à Prefeitura de Barreiras. As duas cidades são entre as prioridades do PT baiano nas eleições deste ano.
Suarez é conhecido por sua influência no meio político da Bahia. Há uma semana, sua filha Isabela Suarez recebeu uma comenda da Assembleia Legislativa em um evento concorrido, que reuniu o prefeito Bruno Reis (União Brasil) e o vice-governador e candidato a prefeito Geraldo Júnior (MDB).
A campanha de Luiz Caetano também recebeu recursos de diretores de empresas ligadas a Suarez, conforme dados da Receita Federal. Paulo Celso Guerra Lage fez uma doação de R$ 500 mil e Luiz Alberto Benevides Barbosa doou R$ 190 mil.
Lage também doou R$ 480 mil para o PP de Salvador, legenda liderada por Cacá Leão, secretário de Governo da gestão de Bruno Reis.
Dentre as doações feitas aos diretórios partidários, destaca-se o nanico DC (Democracia Cristã), que recebeu R$ 1,9 milhão. Deste total, R$ 740 mil foi para o DC em Salvador, liderado por Igor Domingez, que era secretário particular de Bruno Reis na prefeitura.
Doaram recursos para o partido Marcio Barata Diniz, que atua no setor de energia, o banqueiro Ângelo Calmon de Sá e João Gualberto Vasconcelos, que foi deputado federal pelo PSDB e atua nos setores imobiliário e de supermercados.
Outros R$ 450 mil foram para o diretório de Rondonópolis (MT), em doação do empresário Odílio Balbinotti Filho, produtor de soja e apoiador de Bolsonaro. Os recursos foram distribuídos entre candidatos a vereador do partido. Ao todo, ele doou R$ 2,4 milhões para diversos candidatos e legendas.
Em uma rede social, ele defendeu as doações para eleger prefeitos e vereadores de direita em 2024: "Continuarei a doar, de forma cristalina e dentro da legalidade, o que for possível, inclusive conclamo a todos que dentro das suas possibilidades que contribuam com seus candidatos", disse.
Mesmo com o volume milionário de doações feitas por pessoas físicas, o grosso das campanhas eleitorais é financiado pelo fundo eleitoral, que teve valor recorde de R$ 4,9 bilhões em 2024. Composto por dinheiro público, passou a valer nas eleições de 2018. Na eleição municipal de 2020, foi de R$ 2 bilhões.