Estabelecida por cientistas como o limite para evitar os efeitos mais nocivos das mudanças climáticas, a marca de 1,5°C de aumento na temperatura média na Terra tem 80% de chances de ser ultrapassada, ainda que temporariamente, em pelo menos um dos próximos cinco anos.
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A informação é de um novo relatório da OMM (Organização Meteorológica Mundial), vinculada à ONU (Organização das Nações Unidas), divulgado na manhã desta quarta-feira (5).
A entidade estima que haja 47% de possibilidade de que todos os anos no intervalo entre 2024 e 2028 excedam os 1,5°C de aquecimento. A marca é especialmente simbólica por ser a meta preferencial -e mais ambiciosa- do Acordo de Paris.
O documento calcula ainda que a temperatura média anual na superfície do planeta será, nos próximos cinco anos, entre 1,1°C e 1,9°C mais alta do que a registrada no período pré-industrial (1850-1900), o principal padrão de referência para os termômetros antes das mudanças climáticas.
A OMM diz que há 86% de chances de que pelo menos um dos próximos cinco anos estabeleça um novo recorde de calor, superando 2023, que atualmente é o ano mais quente da história da humanidade.
A entidade destaca, contudo, que esse cenário não significa que a Terra já ultrapassou definitivamente a barreira do aquecimento de 1,5ºC, mas serve de alerta. Para que o limite seja considerado definitivamente superado, é preciso que ele se repita de forma consistente, em intervalos temporais bem maiores.
"A OMM está soando o alarme de que excederemos o nível de 1,5°C de forma temporária com frequência crescente. Já superamos temporariamente esse nível em meses individuais -e, de fato, como média durante o período mais recente de 12 meses", disse a secretária-geral adjunta da organização, Ko Barrett.
Também divulgados nesta quarta, dados do observatório Copernicus, da Agência Espacial Europeia, mostram que maio de 2024 teve a temperatura mais elevada já registrada para esse mês, ficando 1,52°C acima da média pré-industrial.
Esse foi o 11º mês consecutivo, desde julho de 2023, em que a média global de temperaturas foi igual ou superior a 1,5°C.
O resultado também representa o 12º segundo mês consecutivo em que a temperatura média global atinge um valor recorde para o mês correspondente. Com isso, a média na superfície do planeta entre junho de 2023 e maio de 2024 foi a mais elevada já registrada: 1,63°C acima do nível pré-industrial.
"É chocante, mas não surpreendente, que tenhamos alcançado esta sequência de 12 meses", afirmou o diretor do serviço de Mudanças Climáticas do Copernicus, Carlo Buontempo. "Embora esta sucessão de meses recordes eventualmente seja interrompida, a assinatura geral das alterações climáticas mantém-se e não há sinais à vista de uma mudança nesta tendência."
A divulgação dos novos dados globais foi feita para coincidir com um discurso do secretário-geral da ONU, António Guterres, pedindo maior ambição para as questões climáticas na cúpula do G7, que acontece na Itália entre 13 e 15 de junho. "Estamos brincando de roleta russa com o nosso planeta", afirmou Guterres.
"No último ano, a cada virada do calendário, a temperatura aumentou. Nosso planeta está tentando nos dizer algo, mas não parece que estamos ouvindo. Estamos quebrando recordes de temperatura global e colhendo a tempestade. É hora de agir. Agora é o momento de mobilizar, agir e entregar resultados", disse o líder das Nações Unidas.
"A batalha para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C será vencida ou perdida na década de 2020, sob a vigilância dos líderes de hoje", completou.
Ainda que a comunidade científica não considere esse limite de aquecimento definitivamente ultrapassado, os níveis atuais de temperaturas já representam riscos -em média, o planeta já aqueceu cerca de 1,2°C em relação aos níveis pré-industriais.
A intensificação de eventos climáticos extremos está entre os pontos mais destacados pelos cientistas. Eventos como ondas de calor mais fortes e frequentes, tempestades, secas extremas e reduções no gelo marinho têm sido registrados com maior frequência em vários pontos do mundo.
No Acordo de Paris, assinado em 2015, os países concordaram em manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2°C, esforçando-se para limitá-lo a 1,5°C até o fim deste século.
"Por trás dessas estatísticas está a realidade sombria de que estamos muito fora do caminho para atingir os objetivos estabelecidos no Acordo de Paris", ressaltou Ko Barrett, da Organização Meteorológica Mundial.
"Devemos urgentemente fazer mais para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, ou pagaremos um preço cada vez mais alto em termos de trilhões de dólares em custos econômicos, milhões de vidas afetadas por eventos climáticos extremos e danos extensivos ao meio ambiente e à biodiversidade."