O edifício conhecido como "Motel Tijolinho", localizado no Centro de Londrina, na esquina da avenida Leste-Oeste com a rua Ouro Preto, foi completamente demolido nesta quinta-feira (30). A operação começou por volta das 5h, horário escolhido para minimizar os impactos no trânsito local.
Mesmo assim, equipes da CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização) e da Guarda Municipal de Londrina ficaram responsáveis por coordenar o bloqueio parcial da Avenida Leste-Oeste, liberando o fluxo em parte da pista após a maior parte da estrutura ser derrubada.
A demolição ocorreu após a Prefeitura de Londrina liberar o alvará necessário, atendendo a uma demanda antiga da comunidade local.
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O prefeito Tiago Amaral (PSD) anunciou a medida em suas redes sociais, destacando que o local, anteriormente associado a atividades ilícitas, como prostituição e venda e uso de entorpecentes, e perturbação da ordem pública, agora faz parte do passado.
O PROCESSO DE OBTENÇÃO DO ALVARÁ
A autorização para a demolição do Motel Tijolinho foi concedida pela Prefeitura de Londrina após um longo processo burocrático.
O proprietário do imóvel, que prefere não se identificar, afirma que a demora para obter o alvará foi um obstáculo, apesar de seu interesse na demolição. “Os entraves burocráticos estavam impedindo que eu tivesse a propriedade plena do imóvel, adquirido há cerca de dois anos”, explica.
Durante a gestão anterior, a liberação do alvará esteve atrelada à regularização de pendências financeiras do imóvel, o que gerou impasses. No entanto, o proprietário contesta essa exigência. “Quando se adquire um imóvel através de arrematação judicial, trata-se de aquisição originária, onde o valor pago em leilão é destinado aos credores. A exigência da Prefeitura era equivocada”, critica.
O proprietário também ressalta que a atual administração foi mais ágil na liberação. “O atual prefeito foi muito sensível com a situação, que era ruim para mim e para a cidade, um problema social e criminal na região”, pontua.
Com a demolição concluída, o próximo passo será a retirada dos entulhos e a avaliação de novos projetos para o terreno. “O que será construído no local ainda depende de uma análise de viabilidade”, afirma.
Para o proprietário, a remoção do prédio representa um avanço para a segurança e valorização do centro de Londrina.
“A demolição vai dar melhores condições melhores para que os responsáveis pela segurança pública e pela política social possam agir com maior efetividade, tratando dessas pessoas em vulnerabilidade e garantindo mais segurança para os londrinenses e comerciantes que investem na região.”
FUNCIONAMENTO DO TRÂNSITO
Para minimizar os impactos da interdição e garantir a segurança dos motoristas e pedestres, a CMTU organizou desvios e manteve equipes em pontos-chave da região central.
O fluxo de veículos foi redirecionado para rotas alternativas, o que permitiu que a mobilidade urbana fosse preservada durante os trabalhos de demolição, apesar do congestionamento que se fornou no início da manhã.
Além disso, os agentes de trânsito monitoraram o deslocamento dos condutores e ajustaram bloqueios temporários conforme a necessidade, evitando congestionamentos significativos nas vias adjacentes.
"ESPERO QUE, AGORA, A GENTE SE SINTA MAIS SEGURO"
A demolição do Tijolinho trouxe um sentimento de alívio para comerciantes e trabalhadores da região central de Londrina. Para Esther de Oliveira, que é atendente em uma loja de roupas nas proximidades, a mudança representa uma esperança de ter mais segurança no dia a dia.
“Era sempre um medo passar por aqui, principalmente no começo da manhã e à noite, quando a movimentação é menor. A gente se sentia vulnerável, porque o prédio abandonado passava essa sensação de que alguma coisa perigosa podia acontecer, principalmente com as mulheres”, conta.
A atendente destaca que a presença constante de usuários de drogas no local gerava desconforto para quem transitava pela área. “Muitas vezes, eu descia do ônibus e já ficava apreensiva, olhando para os lados. Na hora de ir embora, a sensação era a mesma."
Com a remoção do edifício, Oliveira espera que o entorno se torne mais seguro e agradável. “Espero que, agora, a gente se sinta mais seguro para trabalhar e circular por aqui. Tomara que esse espaço seja aproveitado para algo bom”, diz.
A DEMOLIÇÃO DO "TIJOLINHO" A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA
Mirian Borges, que é cientista social e mestre em sociologia pela UEL (Universidade Estadual de Londrina), analisa a demolição do Motel Tijolinho a partir de uma base sociológica e destaca que a história urbana de Londrina sempre esteve marcada por processos de segregação social e espacial.
Segundo a pesquisadora, a cidade, inspirada no conceito de "cidade-jardim", foi planejada com uma estratificação que privilegia determinadas camadas sociais enquanto empurra outras para a marginalidade.
Essa divisão se reflete na dicotomia entre "normalidade" e "patologia", "desejável" e "indesejável", "mulheres castas" e "prostitutas", bem como entre as classes dominantes e as populares, conforme exemplifica Borges.
A demolição do Motel Tijolinho, portanto, conforme a pesquisadora, não é somente um episódio isolado, mas um reflexo desses processos históricos de marginalização que se repetem ao longo da história urbana de Londrina.
"A ação de destruir um espaço considerado 'indesejável' vai além da remoção física do imóvel, servindo como uma manifestação simbólica da exclusão de certos grupos e práticas sociais do espaço urbano oficial e 'aceitável'", pontua.
Borges argumenta que, ao longo das décadas, a cidade sempre foi marcada por uma constante tentativa de construção de uma "identidade idealizada", onde práticas sociais e espaços que não se encaixavam nesse modelo eram, muitas vezes, estigmatizados e, quando possível, apagados.
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