A revelação de que a campanha do governador Beto Richa (PSDB) à reeleição pode ter recebido dinheiro de propina caiu como uma bomba no "colo" dos servidores públicos estaduais. Já indignados com a aprovação do projeto do ParanaPrevidência e com o anúncio de que o governo não vai negociar o reajuste salarial deste ano, os funcionários, muitos deles em greve, usaram as redes sociais nas últimas horas para comentar a informação revelada pelo auditor fiscal Luiz Antônio de Souza, um dos suspeitos de integrar a organização criminosa descoberta na Receita Estadual em Londrina. "Começa a aparecer o que motivou as dificuldades financeiras do Estado. O governador afirma que não há recursos em um cenário onde todo mundo percebe que a arrecadação foi seriamente comprometida", argumentou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato) em Londrina, Márcio André Ribeiro, em entrevista ao Bonde neste sábado (16).
O auditor fiscal fez a revelação após fechar um acordo de delação premiada com o Ministério Público (MP). Ele teria dito que parte da propina arrecadada por fiscais da Receita - aproximadamente R$ 2 milhões - foi para a campanha de reeleição de Richa. "Dinheiro desviado que compromete a receita do Estado", destacou Ribeiro. O PSDB negou as acusações em nota.
O presidente da APP em Londrina comentou, ainda, que a atual situação do governo não pode comprometer a relação do poder público com o funcionalismo. "O servidor não pode ser prejudicado. Não podemos pagar o preço pela corrupção", disse, lembrando que as dificuldades financeiras alegadas levaram Richa a anunciar reajuste salarial aos funcionários abaixo da inflação. "O índice dá mais de 8% e o governo oferece 5% em duas parcelas e só quando o caixa permitir. Isso é inadmissível", lembrou.
Já o vice-presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Superior Público Estadual de Londrina e Região (Sindiprol/Aduel), Nilson Magagnin Filho, argumentou que a denúncia de propina vai na contramão do discurso de austeridade do governador. "Ele diz que não tem dinheiro, que precisa fazer cortes... No entanto, alguém que foi eleito dessa forma fica sob suspeita e perde a credibilidade", afirmou. "Os servidores vão ficando cada vez mais indignados, sobretudo os professores, ainda mais por conta do que aconteceu no último dia 29", completou o sindicalista, lembrando da ação policial que deixou mais de 200 feridos no entorno da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep).
Greve geral
Os servidores públicos estaduais prometem fazer uma grande manifestação em Curitiba na próxima terça-feira (19). Funcionários de todo o estado devem se reunir na capital para protestar contra o anúncio feito pelo governo na última quinta-feira referente ao reajuste salarial e exigir que Richa retome o diálogo. "Nós insistimos que ele volte à mesa de negociações", observou o presidente da APP em Londrina.
O funcionalismo também pretende discutir a possibilidade de deflagrar uma greve geral no estado. Professores da Rede Estadual e das universidades já estão com os serviços paralisados. Já os agentes penitenciários devem discutir a possiblidade de greve justamente na próxima terça-feira, no período da tarde, em Guarapuava. Os servidores da Secretaria Estadual Saúde também pretendem votar a paralisação na semana que vem, assim como os funcionários do Judiciário e da Sanepar.