A missão Chandrayaan-3 conseguiu pousar com sucesso na superfície da Lua nesta quarta-feira (23). A alunissagem bem-sucedida torna a Índia o quarto país a realizar o feito, depois de Rússia (então União Soviética), Estados Unidos e China. Isso além de ser o primeiro a fazer uma descida no polo sul lunar, região mais desafiadora para pousos que a faixa equatorial.
O toque suave sobre a superfície lunar se deu às 9h33 (pelo horário de Brasília), após cerca de 1 minuto de frenagem conduzida pelos propulsores do módulo de pouso. O sucesso foi transmitido ao vivo pela Isro (a agência espacial indiana) e contou com um discurso do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, falando da África do Sul, onde participa da reunião dos Brics.
Festejando a realização como o começo de uma nova era, o premiê indiano, alternando entre hindi e inglês, destacou o ineditismo da realização. "Nenhum país chegou lá [no polo sul da Lua] antes. Com o trabalho duro de nossos cientistas nós chegamos lá."
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Em inglês, ele apresentou o sucesso como uma realização em prol de toda a humanidade e destacou que todos podem ambicionar a Lua, inclusive os países do chamado Sul Global.
Foi a segunda tentativa por parte dos indianos de descer à superfície lunar com uma sonda não tripulada, depois da Chandrayaan-2, lançada em 2019, que contava com um orbitador lunar (ainda em operação), e um módulo de pouso contendo um rover. Durante a aproximação final para a alunissagem, em 6 de setembro daquele ano, o módulo se espatifou no solo lunar após o que foi diagnosticada como uma falha de software na operação dos motores de descida.
Quase quatro anos depois, a Chandrayaan-3 é uma versão aprimorada do módulo de pouso Vikram e do rover Pragyan usados naquela tentativa. Lançada em 14 de julho último, ela desta vez não contou com um orbitador, mas com um simples módulo de propulsão para as manobras orbitais.
O caminho para a Lua foi essencialmente o mesmo nas duas ocasiões, com uma inserção à órbita terrestre, seguida por manobras para ampliação gradual do apogeu (ponto de máximo afastamento da Terra), até a captura pela gravidade lunar. Dali, seguiu-se manobra inversa, com o módulo de propulsão gradualmente circularizando a órbita da Chandrayaan-3 em torno da Lua, com uma altitude média de quase 160 km, o que foi atingido na quarta-feira passada (16).
Depois disso, o módulo de propulsão foi ejetado e os quatro motores do Vikram se encarregaram de ajustar a trajetória para uma órbita pré-pouso (justamente o que falhou no último sábado com a missão russa Luna-25), com perilúnio (ponto mais próximo da superfície lunar) de 25 km e apolúnio (ponto mais distante) de 134 km.
É justamente da baixa altitude de 25 km que o Vikram iniciou o procedimento final de descida para a superfície, mirando uma região próxima ao polo sul lunar, entre as crateras Manzinuz e Boguslawsky (localizadas na face voltada para a Terra, o que permite a comunicação direta entre o equipamento e as antenas de comunicação espalhadas pelo planeta).
Com o sucesso do pouso, a Chandrayaan-3 (o nome significa simplesmente "nave lunar" em sânscrito) passa a cumprir dois objetivos adicionais: realizar observações e experimentos com os instrumentos a bordo do módulo de descida Vikram ("valor") e demonstrar as capacidades do pequeno rover Pragyan ("sabedoria").
Uma das grandes expectativas com a missão é, com a descida no polo sul, talvez fazer a primeira detecção em solo da presença de água (na forma de cristais de gelo). De fato, existem evidências de que há gelo no interior de crateras polares onde a luz solar nunca alcança, colhidas pelas sondas americanas Clementine (1994) e Lunar Prospector (1998), e coube a outra sonda indiana, a orbitador Chandrayaan-1, detectar sinais de que mesmo regiões iluminadas (como o local onde desceu a Chandrayaan-3) podem ter alguma quantidade de moléculas de água presas em meio ao regolito (solo) lunar.
Esse, por sinal, é o principal interesse por trás de uma recente corrida ao polo sul lunar, com missões chinesas, russas, indianas e americanas mirando aquela região. Água é um recurso valiosíssimo no espaço, por permitir não só o consumo direto por astronautas como também a produção de oxigênio (para consumo e reações de combustão) e hidrogênio (como combustível).
Além disso, os polos, sobretudo em regiões permanentemente iluminadas, apresentam condições térmicas mais benignas para estadias de longo prazo na superfície. Tanto americanos como chineses ambicionam a eventual instalação de uma base tripulada permanente na região.
O módulo de pouso Vikram tem embarcados três instrumentos, um para medir fluxos de íons e elétrons próximos à superfície, outro para realizar medições das propriedades térmicas da superfície lunar próximo ao polo e um terceiro para medir abalos sísmicos e com isso ajudar a investigar a estrutura interna da Lua.
Já o rover Pragyan conta com dois instrumentos, um espectrômetro de raios X para investigar a composição química e mineralógica do solo, e um espectroscópio a laser para identificar a presença de elementos químicos específicos no solo e em rochas.
Por fim, o descartado módulo de propulsão, mantido em órbita da Lua, tem um experimento para estudar o espectro (a "assinatura de luz") da Terra visto de longe, como forma de compará-lo ao de planetas fora do Sistema Solar, sendo observados atualmente por vários telescópios, em particular o James Webb.
Ainda que essas cargas úteis apresentem sucessos apenas parciais ao longo da duração da missão, terá sido um resultado espetacular para o programa espacial indiano.
O prazo de validade do Vikram e do Pragyan é de cerca de 14 dias o tempo que dura a fase diurna do dia lunar. Ambos não foram projetados para sobreviver ao frio que recai sobre o satélite natural durante a noite.