A reprodução simulada envolvendo a morte de dois jovens em maio de 2022 em uma operação policial em frente à UEL (Universidade Estadual de Londrina), na PR-445, marcada para esta sexta-feira (10) foi suspensa após divergências entre os advogados das vítimas e dos policiais.
A simulação estava marcada para acontecer às 10h na UETC (Unidade de Execução Técnico Científica), na sede da Polícia Científica, na Avenida Dez de Dezembro, e chegou a começar, mas foi suspensa logo na sequência. O advogado Mauro Martins, que representa a família das vítimas, explica que a defesa dos policiais envolvidos na operação não permitiu que a simulação fosse filmada.
Entretanto, Martins afirma que uma resolução emitida pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) regulamenta que a captação das imagens seja feita e anexada ao processo. “Houve a insurgência por parte do advogado dos policiais que não concordaram e não permitiram”, afirma.
Além disso, outro ponto de discordância entre as partes foi a presença do jovem que sobreviveu à ação policial na simulação. O advogado garante que eles jamais permitiriam uma reprodução simulada sem a presença da vítima, já que o objetivo é verificar a posição das vítimas dentro do veículo. “Quem melhor para falar do que a vítima sobrevivente?”, questiona.
Anderbal Campos Bernardo Júnior e Willian José Faramilio da Silva Júnior, que tinham 21 e 18 anos, respectivamente, foram mortos no dia 6 de maio de 2022, após uma abordagem policial. O terceiro jovem, que estava no banco traseiro do veículo, foi o único sobrevivente. O carro foi alvejado com mais de 50 disparos.
Querem no local do crime
A empresária Hayda Spolom, 39, mãe de Willian Faramilio da Silva Júnior, afirma que, além da presença da vítima sobrevivente, as famílias também querem que a simulação aconteça no local do crime, na PR-445, em frente à UEL. “Era contra a nossa vontade. Foi uma solicitação do advogado dos policiais alegando que eles não se sentiam seguros para estar no local”, relata, complementando que todos os agentes estavam “muito bem armados”.
“Nós esperamos que a justiça seja feita com a simulação no local de origem”, afirma a empresária, detalhando que uma liminar já tramita no TJPR (Tribunal de Justiça do Paraná) para que a reprodução simulada aconteça às margens da PR-445.
Mãe de Anderbal Campos Bernardo Júnior, que completaria 25 anos em 2025, Valdirene Inácio da Silva, 46, também criticou a escolha do lugar. “É frustrante porque a gente só quer provar a verdade, a gente não quer confusão, não quer briga”, afirma.
A empresária relata que Anderbal Campos Bernardo Júnior estava começando a formar uma família, sendo que tinha acabado de se casar. Ele também deixou um filho pequeno, que agora tem quatro anos. “As autoridades deveriam ter um pouco mais de cuidado na formação desses policiais porque eles não acabam com apenas uma vida, eles destroem uma família”, lamenta a mãe.
Ela também comentou o fato de os policiais afirmarem que não se sentiam seguros para que a reprodução simulada acontecesse no local: “Qual é a insegurança de estar perto de uma mãe? Será que é a consciência pesada? Isso é algo que eles vão carregar para o resto da vida”.
Defesa
O advogado Eduardo Miléo, que representa os policiais envolvidos, explicou que a defesa providenciou os veículos e as armas utilizadas na operação para que a representação simulada fosse o mais técnica possível. Segundo ele, os policiais também estavam presentes no local. A divergência, de acordo com o advogado, começou porque a outra parte queria ampliar para além do que estava previsto no despacho do Ministério Público do Paraná.
Ele também disse que vê como desnecessária a filmagem da simulação, já que peritos estavam no local, além de que policiais do setor de inteligência também estavam presentes, sendo que estes não podem ter a identidade divulgada. “Diante dessa forçosa imposição que a defesa queria nos colocar, nós acabamos saindo para que o ato seja técnico e não pirotécnico”, completa.
Ainda não há data definida para que uma nova reprodução simulada aconteça.