O ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, defendeu hoje (14) que a violência do grupo radical islâmico Boko Haram deve ser enfrentada para que valores como a tolerância e o pluralismo sejam protegidos da "insurgência bárbara" que atinge a Nigéria e ameaça outros países africanos.
"Não parece haver nenhum limite para o que esse grupo está pronto a fazer para incutir o medo e intimidar toda a população. Ele não pode ter sucesso. Deve-se pôr fim à insurgência bárbara do Boko Haram", disse Annan ao participar, em Abuja, capital da Nigéria, de uma conferência sobre as próximas eleições presidenciais do país, previstas para ocorrer no próximo mês.
Atualmente, Annan preside a Comissão Global sobre Eleições, Democracia e Segurança, formada por ex-líderes e especialistas políticos. Convidado por entidades civis que organizaram o evento, Annan disse que a Nigéria abriga metade da população da África Ocidental, é o oitavo maior exportador de petróleo do mundo, um importante produtor de alimentos e tem um dos maiores Produtos Internos Brutos – soma de todas as riquezas produzidas pelo país – do continente para lembrar que "o que acontece na Nigéria tem enormes consequências não só para o povo nigeriano, mas também para toda a região e para o Continente Africano".
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Os violentos ataques do Boko Haram a cidades, vilas e aldeias do Nordeste da Nigéria já deixaram milhares de mortos, feridos e obrigaram um grande número de nigerianos a abandonarem suas terras e buscarem proteção em um dos 11 acampamentos montados na região para receber os refugiados. Autoridades nigerianas e a imprensa local falam em ao menos 2 mil mortos apenas nos ataques à cidade de Baga, no estado de Borno, nos últimos sete dias, número mencionado inclusive pelo Itamaraty em nota divulgada hoje (14).
Na nota, o governo brasileiro condena os atos de "terrorismo" e manifesta solidariedade ao povo nigeriano. Ontem (13), a ONU condenou a violência do Boko Haram, classificando como "moralmente repugnante" o sequestro de crianças e adolescentes usados em atentados suicidas.
No último sábado (10), ao menos 20 pessoas morreram e 18 ficaram feridas quando uma bomba presa ao corpo de uma menina de 10 anos explodiu em um mercado de Maiduguri, na Nigéria. A explosão ocorreu quando o mercado estava cheio de pessoas. Além disso, na véspera do Ano-Novo, 40 crianças e adolescentes do sexo masculino foram levados de uma aldeia do estado de Borno.
Segundo a Agência Nacional de Gestão de Emergência (Nema) da Nigéria, mais de 3,2 mil pessoas já abandonaram Baga, fugindo dos recentes ataques. A ONU, no entanto, afirma que recebeu informações de que 150 mil pessoas podem ter fugido das áreas controladas pelo Boko Haram. Há ainda alguns jornais nigerianos que mencionam que, somados todos os deslocados dos últimos anos, o total pode ultrapassar 800 mil pessoas.
O medo e o crescente poderio do Boko Haram ameaça as próximas eleições. Segundo a Agência Lusa, de Portugal, o presidente da Comissão Eleitoral Nacional Independente (Inec), Attahiru Jega, admitiu que há pouca expectativa quanto a realização da votação em áreas ocupadas pelo grupo radical. "Há áreas ocupadas por insurgentes e, obviamente, é lógico que as eleições não são suscetíveis de ocorrer nessas áreas", disse Jega, segundo a Lusa.
Ao comentar a importância das eleições para o futuro da Nigéria, Kofi Annan lembrou que o país abriga metade da população de toda a África Ocidental, é o oitavo maior exportador mundial de petróleo e um importante exportador de alimentos. "O que acontece na Nigéria tem consequências enormes para o povo nigeriano mas, também para toda a região e para o continente".