Dados da PF (Polícia Federal) mostram que, de 2019 a 2025, os Estados Unidos deportaram 11.274 brasileiros.
O número foi maior durante o governo do democrata Joe Biden -o pico ocorreu em 2022, quando 4.274 pessoas retornaram ao Brasil em voos comerciais e fretados.
Na resposta enviada à reportagem via LAI (Lei de Acesso à Informação), a PF afirmou não possuir registros anteriores a 2019.
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Além disso, o órgão não forneceu informações relativas a antecedentes criminais, reincidência, idade, sexo, região de origem ou profissão dos deportados.
O dado relativo às deportações de brasileiros dos EUA ao longo dos últimos cinco anos é semelhante àquele de mexicanos deportados desde 20 de janeiro deste ano, quando Donald Trump iniciou seu segundo mandato. Segundo a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, quase 11 mil cidadãos de seu país foram enviados de volta para ele por Washington de lá para cá.
Dados do Serviço de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA mostram que, em 2024, 668.088 mexicanos foram apreendidos pelos americanos. O número de brasileiros foi 20 vezes menor, totalizando 32.130 pessoas.
A administração Trump acusa o México de manter uma "aliança com cartéis" do narcotráfico, declaração que Sheinbaum classifica de calúnia.
Trump tem na anti-imigração uma de suas principais bandeiras de campanha, e assim que assumiu iniciou um esforço de deportação sem igual. Também declarou emergência nacional na fronteira sul e suspendeu a entrada de imigrantes por lá; autorizou a prisão de estrangeiros em situação irregular em escolas, igrejas e hospitais; e restringiu drasticamente o direito à cidadania a nascidos no país de pais estrangeiros em situação irregular.
Várias dessas medidas foram denunciadas, algumas delas, como àquela referente ao direito à cidadania, por supostamente ferirem a Constituição americana.
Um voo de retorno ao Brasil acordado muito antes da posse do americano, mas ocorrido depois dela, em janeiro, chamou a atenção pela violência a que os deportados disseram ter sido submetidos. Eles relataram ter sofrido agressões por parte de agentes americanos quando a aeronave fez escala no Panamá. Segundo eles, um dos motores apresentou problema e demorou para voltar a funcionar. Neste ínterim, os deportados não foram autorizados a deixar a aeronave, que passou por períodos com o ar-condicionado desligado.
O Itamaraty descreveu as condições do voo como degradantes e disse que os brasileiros tinham algemas nos pés e nas mãos. "O uso indiscriminado de algemas e correntes viola os termos de acordo com os EUA, que prevê o tratamento digno, respeitoso e humano dos repatriados", disse a pasta na época, em nota.
O governo brasileiro havia pedido o fim do uso de algemas para os EUA em 2021, enquanto negociava o aumento do número de voos para o Brasil, diante do maior volume de detidos na fronteira sul americana.
Como a Folha mostrou na ocasião, homens e mulheres foram algemados na frente dos filhos em um voo que chegou ao Brasil em dezembro daquele ano. Desde então, defende que o uso de algemas não deve ser indiscriminado.
Os EUA têm até hoje ignorado os apelos feitos pelo Itamaraty por melhorias no tratamento a cidadãos brasileiros, no entanto. O país afirma que o uso de algemas é padrão pelas normas nacionais e se justifica devido à possibilidade de que os passageiros possam afetar a segurança do voo. Ele ainda diz que o tratamento aplicado aos brasileiros é idêntico àquele de cidadãos de outras nacionalidades.
O uso de voos fretados para deportar brasileiros que já não têm direito a recurso ante as autoridades migratórias americanas ocorre há anos.