O Portal Bonde noticiou em janeiro que o adolescente se classificou na 27ª posição do certame da UEL e, por ser cotista de escola pública, assumiria uma das 17 vagas disponíveis da área escolhida. Ciência da Computação foi o segundo curso mais concorrido do vestibular, atrás apenas de Medicina. Com a oportunidade, Lorenzo agora frequenta o ensino superior e o ensino médio concomitantemente.
Em entrevista nesta terça-feira (11), o menino não escondeu a felicidade pela conquista. "Eu estava ansioso para o primeiro dia. Fiquei pensando como seriam as aulas e em quais laboratórios eu ficaria, porque já tinha ido visitar a área do curso algumas semanas antes. Quando cheguei, tinha um pessoal recepcionando os alunos novos na entrada", disse.
Animado, ele prestou atenção em cada detalhe das aulas introdutórias e relatou à reportagem o que mais gostou na experiência. "A primeira aula que tive foi de introdução à robótica. O professor contou um pouco da história e depois explicou como seriam as avaliações. A parte prática vai ser montar um robozinho. O que eu mais gostei é que ele falou que depois a gente vai poder controlá-lo por meio de um aplicativo ou site", explicou.
Em seguida, todos os alunos foram chamados para se apresentar. Nesse momento, de acordo com Lorenzo, os seus companheiros de sala ficaram surpresos com a revelação da sua idade e do fato de que ainda cursava o ensino médio. "Algumas meninas que estavam lá ficaram me perguntando se eu tinha 14 anos mesmo e outros ficaram me olhando depois. Aí o coordenador explicou que eu tinha passado na UEL e não podia assumir e por isso eles me ofereceram a vaga."
Portador de altas habilidades e superdotação, o adolescente não pretende parar de estudar e já faz planos para outras áreas que deseja conhecer e atrelar ao seu conhecimento.
"Fico muito feliz de saber o quanto eu vou poder aprender nesses quatro anos de curso. Vou poder usar esse aprendizado mais para frente, porque eu ainda quero fazer Ciências Biológicas na Unicamp [Universidade Estadual de Campinas] e juntar com esse conhecimento que vou ganhar para fazer uma pós-graduação que combine genética com a área crescente de IA [Inteligência Artificial]. Gostaria de ser pesquisar nessa área", almeja Lorenzo, destacando também que não pretende abreviar o ensino médio por causa das amizades que tem. "Eu fico muito grato pela oportunidade de poder fazer faculdade sem precisar deixar as minhas amigas na escola, porque eu gosto muito delas e quero me formar com elas no terceirão."
O fato de Lorenzo conseguir a aprovação na UEL, mas não assegurar a vaga deve-se a um ponto destacado pela universidade pública no edital do certame. De acordo com a Lei nº 9.394/1996 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, cada instituição tem autonomia para decidir os seus critérios de admissão. Como a UEL pede a conclusão do ensino médio em edital, concorrentes do adolescente poderiam questionar na justiça a "assunção irregular". Já na UniFil, o adolescente está na graduação como aluno especial e depois que concluir o ensino médio poderá solicitar a eliminação das disciplinas que cursar no ensino superior.
Eleazar Ferreira, reitor da faculdade, ressaltou a importância de dar oportunidades como essa a estudantes prodígio como Lorenzo. "Ficamos sensibilizados e empolgados com a capacidade dele, uma joia de Londrina que merece incentivo para ter formação sólida e realizar seus sonhos. A cidade discute a retenção de talentos e, assim, é nosso compromisso fazer mais pelos jovens londrinenses."
Ferreira também afirmou que leu as reportagens feitas pelo Grupo Folha sobre Lorenzo e, após a notícia da impossibilidade de entrada do adolescente na UEL, decidiu incentivá-lo com a bolsa. "Acompanhamos pelo Grupo Folha a trajetória do Lorenzo e decidimos abrir as portas da universidade para ele conviver num ambiente saudável e avançado de inovação e muita tecnologia. Procuramos a família e oferecemos a possibilidade de frequentar nossas graduações de Computação como aluno integrado às práticas."
Paula Coneglian, mãe de Lorenzo, destacou que os feitos do filho são motivo de orgulho para toda a família. Para ela, o menino é livre para decidir o que quer para o próprio futuro. "Ver os olhinhos dele brilhando é reconfortante. É uma experiência nova. Quando fomos tomar a decisão, ouvimos o que ele achava. Ele é o nosso relógio. Ficamos muito felizes por ver que ele está crescendo, encarando tudo com maturidade. Tomara que isso abra outras portas", refletiu.
Os movimentos, que podem parecer bruscos para um menino de apenas 14 anos, são amparados pelo apoio da família, que dá a garantia de sempre estar ao lado de Lorenzo. "A gente deixou claro que se ficar muito pesado, ele pode voltar atrás. Nós, como família, vamos acolhê-lo sem julgamentos e cobranças."