Londrina

Feira de empregos promove a inclusão de imigrantes em Londrina

24 out 2025 às 15:50

Ser imigrante significa, muitas vezes, deixar grande parte da sua história para trás em busca de melhores condições de vida. Mas construir uma nova história em outro lugar nem sempre é fácil, já que as barreiras existem, sejam elas relacionadas à língua ou até mesmo ao preconceito. 


E nessa construção de uma nova história, o emprego tem papel fundamental, já que é através dele que é possível começar a moldar uma nova vida em um país diferente. E é por isso que a Cáritas Arquidiocesana de Londrina organiza mais uma feira da empregabilidade voltada, principalmente, para imigrantes que estão em busca de uma oportunidade de trabalho. 



O evento aconteceu nesta sexta-feira (24), das 8h às 14h, no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Estado do Paraná), na região central de Londrina. Ao mesmo 30 imigrantes que desejam encontrar o primeiro emprego no país ou que estão em busca da recolocação profissional eram esperados. 


A coordenadora de gestão do Programa de Migração e Refúgio da Cáritas de Londrina Taís Patone explica que a feira acontece desde 2023 com ao menos três edições a cada ano. Quatro empresas foram convidadas para participar da feira, que pela primeira vez conta com o apoio da Fiep (Federação das Indústrias do Paraná), e que estavam oferecendo ao menos 70 vagas para contratação imediata. 


Na prática, o interessado faz o cadastro e já passa pela entrevista de emprego. Caso exista um interesse mútuo, ele já é encaminhado para uma segunda etapa, agora dentro da própria empresa, para formalizar a contratação. Além das empresas presentes, outras 659 vagas também estão disponíveis na Secretaria de Emprego, Trabalho e Renda nas mais diversas áreas, da indústria à prestação de serviços e comércio. 


Paton explica que a feira é voltada para quem vem de outro país, mas os brasileiros interessados também podem passar pelas entrevistas de emprego. A Cáritas Arquidiocesana atua em Londrina e em outros 15 municípios da região, sendo que em 2021 foi criado o Programa de Atendimento e Acompanhamento aos Migrantes, Refugiados e Apátridas, em parceria com a Secretária Municipal de Assistência Social, que atua principalmente no processo de documentação dos imigrantes que chegam ao país. 


Além disso, o programa também faz a ponte entre essa população e serviços nas áreas da Saúde, Assistência Social, Educação e até mesmo para o atendimento jurídico. Ela explica que também são ofertadas aulas de português em Londrina e em Rolândia. “A gente não se limita a documentação, nós fazemos toda essa articulação com a rede”, afirma. 


A feira, segundo ela, é uma forma de aproximar as empresas desses imigrantes que estão em busca de uma oportunidade de trabalho. A coordenadora relata que muitas empresas acreditam que a contratação de um imigrante é muito burocrática e difícil e, por isso, acabam não oportunizando a colocação de estrangeiros no mercado de trabalho. 


“As empresas que têm parceria com a gente tem outro olhar para o imigrante. Elas sabem que eles vêm para o Brasil em busca de uma nova oportunidade de vida e de trabalho. Eles vêm para trabalhar e não estão aqui para ocupar o espaço de ninguém, eles estão aqui para trabalhar e contribuir com a economia”, afirma.


Só neste ano, pelo menos 1,5 mil imigrantes passaram pelo atendimento da Cáritas apenas em Londrina. Até o fim do ano, o número deve passar dos 3 mil. Na cidade, as principais nacionalidades são: venezuelanos, angolanos, colombianos, argentinos e haitianos. 


Apesar do trabalho de acolhimento dos imigrantes, Taís Paton alerta que existe o risco de que o Programa de Migração e Refúgio seja encerrado a partir de 2026 por conta do corte orçamentário de quase R$ 17 milhões destinado à Assistência Social. Hoje, leva cerca de um mês para que os imigrantes consigam a documentação necessária para ter acesso aos serviços básicos; caso o programa seja descontinuado, o tempo de espera pode chegar a seis meses.


O importante é trabalhar


Com formação em engenharia voltada para a tecnologia da informação, Kenia Macias González, 39, é cubana e chegou em Londrina acompanhada do marido, dos dois filhos e da sogra há um ano. No país de origem, ela trabalhou com finanças e aeronáutica, mas agora busca uma oportunidade em qualquer área, sendo que a única exigência é um trabalho em horário comercial, das 8h às 17h, já que precisa ficar com os filhos. 



Ela disse que deixou o país por conta da situação econômica, já que até o acesso às necessidades básicas, como saúde e alimentação, é difícil, mesmo com toda a formação profissional. “O salário é muito baixo”, afirma. Segundo ela, a remuneração de um médico no país fica entre 3 e 4 mil pesos, mas uma lata de leite em pó chega a custar 2 mil pesos. “É impossível viver assim e com criança é ainda muito mais difícil”, explica, falando em um ‘portunhol’ fácil de compreender. 


Por isso, ela e o marido decidiram fazer uma poupança e vender alguns bens para deixar o país em busca de novas oportunidades. Após pesquisas na internet sobre as cidades mais tranquilas para morar no Brasil, acabou optando por Londrina, decisão da qual não se arrepende.


 “Estamos felizes de estar aqui”, afirma, dizendo que a única coisa que sente saudade do país é da mãe: “de resto, nada”. A adaptação vem sendo muito boa, segundo ela, já que o clima e a comida são parecidos, por exemplo. 


Depois da mudança da família para Londrina, outros parentes também vieram para cá e, pouco a pouco, vão reconstruindo a vida. Os filhos estão matriculados na escola e o marido trabalha de forma remota. Ela chegou a trabalhar em um shopping, mas como o turno era o da noite, era difícil conciliar com o cuidado com as crianças.


Ela admite que gostaria de encontrar uma oportunidade de trabalho nas áreas de finanças ou de tecnologia, mas que qualquer trabalho é bem-vindo. “O importante é trabalhar”, afirma. A longo prazo, a engenheira afirma que o objetivo é validar o diploma para conseguir oportunidades profissionais melhores e se matricular em um curso de português. 


Seguir na engenharia mecânica


O engenheiro mecânico Cezar Castañera, 23, é da Venezuela e chegou em Londrina há dois meses. Ele também deixou o país por conta da situação econômica, já que são poucas oportunidades de trabalho e com uma remuneração muito abaixo do necessário para viver. Segundo ele, ao fazer uma conversão para o real, era como se recebesse por mês cerca de R$ 200 para custear todas as despesas.



Além disso, a vontade do jovem é seguir estudando na área de formação, o que não era possível na Venezuela. Em Londrina, ele trabalha como mecânico, mas a vontade é de encontrar outras oportunidades, já que se considera uma pessoa que tem facilidade para aprender. 


Castañera admite que não é fácil viver em um país estrangeiro, já que se sente muito sozinho. “É ruim, mas com Deus a gente pode tudo”, afirma. Para o futuro, ele deseja validar o diploma e seguir estudando na área de desenho de peças mecânica, especialidade que mais gosta, e trazer a família para cá caso a situação no país não melhore.


Violência no Haiti


Joseph Laneus, 62, está há três anos no Brasil e a cinco meses em Londrina. No Haiti, trabalhava como eletricista, mas precisou deixar o país por conta da violência e da falta de segurança. No Brasil, ele já passou por Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e trabalhou na área de limpeza e como empacotador em um supermercado, mas busca uma oportunidade em qualquer área. 



Segundo idioma


Alice Teixeira, 22, e Ana Carolina Doin, 47, são analistas de recrutamento e seleção da Atos, uma empresa de tecnologia e que possuem seis vagas para contratação imediata e outras para cadastro de reserva na área de suporte ao cliente. Para essa vaga, uma das exigências é a necessidade de um segundo idioma, o que vem de encontro com o perfil dos imigrantes que vivem em Londrina. No momento, o idioma mais buscado é o espanhol.


Teixeira afirma que, até o final da feira, a expectativa é de entrevistar ao menos 10 candidatos que, se aprovados na primeira etapa, devem passar por uma reunião virtual com a equipe de gestão. Doin explica que oportunizar postos de trabalho para imigrantes faz parte da política da empresa, sendo que o estrangeiro passa por um período de treinamento para desenvolver alguma habilidade que ele ainda não tenha, facilitando a inclusão. 


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