O tempo de espera para obter um visto de turismo ou negócios para os EUA no Brasil chegou a ultrapassar 600 dias em junho, mas vem caindo desde então -atualmente, está em 141 dias no consulado de São Paulo. Apesar da melhora, o tempo ainda é considerado longo pelo governo americano, que prevê acelerar o processo no próximo ano.
"Eu acho que ainda podemos reduzir mais, para que pedidos feitos por brasileiros em qualquer lugar que tenhamos um consulado tenham um tempo de espera de menos de cem dias. Esse com certeza é nosso objetivo", diz à Folha Julie Stufft, secretária-assistente do setor de vistos do Departamento de Estado americano.
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Globalmente, o tempo médio de espera no ano passado para agendar uma entrevista relativa a um visto de turismo ou negócios para quem nunca obteve um antes era de 200 dias, muito abaixo do registrado em outubro de 2022 no Brasil, quando esse tempo era de 400, em média. Recentemente, no entanto, esse número caiu para 140 dias, em linha com os dados do consulado em São Paulo.
A longa fila criou até um mercado informal de venda de agendamentos de entrevista nos consulados, que por sua vez retroalimenta o problema. Stufft afirma que a missão americana no Brasil está ciente do "jeitinho", e que tenta reagir.
"É muito difícil [lidar com isso] porque, legalmente falando, qualquer um pode agendar uma entrevista se tiver um formulário de pedido de visto. Mas nós estamos tentando evitar isso, que chamamos de 'serviços de visto'. Essa é uma das razões pelas quais temos um tempo de espera tão longo em alguns lugares", diz ela.
O Departamento de Estado divulgou nesta terça (28) dados mais recentes sobre a emissão de vistos, relativos ao ano fiscal de 2023 (período que vai de outubro de 2022 a outubro do ano seguinte). No Brasil, houve um aumento de 55% nas solicitações em comparação ao ano anterior.
Do total, quase 1 milhão de vistos de turismo e negócios foram emitidos no país no ano fiscal de 2023 -um recorde, de acordo com Stufft. O número é também quase o dobro do registrado no período anterior, quando 625 mil autorizações de viagem foram concedidas.
"O Brasil é um caso de sucesso para nós", diz ela, destacando que a operação consular no país aumentou a carga de trabalho, incluindo finais de semana, para atender a demanda.
Ainda assim, o Brasil segue sendo um dos locais com maior número de pedidos, junto com Índia, México e Colômbia. A secretária do Departamento de Estado não atribui o volume a uma demanda reprimida pela pandemia, mas sim a um grande interesse de brasileiros de visitar, estudar e trabalhar nos EUA.
"Nós vamos acompanhar o Brasil de perto para garantir que o tempo de espera continue a cair. As lideranças da nossa seção consular no Brasil estão em Washington agora para consultas sobre isso", diz Stufft, ao ser questionada se há outras iniciativas previstas para acelerar a fila no país.
É possível consultar o tempo de espera para vários tipos de visto, nos diferentes consulados dos EUA no país, no site do Departamento de Estado. Os de turismo são os de classificação B1/B2.
No total, o governo americano emitiu cerca de 10,4 milhões de vistos para não-imigrantes no ano fiscal de 2023, cerca de 2 milhões a mais do registrado em 2019, último ano sem o impacto da Covid e utilizado como parâmetro para retomada da normalidade pela burocracia da pasta. Foram 8 milhões de autorizações para turismo e negócios e 600 mil para estudantes.
"Se eu tivesse que resumir em uma frase, eu diria nunca houve no passado tantas pessoas que quiseram visitar os EUA e o puderam fazer imediatamente quanto hoje", afirma Stufft.
Para acelerar ainda mais o processo, há dois programas piloto em teste. O primeiro é a permissão para pessoas que já moram no país possam renovar seu visto ou solicitar um novo sem ter que voltar ao seu local de origem.
De dezembro a fevereiro, cerca de 20 mil pessoas terão acesso ao programa. A prioridade será dada àqueles cujo visto está mais próximo de vencer. Por enquanto, cidadãos brasileiros não estão na lista, mas a ideia é que a possibilidade seja ampliada para mais nacionalidades no futuro.
Os EUA também estão testando vistos eletrônicos, eliminando a necessidade do documento em papel anexado ao passaporte. Um piloto desse programa foi feito em Dublin, na Irlanda, escolhida em razão da existência de um posto oficial americano no aeroporto local para checar a autorização. O teste foi feito com vistos de longa permanência nos EUA, não de turismo e negócios.
A ideia é que, no futuro, um aplicativo no celular seja suficiente para comprovar a posse de um visto, afirma Stufft. Ela diz, no entanto, que deve demorar ao menos 18 meses para que esse programa ganhe escala. Não há previsão de quando brasileiros poderão ter acesso a ele.