A Receita Federal de Londrina também entrou em uma corrente do bem para dar uma destinação social para milhares de mercadorias e produtos apreendidos em operações em municípios da RML (Região Metropolitana de Londrina), do Norte Pioneiro e do Vale do Ivaí. Uma cerimônia simbólica na manhã desta sexta-feira (11) oficializou a doação de cabelos humanos, armações de óculos e outros diversos aparelhos e equipamentos eletrônicos para hospitais e entidades filantrópicas da região.
Chamada de Ação Nacional de Doação Solidária de Mercadorias Apreendidas, o evento está acontecendo em todo o país nesta sexta-feira com o objetivo de destinar produtos frutos de contrabando para entidades que atuam nas áreas de saúde, educação e assistência social. Delegado da Receita Federal de Londrina, Reginaldo Cézar Cardoso explica que as regiões Norte e Norte Pioneiro do Paraná são vistas como uma rota para o contrabando de mercadorias, já que ligam o Paraguai aos grandes centros urbanos, como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Só no ano passado, segundo ele, foram apreendidos R$ 83 milhões em mercadorias dos mais variados tipos. Após a apreensão, esses produtos são retidos pela Receita Federal, que dá a destinação mais viável para cada produto: destruição, doação ou leilão. “A gente privilegia a destinação social porque acreditamos que tenha um retorno social melhor para a sociedade”, afirma.
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No evento, foi formalizada a doação de 95 quilos de cabelo humano para o HCL (Hospital do Câncer de Londrina), avaliada em mais de R$ 300 mil; para o Hoftalon (Hospital de Olhos de Londrina) foram doadas armações de óculos avaliadas em R$ 720 mil; e para o Grupo Orar, de Cornélio Procópio, que recebeu uma doação de quase R$ 200 mil em eletrônicos, que vão ser vendidos no bazar da entidade e revertidos em comida para mais de 900 famílias.
O delegado afirma que a missão da Receita Federal é proteger os comerciantes que trabalham legalmente dentro do país, ou seja, que têm um estabelecimento, pagam impostos, têm alvará e geram empregos. “Esse comerciante precisa ser protegido da concorrência desleal do contrabandista”, explica, complementando que isso é feito através do prejuízo financeiro ao passo em que ele tem sua mercadoria apreendida. Esse trabalho é feito nas estradas e nos comércios da região, assim como através de investigações mais aprofundadas e que têm como foco os “mentores” dessas organizações.
“A gente fica muito satisfeito, como cidadão, do nosso trabalho, que é focado em uma atividade ilícita, que não é muito simpático para a sociedade, mas que a gente pode transformar esses produtos em uma destinação social”, aponta.
Óculos para crianças carentes
Fundador do Hoftalon, Nobuaqui Hasegawa celebra mais um ano de parceria entre a instituição e a Receita Federal, já que através das doações eles dão andamento a um projeto que está ativo há mais de 20 anos: o Hoftalon nas Escolas. Ele explica que as famílias das crianças da periferia atendidas pelo projeto não tinham condições de comprar um óculos após receber o diagnóstico e a receita.
Definindo como uma “rede do bem”, hoje as crianças já saem com os óculos em mãos: as armações doadas pelo órgão vão para óticas parceiras, que confeccionam as lentes para as crianças atendidas pelo projeto. Em 2023, ele afirma que o hospital recebeu da Receita Federal mais de 100 mil armações. “A Receita Federal, através do combate ao mal, reverte o fruto disso para o bem”, afirma.
Comida boa para as famílias
Representante do Grupo Orar, Cláudia Moreira explica que a entidade social existe já há 18 anos com a missão de colocar comida na mesa de famílias em situação de vulnerabilidade social. Hoje, pelo menos 900 famílias recebem cestas com produtos sem valor comercial, mas com valor nutricional. A sede do grupo fica em Cornélio Procópio, mas há cerca de oito anos uma unidade da entidade foi instalada na Zona Norte de Londrina.
No ano passado, eles receberam uma carreta refrigerada como doação da Receita Federal, que vai ser transformada em um cinema itinerante e vai levar, além de alimento, cultura para as famílias. Neste ano, a doação veio através de mercadorias, entre eles aparelhos eletrônicos, que vão ser vendidos no bazar da entidade e o valor revertido em alimento e nos custos com outras despesas. “A Receita Federal é hoje a nossa principal parceira”, garante.
Resgate da autoestima
A doação de 95 quilos de cabelo humano para o HCL vai possibilitar, segundo Francisco Ontivero, presidente da instituição, a confecção de perucas para mulheres que perderam os fios durante o tratamento oncológico. Ele explica que muitas ficam desanimadas e tristes, o que afeta a autoestima e pode até mesmo influenciar no resultado do tratamento. Como os cabelos doados são longos, ele garante que a ideia é fabricar perucas para aquelas mulheres que querem ter de volta as madeixas compridas que tinham antes do tratamento.
Contrabando revertido em mini-computadores educativos
O delegado Reginaldo Cézar Cardoso explica que, durante as fiscalizações, são apreendidos muitos aparelhos chamados de TV Box, que “quebram” o sinal dos canais a cabo e representam, além do contrabando, o crime de roubo de direito de imagem.
Com valor de mercado acima de R$ 1 mil, os aparelhos eram apreendidos e destruídos pela Receita. Entretanto, em uma parceria com a UENP (Universidade Estadual do Norte do Paraná), foi identificado que os componentes do equipamento são valiosos e podem ser reaproveitados dentro da instituição como uma ferramenta de aprendizado, dando origem a um mini-computador que armazena jogos infantis.
Vice-reitor da UENP, Ricardo Aparecido Campos detalha que a Receita chegou com um “problema”, já que eram destinados recursos para a destruição do equipamento, gerando também um impacto ambiental. No início de 2024 a universidade recebeu 200 unidades do aparelho com o desafio de reaproveitar, o que deu origem ao Projeto Recriar. A ideia foi inviabilizar a função inicial do equipamento e transformá-lo em um mini-computador, que armazena jogos infantis e que podem ser utilizados como uma ferramenta pedagógica.
Até o momento já foram produzidas 100 unidades, que vão ser distribuídas em breve em escolas municipais de Cornélio Procópio, Jacarezinho e Bandeirantes. “Como nós já temos um modelo pronto, fica fácil de ampliar a produção”, adianta, sobre a possibilidade de expandir o projeto. “Um material que ia causar prejuízo ambiental e econômico para a sociedade vai ser aproveitado agora para a formação das nossas crianças”, comemora.
Pró-reitora de Graduação da UENP, Juliana Telles Faria Suzuki detalha que a sala de aula é um espaço em que muitas ferramentas e metodologias podem ser inseridas para contribuir com o processo de aprendizagem dos estudantes, sendo os recursos tecnológicos um dos mais importantes.
Os jogos que estão dentro do mini-computador contêm conteúdos que são trabalhados dentro da sala de aula de maneira lúdica, o que ajuda a chamar a atenção da molecada. “O nosso objetivo foi trazer o que há de bom na tecnologia e, ao mesmo tempo, trabalhar um conteúdo que é necessário para a aprendizagem dele”, afirma.
